31.12.18

MODOS DE LER LLANSOL


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Para corresponder ao interesse manifestado por várias pessoas, no sentido de que o Espaço Llansol, além das sessões habituais, organize um «curso livre» para ler e pensar o texto de Maria Gabriela Llansol, resolvemos ir ao encontro desse desejo e iniciar a partir de Janeiro de 2019, com um pequeno grupo de 15/20 pessoas, o primeiro curso «Modos de Ler Llansol» (orientado por Maria Etelvina Santos). O objectivo é o de iluminar o texto llansoliano, tanto para leitores já familiarizados com ele como para aqueles que desejem iniciar a sua leitura – portanto, concebido como troca de saberes, sem hierarquias, e fundado no respeito pela palavra, na vontade de conhecer, na procura do júbilo e na alegria da leitura. 
Embora o grupo inicial já se encontre neste momento completo, estamos abertos a futuras inscrições, caso alguns de vós manifestem interesse e disponibilidade.
As sessões decorrem de Janeiro a Junho, duas vezes por mês, num total de 12 sessões / 24 horas.

26.12.18

NA LINHA DO TEMPO...



17.12.18

«O LIVRO DOS DIAS», ou «O LIVRO DE TODO-O-SABER»
O Almanaque Llansol e a tradição dos almanaques

Apresentámos no passado sábado a mais recente edição do Espaço Llansol, Os Rostos do Tempo. Almanaque Llansol, situando-o na já longa e diversa tradição desta forma de livro no Ocidente e no mundo árabe, entre o sapiencial, o prático e o poético. Disso nos falou a Profª Vanda Anastácio, que percorreu a história do Almanaque, desde as suas origens até este nosso novo exemplo llansoliano, abordando aspectos tão variados como a problemática editorial dos almanaques depois da invenção da imprensa, as estratégias de relação com os públicos ao longo do tempo, as orientações dos almanaques, mais práticas, mais científicas ou mesmo ideológicas e de classe, e a sua orientação mais literária a partir do século XVIII, como receptáculo de toda a espécie de literatura, com o aparecimento dos chamados «Almanaques das Musas», que, oriundos de França, depressa foram acolhidos na Alemanha ou na Holanda, e marcaram também presença no século XIX português. É exactamente de finais deste século, de 1896, um dos textos canónicos sobre o almanaque, esse «livro de todo-o-saber», a introdução ao Almanaque Encyclopédico desse ano por Eça de Queirós, a que a Profª Vanda Anastácio deu significativo destaque, lendo algumas páginas memoráveis dessa bela peça de prosa de Eça.
João Barrento com a Profª Vanda Anastácio




O público participou desta vez activamente, e não apenas com algumas questões pertinentes que surgiram e levaram a nossa convidada a falar das diversas formas de publicações que podemos encarar como «livros dos dias» – o almanaque (o perpétuo ou o anual), a agenda, o anuário, o diário...
As habituais leituras de textos de Maria Gabriela Llansol, desta vez centrados na temática do tempo, não foram feitas por actores ou actrizes, mas pelo próprio público, a partir de faixas com fragmentos das obras de Llansol sorteados aleatoriamente, e que transcrevemos a seguir para quem não os pôde ouvir. A sequência de quarenta fragmentos permite vislumbrar sucintamente os muitos rostos que o tempo assume nesta escrita: do tempo dos dias ao da História ou do Ser, do instante vivido ao passado recuperado ou ao futuro vislumbrado, do tempo da vida ao tempo da morte... Esta viagem pelos fragmentos lidos permitiu-nos, como Llansol escreve numa das suas agendas, vivenciar uma «participação mental na elasticidade física do tempo». Também o Almanaque Llansol que apresentámos propicia, de uma forma mais alargada, e ao longo de todo o ano, uma tal viagem pelos tempos – os da Autora ou os de qualquer um dos seus leitores.





Llansol sobre o tempo: fragmentos lidos

15.12.18

ALL'OMBRA DEL CHIARO DI LUNA
Uma Antologia llansoliana em Itália

Acaba de sair em italiano a antologia de textos de Maria Gabriela Llansol All'ombra del chiaro di luna, com chancela das edições Pagine d'arte (www.paginedarte.ch), numa coleccção nova («Fiammiferi» = Fósforos) recentemente inaugurada. A selecção foi feita por João Barrento, que também assina a nota final («Il frammento completo»), a tradução é da escritora italiana Paola d'Agostini, que há anos vive em Lisboa, e o livro traz ainda uma introdução do poeta Flavio Ermini (intitulada «Il giorno presente»).
[O índice da antologia]

3.12.18

O ALMANAQUE LLANSOL


O tempo – os tempos, do instante mais breve e intenso ao grande tempo da História e do Ser – assume um lugar muito particular na Obra de Maria Gabriela Llansol. E também a reflexão sobre o nosso estar aqui, sobre os significados do insignificante, sobre a própria escrita, constitui algo de intrinsecamente presente em qualquer página desta autora. Estas duas vertentes, e tantas outras desta escrita sem limites, vêm ter connosco a cada dia deste «Livro dos dias» que é o almanaque Llansol que acabámos de organizar em edição portuguesa, com a nossa amiga austríaca Ilse Pollack, que o preparou há poucos anos para a edição alemã, e que apresentaremos no dia 15 de Dezembro, às 16 horas, no Espaço Llansol, com a participação da Profª Vanda Anastácio, que nos falará da história dos almanaques em Portugal.

Os Rostos do Tempo é um almanaque perpétuo, insere-se numa tradição do almanaque que entre nós vem do século XIV e que teve como pontos altos, entre outros, o Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto (1496) ou o Almanaque Enciclopédico de 1896, com um histórico prefácio de Eça de Queiroz, e chega até ao conhecido Borda d'Água.
«Os almanaques são geralmente feitos de provérbios, ditos, máximas, pelos quais nos orientamos, ou que nos desafiam a contradizê-los; e isso acontece também com este. Com a diferença de que neste caso eles estão intimamente ligados aos lugares de vida e de escrita da autora: Lisboa ou o «não-lugar» de Herbais, Bruges, lugar de beguinas, ou Alpedrinha, lugar da infância, para apenas mencionar alguns. E neste contexto surgem também as figuras, nomes conhecidos e desconhecidos da História que são reinventados nos textos de Llansol, acolhidos em vários livros onde formam constelações, numa coexistência que supera todas as barreiras de tempo e de espaço.
E tudo isto entrecortado por reflexões sobre a escrita, leituras e gostos pessoais, os animais da casa, sobretudo os gatos, e, enfim, também algumas afinidades especificamente «femininas», muito embora o texto, para esta autora, não tenha sexo.» (Ilse Pollack, da Introdução ao Almanaque Llansol).

 «Do tempo da História ao tempo do Há, atravessando o amplo mosaico dos tempos do quotidiano, o percurso de Llansol parece desenvolver-se em três momentos determinantes e não estanques: 1) o de um tempo-arquivo de visões alternativas da História, que logo ganha forma de memória do humano em tensão com a trama dos poderes, passando por 2) um tempo-do-presente, da imanência do acontecer e do dessassossego da busca de uma existência sem memória, até 3) ao tempo fora do tempo, tempo do Há, da grande melodia do Ser.» (João Barrento, da Introdução).