24.2.16

LLANSOL E RAIMUNDO LLULL:
Um manifesto político

Há um texto de Maria Gabriela Llansol, publicado em 1991 na revista Vértice e incluído no primeiro volume de Lisboaleipzig (O Encontro Inesperado do Diverso) que pode ser lido como um comentário ao Livro do Amigo e do Amado, do místico catalão Raimundo Llull, mas também como um poderoso manifesto político da autora da «Geografia de Rebeldes».


Esse texto preenche agora o Caderno de Leituras nº 43, uma edição gratuita distribuída em formato digital pela editora brasileira Chão da Feira.
Se eventualmente não conhece o «Diálogo com Llull», pode lê-lo clicando na ligação que se segue e descarregando o caderno na página da editora, aqui: http://chaodafeira.com/cadernos/dialogo-com-lull/

16.2.16

LLANSOL E O «ESPAÇO» NA ALAGAMARES-TV

A Alagamares-TV, um canal local da Associação Cultural Alagamares, esteve no Espaço Llansol e fez aí uma reportagem sobre a figura de Maria Gabriela Llansol e o nosso trabalho.
Pode ver-se neste vídeo (e também no MEO KANAL, com o código 499383):



8.2.16

ENCONTROS IMPROVÁVEIS:
A fotografia e a escrita

A fotógrafa Teresa Huertas tem-nos proporcionado, discretamente, «encontros improváveis» de grande intensidade, beleza e troca verdadeira com a escrita e o pensamento imagético de Maria Gabriela Llansol. Primeiro, em 2013, no nosso espaço da «Letra E», com a exposição Lava Walks, «paisagens com figura» (a do próprio corpo da fotógrafa) nos glaciares da Islândia. Agora, com o «exercício melancólico» (que temos de entender no sentido benjaminiano: que destrói para ganhar sentidos novos a partir das ruínas) que intitulou Aparições e Desaparecimentos, volta a aproximar-se, de forma não deliberada, mas inequívoca, dos temas llansolianos do olhar e da figura, da memória e do esquecimento. Foi o que puderam constatar os que no passado sábado encheram a Galeria Diferença, em Lisboa, onde Teresa Huertas mostrou as suas fotografias e conversou sobre esta sua experiência com João Barrento.


Subjacente a este seu trabalho de restituição/emancipação/amplificação de uma série de rostos, «quase-retratos», está a ideia de «devolver uma imagem», como lhe chama Georges Didi-Huberman num texto recente (em Pensar a imagem, Belo Horizonte, Ed. Autêntica, 2015) em que aborda este tipo de trabalho com as imagens, visando libertá-las do suporte e do lugar institucionais estáticos para as trazer de novo à luz, ao olhar comum – para «instituir restos» esquecidos ou censurados. Este trabalho de restituição, que corresponde exactamente ao da génese das «figuras» llansolianas, implica, dizia já Derrida em La vérité en peinture (um livro de 1978), uma ética da dívida (a todos nós, sujeitos e objectos do olhar perante os rostos emancipados do seu limbo) e do dom (a dádiva do dar a ver de novo o que, por razões diversas, ficou escondido ou soterrado).
Ao «profanar» – pela sua fragmentação, que é igualmente uma devolução à vida – um objecto aurático original (uma fotografia de grupo, e de estúdio, de um casamento há quase um século), a fotógrafa restitui o que era da esfera quase-sacra do museu à esfera profana que é de todos e transforma o que era da ordem do gregário e cultual em «singularidades operativas» (neste caso, rostos que agem sobre quem os olha). A «profanação» é, neste sentido que lhe dá Giorgio Agamben, uma emancipação e uma restituição ao uso livre. Esta «profanação» resulta, no trabalho de Teresa Huertas e de Llansol, num processo alquímico que de pessoas/personagens faz figuras: arranca-as a um limbo quase indiscernível ou intocável para as trazer de novo à luz – uma luz que pode ser baça e opaca, mas que por isso mesmo vem mais carregada de enigma e de promessa.
No texto que abre o caderno que fizemos para esta sessão, Teresa Huertas explica, em síntese, este seu «exercício» em que trabalha uma matéria «sensível e sedutora, misteriosa e fantasmática»:
O encontro com uma imagem fotográfica, que integra um velho álbum de família depositado num arquivo museológico, foi o pretexto para um exercício que questiona a Fotografia enquanto instrumento de representação e a convoca como estética da ruína. Trata-se de uma prova de estúdio que regista um retrato de grupo numa cerimónia matrimonial na segunda década do século XX. O cliché cumpre a primeira função popular do medium: perenizar acontecimentos importantes dos indivíduos no seio familiar ou num grupo (Sontag), não aspirando a qualquer intenção mais elevada. 

Se nos perguntarmos quais são os elos de ligação desta experiência singular com a Obra de Llansol e o seu mundo, facilmente constatamos que esses elos são vários, como deixa claro o texto de João Barrento que fecha o caderno: «o lugar da imagem, do rosto e da figura (que não pode deixar de ser rosto próprio), o papel da memória (e do esquecimento) no processo criativo de Llansol, que é também um trabalho sobre ruínas – da História e da existência, da própria e da humana em geral – com vista a salvar delas um qualquer resto luminoso, uma restante vida…»







 

O resto está, com muitos fragmentos inéditos de Maria Gabriela Llansol sobre «Rosto | Figura | Retrato | Olhar», no caderno que intitulámos ROSTOS: Aparições | Desaparecimentos, do qual Maria Etelvina Santos e Helena Alves leram uma sequência de textos.
E aqui ficam alguns momentos da tarde de sábado, com fotografias de Fabrice Ziegler:


7.2.16

LLANSOL: A REINVENÇÃO DE PESSOA

O suplemento Ípsilon do Público da última sexta-feira traz uma primeira crítica ao recente Livro de Horas V, organizado por Maria Etelvina Santos. António Guerreiro destaca o trabalho imenso que se esconde por detrás deste longo e persistente trabalho de escrita em que Llansol, ao longo de trinta anos, reinventa Pessoa.
«Quem se interessar por penetrar e desbravar a sua obra imensa, este quinto volume do Livro de Horas (…) é precioso. Ele permite-nos perceber perfeitamente que Maria Gabriela Llansol nunca escreveu livros como unidades autónomas. (…) A sua obra é um imenso e intrincado puzzle, como sugere Maria Etelvina Santos na sua introdução. Neste aspecto, ela tem algumas afinidades com a de Pessoa. Maria Gabriela Llansol, podemos perceber, é também uma escritora póstuma, não apenas pelo imenso espólio inédito que deixou, mas também porque podemos aproximá-la da categoria nietzschiana dos 'homens póstumos', figuras de grande envergadura, que nunca são contemporâneos do seu próprio tempo.»
(A crítica de António Guerreiro pode ler-se clicando na imagem abaixo, ou arrastando-a para o ambiente de trabalho)

1.2.16

A FOTOGRAFIA E O TEXTO
Diálogo M. G. Llansol | Teresa Huertas

No próximo sábado, 6 de Fevereiro, na Galeria Diferença (Rua S. Filipe Neri, 42-Cave, ao Largo do Rato), traremos de novo ao texto de Llansol a fotografia de Teresa Huertas, que já recebemos na «Letra E» em 2013 com um outro diálogo, o da paisagem.
Desta vez a «Letra E» desloca-se para Lisboa, para – com a generosa colaboração da Galeria Diferença e da Irene Buarque – nos ocuparmos de um tema (Rostos, Aparições, Desaparecimentos) que nos foi sugerido pela mais recente experiência da fotógrafa, que exporá e projectará dezasseis fotografias de rostos em evanescência, que se encontram com o interesse pela imagem em geral, e em particular pelo rosto, a figura e a memória nos textos de M. G. Llansol. Nesses rostos, cuja história singular desvelaremos, encontramos o mesmo enigma da origem e do velamento com que deparamos em tantos textos de Llansol.

(clique na imagem para aumentar)

João Barrento conversará com a fotógrafa, leremos textos de Maria Gabriela Llansol (muitos deles inéditos), e teremos como habitualmente um caderno que reproduz em extratexto as 16 fotografias e inclui fragmentos de Llansol e textos de Teresa Huertas e João Barrento.