23.2.20

Antologia italiana

ECOS DE LLANSOL EM ITÁLIA

A edição italiana da antologia de textos de Maria Gabriela Llansol A l'Ombra dell Chiaro di Luna (organização do Espaço Llansol, tradução de Paola d'Agostino, edição de Pagine d'Arte) vai deixando rasto em Itália. O último número da revista Menabò-Quadrimestrale internazionale di cultura poetica e letteraria (de Lecce) traz um interessante artigo da poeta e crítica italiana Rosa Pierno sobre a escrita de Maria Gabriela Llansol, intitulado «Quando la poesia è interminabile», de que destacamos a seguinte passagem inicial:
«A antologia é um extraordinário repositório de peças de escrita que vão do registo autobiográfico ao filosófico, da escrita como forma de meditação ao diário privado. São formas de escrita que se impõem, porque subvertem totalmente os clássicos atributos textuais. Continuamos a utilizar tais categorias codificadas apenas para forçar o acelerador, marcando a distância entre uma literatura tradicional e uma literatura que infringe os códigos. A autora escreve um livro interminável, que flui de uma página a outra e de um livro a outro sem quebrar a continuidade.»


21.2.20

AS ESCOLAS DE LLANSOL  
FORAM A VILA VELHA DE RÓDÃO

A Biblioteca Municipal de Vila Velha de Ródão recebeu no sábado, 8 de Fevereiro, a professora Albertina Pena, da Direcção do Espaço Llansol, que apresentou aí a nossa última edição, o livro que reune documentação e imagens sobre o trabalho desenvolvido por Llansol, Augusto Joaquim e amigos nas duas escolas que fundaram na Bélgica durante os anos do exílio:
A Albertina, que passou algum tempo a organizar no Espaço Llansol todo este sector do espólio, expôs para o público da Biblioteca os princípios orientadores destas escolas singulares, a sua pedagogia integradora de crianças, pais e professores, numa «comunidade do incomum», como diz o título da sua introdução ao livro. E mostrou um video que documenta o quotidiano das escolas, os processos pedagógicos e os trabalhos das crianças.
 Albertina Pena comenta o video sobre as escolas


9.2.20

LLANSOL NA BIBLIOTECA

No passado sábado a Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa, viveu todo um dia sob o signo de Llansol, da sua escrita, da sua vida, dos mundos que absorveu e transformou em linguagem. Com um público particularmente interessado e participativo, João Barrento falou dos modos particulares da sua escrita e da sua experiência singular do mundo, salientando os caminhos seguidos pela «escrevente» que um dia, constatando que «não tem parâmetros», os busca e reinventa na sua prática de «escreviver», em casas que serão uma espécie de Arca de Noé da escrita, cheias de «pedaços simples de textos livres» (hoje no espólio do Espaço Llansol) não destinados a ser livros, mas que geraram muitos. E fomos percebendo como, desde início, esta escrita se transforma numa corrente contínua que, «em país estrangeiro meu» (que foi tanto o Portugal da emigração interior da escritora como a Bélgica de vinte anos de exílio), deixa para trás «os factos dos jornais» e a tradição realista e ganha a «habilidade de ver mais e de modo mais exacto e percutente».
Depois, Maria Etelvina Santos falaria dos modos de ler o texto de Llansol – ler lendo, cantando a leitura, «sem nunca chegar ao fim de um livro» –, amplificando-o.  De facto, como ouvimos depois à tarde, ler é aqui um trabalho de «levantar» a semente lançada à terra, que, por acção da leitura viva do legente, dará frutos num outro húmus, o do corpo singular de quem lê. Ler é então aceitar o desafio colocado pelo texto, qualquer texto de Llansol, para alargar ou inverter a orientação dos nossos «horizontes de expectativa» e desenvolver novas estratégias de leitura – sem estratégias previamente definidas, mas seguindo e procurando entender os trilhos abertos pela escrita, com os seus enigmas, as suas inovações, os seus ritmos próprios, que não são os da narrativa convencional.
As leituras da tarde, por três estudantes da Escola Superior de Teatro e Cinema — A Andreia Valles, a Vera Santana e a Flávia Lopes – vieram confirmar uma vez mais que este Texto pede leitura em voz alta, que precisa da Voz para se tornar mais actuante. Os textos lidos trouxeram um largo espectro de temas e tópicos centrais nesta escrita: o nascimento «na sequência de um ritmo», as «casas de escrever», os seus meandros e o seu estatuto de verdadeiro «Lugar» oposto ao mundo, «a finalidade de ler», a «impostura da língua» e a sua superação por uma escrita íntegra, sem compromissos, o «terceiro sexo» e a des-hierarquização do mundo do Vivo, as pedras-chave da construção destes textos, a «cena fulgor», o «ponto voraz» e a «figura»... Para concluir com uma frase que é quase um programa de vida: «Pode tirar-se da existência muito mais do que se crê. Eu diria mesmo, pode tirar-se da existência o que dela se lê».



Finalmente, vimos ainda, de manhã e à tarde, alguns vídeos que fomos recuperar de outros momentos, já distantes: o primeiro mostrava todo o processo de recuperação, organização e tratamento do espólio de Maria Gabriela Llansol, e os seus lugares de acolhimento no Espaço Llansol. Os três pequenos videos da tarde, que voltamos a dar a ver, trazem-nos instantâneos diferentes do universo Llansol: o desejo de escrever («Um vulcão de energia doce»), «A vocação do exílio» e o lugar do Azul («As sete origens do azul», na voz de Llansol).

«Um vulcão de energia doce: Não encontro razão para o desejo de escrever, ter alma. 
Hoje, não queria ir dormir, simplesmente para durar...»

«Quem parte daqui? Quem regressa? 
— Nas entrelinhas, a vocação do exílio.»

«O azul não tem origem [...]
Ninguém pede ao miosótis que seja mais azul do que o azul do miosótis.»

2.2.20

SINTRA REVISITADA


O dia de ontem foi de regresso a Sintra, com a apresentação do livro de inéditos de Maria Garbriela Llansol Sintra, em Passo de Pensamento, numa edição da Feitoria dos Livros, chancela da Colares Editora, na colecção «Viagens e Literatura», que conta já com catorze títulos, entre outros de Eça de Queiroz, Stefan Zweig, Verlaine, Virginia Woolf, Rilke, Ramalho Ortigão ou Teixeira-Gomes.
A editora, Maria Rolim, levou-nos, depois de uma breve apresentação do tema e da colecção por João Barrento (que prefaciou o livro), por uma viagem no tempo, evocando com sensibilidade o percurso comum de editora e autora desde o regresso de Llansol da Bélgica e da edição do primeiro livro nas Edições Rolim, Um Falcão no Punho, em 1985, até aos dois volumes de Lisboaleipzig (1994), com que culminaria uma relação editorial e pessoal de dez anos. Entre as duas datas nasceram dez livros de M. G. Llansol e muitas traduções suas, para as colecções da Colares Editora. Maria Rolim lembrou ainda as primeiras traduções francesas de Llansol, na sequência do evento das «Belles Étrangères» em Paris (1988), em grande parte devidas ao empenho da editora portuguesa, na prestigiada Gallimard parisiense. E, last not least, relembrou as andanças comuns pelos lugares de Colares, Sintra, Azenhas-do-Mar (aqui, muitas vezes com Vergílio Ferreira), ou o Cabo da Roca, o Cabo Espichel (lugar central em Causa Amante), o Alentejo e Paris – o que daria matéria para mais um volume da colecção da Feitoria dos Livros!

O livro foi depois mais particularmente comentado por Maria Etelvina Santos, de cuja intervenção deixamos aqui duas passagens:
            As três partes em que se subdivide o livro são viagens independentes que, no entanto, cruzam os seus caminhos. O texto inicial, o pórtico, abre para toda a Obra de Llansol, enquanto nas outras duas partes, em «Sintra, a Montanhesa» e na «Geografia de Colares», encontraremos o testemunho de cada uma das paisagens recriadas e vividas por Llansol nesses lugares. 
           Colares é, sobretudo, o desenho dos caminhos percorridos a partir da casa – Toki Alai, o «refúgio» –, é a «serenidade» e «o espaço das ondas esculturais do silêncio» (p.72). É também as árvores, o chão de caruma e areia, o pinhal, as luzes acesas nos beirais das casas, à noite; é o lugar onde surgem, a espreitar a escrita, figuras como o poeta Hölderlin. Mas Colares é também o caminho para a Praia das Maçãs e o mar, a «profunda liberdade» que tudo isso inspira e, como diz Llansol, «a consolação de poder repetir tudo isso no dia seguinte» (p.74). 
          Se não foi fácil para Llansol abandonar essa «intensidade estimulante de Colares e do seu mundo» (p.80), a casa de Sintra, a velha Estalagem da Raposa, parecia empenhada em fazer esquecer aquele outro lugar de encruzilhadas. A partir de Abril de 1994, na primeira manhã em Sintra, Llansol anota: «Esta manhã – de movimentos quebrados – senti que podia entrar na profunda nostalgia de Toki Alai. (...) Ouço passar as caleches, mas o que me desperta desta modorra descritiva é o ruído das patas dos cavalos. Um animal passou, trouxe-me a alegria de um animal presente na rua – mesmo de passagem. (...) O meu quarto aqui está de azul (...). Sinto-me na casa de um Poeta – eu própria – que está a escrever fora de mim, de si». (13 de Abril 1994, Caderno 1.40). E a casa de Sintra foi a escolha certa. A partir dessa casa sucedem-se os encontros diários com a serra e com as árvores, como se fossem figuras ou «lugares de troca» (p.39).
[...]
Como ontem ouvi dizer a uma voz sábia, «em todos nós existe pó das estrelas». Ou, como leio hoje neste livro, «qualquer paisagem são restos antigos» (p. 56). Num corpo que escreve, como num corpo que lê, vibram muitas experiências de outros. Por isso, como diz Llansol, «texto que não me faça vibrar não é escrita, não há nele nenhuma companhia invisível que venha testemunhar que esse corpo existe. (...) Mas por que será que somos tão poucos a concluir o evidente?» 
A presença de Llansol veio, mais viva, no final da tarde, com a actriz Margarida Carpinteiro a emprestar a sua voz aos seus textos de Colares e Sintra, a que o video mostrado (e que se pode rever aqui) deu corpo de imagem e de som.


E do público chegou ainda outra voz – a de Adriana Jones, Presidente da Associação de Defesa do Património de Sintra –, que lembrou o papel decisivo de Maria Gabriela Llansol, da sua presença e da sua escrita, nas movimentações que em 2001 impediram a destruição dos «Estudos Gerais das Árvores», a Volta do Duche em Sintra, pelos poderes locais de então.


1.2.20

«DIAS DE SABER»
Com Llansol em Vila Velha de Ródão

No próximo sábado, dia 8 de Fevereiro, a partir das 15h, Albertina Pena, da Direcção do Espaço Llansol, falará do nosso último livro, A Escola dos Contra-grupos, no âmbito do projecto da Biblioteca de Vila Velha de Ródão intitulado «Dias de Saber». A Albertina, professora e co-responsável pela organização desse livro sobre as escolas alternativas do exílio de M. G. Llansol na Bélgica, comentará essa experiência a partir da frase de Llansol «Os dias em que nada se aprende fazem parte do saber» (e de um video que mostrará).

Com ela estará em Vila Velha de Ródão a psicóloga e poeta Marta Chaves, atenta leitora de Llansol, que abordará temas ligados à situação actual da educação, à possibilidade da criação do gosto pela escola e à necessidade do regresso à alegria.
Inscrições (gratuitas) abertas até 4 de Fevereiro, pelo e-mail: biblioteca@cm-vvrodao.pt.