14.7.13

O FAUSTO DE GOETHE/SOKUROV
E O UNIVERSO LLANSOL

Nas duas últimas sessões da Letra E, em 6 e 13 de Julho (as últimas antes das férias de Verão), levámos a cabo mais um «encontro inesperado do diverso», como tantas vezes tem acontecido no último ano e meio, desde que inaugurámos este espaço público em 28 de Janeiro de 2012.

Desta vez, o centro das leituras, das conversas e discussões, muito animadas por todos os interessados que vieram à Letra E, foi o assunto do mito de Fausto, recentemente reavivado pela força enigmática e por vezes avassaladora que irradia do último filme do russo Aleksandr Sokurov, Fausto, que encerra a tetralogia do poder, concebida e realizada por este grande cineasta com os filmes Moloch (1999, sobre Hitler), Taurus (2001, sobre Lenine) e O Sol (2005, sobre o imperador Hirohito do Japão); e, a fechar, o desvio, um filme subtilmente concebido contra as tramas do poder e trazendo a primeiro plano a força do desejo, que é este Fausto, de 2011.

No sábado, dia 6 de Julho, os actores Diogo Dória, Guilherme Mendonça e Elsa Bruxelas leram cenas, escolhidas em função do filme, da obra original de onde parte Sokurov, o Fausto de Goethe, na tradução de João Barrento (Relógio d'Água, 1999, 2ª ed. 2013, com muitas dezenas de pinturas de Ilda David', algumas das quais expostas na Letra E nestes dias). Esta primeira sessão, em que também se comentou e discutiu a matéria mítica e literária de Fausto, preparou a segunda, em que visionámos o filme de Sokurov, procurando encontrar linhas de ligação (surpreendentemente, ou não, muitas e as mais diversas) ao universo de Maria Gabriela Llansol – que, como testemunham alguns dos livros expostos, provenientes da sua biblioteca, já se interessara por Goethe, e lera o Fausto na versão de Gerard de Nerval, a correspondência, a poesia, nos anos oitenta, ainda na Bélgica.

A introdução de João Barrento ao caderno que, como vem sendo hábito, fizemos e distribuímos, com cenas do Fausto, pinturas de Ilda David' e fotogramas do filme (e que se pode ler ou descarregar abaixo), faz uma síntese de alguns aspectos essenciais do filme e tenta assinalar alguns dos nós por onde poderá passar mais este «encontro inesperado do diverso».