20.9.19

XI JORNADAS LLANSOLIANAS
«O LITORAL DO MUNDO»

Damos já a conhecer o programa das Décimas-primeiras Jornadas Llansolianas, que terão lugar em 12 e 13 de Outubro no Espaço Llansol. Este ano dedicamos as Jornadas à matéria portuguesa na Obra de Maria Gabriela Llansol, o que tanto pode significar a sua desconstrução de vários momentos e filões na História portuguesa (o «caminho da água» dos Descobrimentos, os mitos do Encoberto ou dos Lusíadas, os tempos de chumbo do salazarismo), como os caminhos singulares da revisão ou da leitura de algumas figuras dessa história, política, literária, cultural (Camões e D. Sebastião, Pessoa, Vergílio Ferreira ou Jorge de Sena). Estas Jornadas contam, como é habitual, com a participação de um núcleo significativo de «llansolianos/as» nacionais e estrangeiros, como se pode ver pelo programa que se segue.
E como também vem sendo habitual, teremos dois momentos de apresentação de livros novos: a nova edição de Da Sebe ao Ser, com inéditos (Assírio & Alvim) e o volume que documenta as Jornadas de 2018, dedicadas a leituras de Llansol por outros escritores («Eu leio assim este Texto»: Escritores lêem Llansol, da Mariposa Azual/Espaço Llansol, o número 17 da colecção «Rio da Escrita»). E dois cadernos que ilustram a temática destas Jornadas: O Litoral do Mundo: o «caminho da água» e a matéria portuguesa na Obra de Llansol e «O timbre da estrela»: Contos juvenis de M. G. Llansol.

15.9.19

O FULGOR, O SEGREDO, A MÚSICA


No regresso às actividdes do Espaço Llansol, no último sábado, reunimos na Casa de Julho e Agosto três olhares diversamente retrospectivos sobre a Obra e a figura de Maria Gabriela Llansol.
Com João Maria Mendes (e um pequeno video que montámos com fotografias do arquivo) regressámos a Lovaina e aos anos 60-70, a um ambiente cultural e a uma época decisivos para a grande viragem que se operou a partir daí na Obra da «Gabi-escritora», como ela é designada neste livro do compagnon de route dela e de Augusto Joaquim nas aventuras político-ideológicas, culturais e pedagógicas desses anos do exílio belga. Dessa viragem e da originalidade de toda uma Obra fala também a parte mais interpretativa do livro, fornecendo pontos de vista muito inovadores e produtivos para a leitura futura dos livros desta autora.
In illo tempore: Lovaina, anos 60-70

O segundo livro apresentado reune tudo o que Eduardo Prado Coelho escreveu sobre Llansol (em ensaios, crónicas, críticas, diários e correspondência – incluindo as cartas de Llansol) entre os anos de 1978 e 2006. Tratou-se, como foi destacado na sessão de sábado, de uma relação a vários títulos ímpar entre escritor e crítico, não apenas intelectual, mas ao longo dos anos claramente afectiva e empática – entre duas naturezas tão diferentes, mas que se encontravam no deslumbramento comum com as coisas do mundo, no júbilo de viver que, no fundo, guiou estas duas vidas de escrita. Os girassóis, flores preferidas do Eduardo, em cima da mesa falavam disso...

 Finalmente, Maria Etelvina Santos comentou o livro de João Barrento, que, também ele, condensa uma viagem de dez anos pelos meandros, não já apenas dos livros, mas de todo o imenso espólio de Llansol, com derivas para as mais diversas áreas deste território sem fim: ensaios de fundo sobre temas e figuras, incursões por zonas pouco conhecidas (os desenhos, a poesia, os cafés, as andanças por Colares e Sintra), cruzamentos im-prováveis e surpreendentes (com escritores, pensadores, cineastas, artistas...). Como diz a «Carta de abertura» da Maria Gabriela reproduzida à entrada de mais este volume de «escritos llansolianos», o encontro do leitor (legente?) com a autora (escrevente!) dá-se provavelmente porque ambos buscam, para lá da «impostura da língua», um qualquer «lugar primordial» deste universo único.


9.9.19

DA SEBE AO SER EM NOVA EDIÇÃO


Acaba de sair, em edição de Assírio & Alvim, a nova edição de Da Sebe ao Ser, há muito esgotado. Esta nova edição acrescenta à de 1988 um conjunto significativo de inéditos extraídos dos cadernos de Maria Gabriela Llansol, e provenientes da fase de escrita deste livro que veicula uma leitura escrita da história de Portugal e do seu fatídico «caminho da água».
Na próximas Jornadas Llansolianas, em Outubro, esta nova edição será apresentada e comentada por António Guerreiro.

2.9.19

TRÊS LIVROS, TRÊS OLHARES SOBRE LLANSOL

Retomamos as actividades do Espaço Llansol no sábado, 14 de Setembro, pelas 17 horas, com a apresentação simultânea de três novos livros, que representam três olhares sobre o universo Llansol, três leituras, diversas e igualmente estimulantes, de toda a sua Obra: de João Barrento (dez anos de escrita sobre Llansol), Eduardo Prado Coelho (toda a sua escrita sobre esta Obra, entre 1985 e 2007, correspondência com LLansol, excertos de diários) e João Maria Mendes (um livro de síntese que abre com a evocação da sua relação com «Gabi» e Augusto nos anos setenta, do exílio de Lovaina – que documentaremos num video –, e continua com uma interpretação global desta escrita).
Contamos, para as apresentações em diálogo, com a presença de João Maria Mendes, Maria Etelvina Santos e João Barrento.


Comparado com o meu anterior conjunto de «escritos llansolianos», publicado nesta colecção (Na Dobra do Mundo, 2008), este será porventura um livro mais vivo do que esse primeiro, e sobretudo mais revelador do amplo espectro de relações que se podem tecer a partir desta Obra – com temáticas tantas vezes inesperadas, com outros autores (poetas, ficcionistas, filósofos, místicos...), com domínios extraliterários (a música, as artes visuais, a iconografia, o cinema), com lugares e tempos de vida e de escrita (a Lisboa da adolescência e juventude, a Bélgica do exílio, os cafés, as deambulações por Colares e Sintra).
J. B.


Os textos de Eduardo Prado Coelho sobre Llansol, ou os simples registos fugazes sobre ela nos Diários, pequenas intuições na correspondência, lançam luz, luzes de vária natureza, sobre a pretensa «sombra» desses textos, por vezes com focos de uma grande intensidade. Por exemplo, quando comenta: «Há textos assim: dizem de um modo tão exacto e portentoso aquilo que nos parece evidente depois de os termos lido que sentimos por um instante que não deveríamos fazer mais nada senão o que eles dizem».
E conclui, noutro lugar: «Daí que, às portas do paraíso, Maria Gabriela Llansol diga a Vergílio Ferreira o que qualquer de nós poderá dizer ao leitor futuro de Llansol (e não se pode ler Maria Gabriela Llansol sem assumir a leitura como uma leitura sempre futura, uma leitura por vir): não há segredo, o único segredo é entrar».


 De que me ocupo neste escrito? Num primeiro momento revisito a genealogia da Obra da autora e descrevo-a como sensacionista/intuicionista, sempre confrontada com a memória e a cultura acumuladas na «Casa da Sabedoria». Num segundo momento recordo o que a levou a afastar-se da narratividade dependente da verosimilhança e a adoptar uma textualidade transgressiva... Um terceiro momento é uma reflexão sobre algumas ideias-fortes do glossário llansoliano... Num quarto momento defendo que a Obra llansoliana explora quatro registos de fantástico que herda de um maravilhoso verdadeiro neo-renascentista, e que são, nela, idiossincráticos geradores de texto. Finalmente, num quinto momento, aproximo a composição oficinal dos seus textos e o trabalho do sonho, tal como Freud o descreveu em a Interpretação dos Sonhos...
J. M. M.