26.1.14

«OLHAR É DIFERENTE DE ANALISAR 
E COMPREENDER...»
Kiarostami-Llansol na «Letra E»


O filme, a um tempo apaziguante e inquietante, de Abbas Kiarostami (Five. Dedicated to Ozu), uma sequência de cinco longos planos, proporcionou ontem na «Letra E» momentos únicos de contemplação (e depois e conversa entre os presentes). O ponto de vista cinematográfico foi brevemente comentado por Daniel Ribeiro Duarte, que mostrou algumas linhas de afinidade entre o cinema de Yasujiro Ozu e este filme de Kiarostami – um «documentário» muito sui generis, com um claro substrato narrativo sem enredo nem diálogos nem personagens. Como em Llansol, com actantes humanos e não humanos que podemos ver como «figuras», contra o pano de fundo do enigma transparente do ser e do tempo que nos leva a perguntar, em cada uma das cinco cenas, o que é que acontece no que está a acontecer sob os nossos olhos – o que acontece, e não o porquê, nem sequer o como desse acontecer.
O caderno que os que vieram levaram consigo contém uma selecção de textos, na sua maior parte inéditos, de M. G. Llansol que evidenciam pontos de encontro e diálogo com este seu interlocutor «improvável», quer com o filme quer com os poemas de Abbas Kiarostami que seleccionámos para acompanhar o caderno de textos. Um encontro que passou pelos tópicos do olhar («o olho de olhar», e não apenas «o olho comum», diz Llansol), do tempo («o tempo suspenso na casa» – ou no mundo) e da noite («o maior objecto sensual que envolve todas as coisas», lemos num dos fragmentos).
Deixamos aqui a introdução a mais este caderno da Letra E, as páginas com os poemas de Kiarostami e o link para quem, não tendo ido a Sintra, queira ainda ver este invulgar filme sobre a impermanente permanência das coisas do Ser.

(Clique nas imagens para aumentar)



(Para aceder ao filme clique aqui: http://vimeo.com/70968833)

21.1.14

OLHAR O SER, ESCUTAR O TEMPO
Encontros improváveis na «Letra E»


Quem vier no próximo sábado (25 de Janeiro, às 17 horas) à «Letra E» do Espaço Llansol poderá entrar por algum tempo num oásis, em pleno deserto ruidoso do mundo quotidiano que nos envolve. Pede-se apenas que tragam duas coisas: primeiro, a capacidade de não esperar que muita coisa aconteça – mas haverá sempre alguma coisa a acontecer, a dar-se a ver, a cair literalmente sobre nós; depois, ser capaz de se despir de ideias (de ideias feitas, também pelo cinema que mais se vê) e de mergulhar num estado de nudez mental que alimenta a imaginação e a faculdade do olhar.



A festa do olhar, o tempo que se espraia nas imagens, os ritmos do mundo, o mistério da noite – é isso o que temos para oferecer, com o filme do iraniano Abbas Kiarostami Five. Dedicated to Ozu (um filme feito só de tempo e imagem, sem qualquer diálogo), e um dos nossos caderninhos com textos inéditos de M. G. Llansol que entram num inesperado diálogo com esse filme – que Llansol nunca viu. E ainda um desdobrável com vinte poemas minimais, imagistas, de Kiarostami. As ligações à tradição do despojamento e do silêncio no cinema e na poesia estarão presentes, quer através da relação explícita deste filme com o cineasta japonês Yasujiro Ozu (que Daniel Ribeiro Duarte comentará), quer pelos poemas, escritos na tradição do haiku (e também do imagismo americano), também eles revelando evidentes afinidades com este e outros filmes de Abbas Kiarostami. Um feliz «encontro inesperado do diverso».

Nota: A sessão sobre «Llansol e os rostos do tempo» (a pretexto da publicação do Almanaque Llansol de Ilse Pollack), que chegou a ser anunciada na Agenda Cultural de Sintra para este dia 25 de Janeiro, foi cancelada devido ao falecimento súbito do nosso amigo, sócio e coleccionador Alfredo Santos, que deveria estar presente nessa sessão com alguns almanaques das suas colecções.

20.1.14

TEORIA DA DES-POSSESSÃO REEDITADO

O livro de Silvina Rodrigues Lopes Teoria da Des-possessão, seminal para os estudos llansolianos quando foi publicado pela Black Sun Editores em 1988, foi agora reeditado pela Averno com uma bela capa de Inês Dias.


O ensaio de Silvina Rodrigies Lopes, que, em 1988, tinha ainda relativamente poucas obras de Llansol à sua disposição, abre de forma fulgurante (e incisiva, no modo como capta in nuce um universo e um modo de escrita). Assim:

(Clique na imagem para aumentar)

Só podemos congratular-nos com a iniciativa da Averno ao tornar novamente disponível um dos ensaios mais penetrantes sobre a Obra de M. G. Llansol.


10.1.14

LLANSOL E OS LUGARES IMAGINÁRIOS
DA LITERATURA


O JL desta semana, inspirado no Dicionário de Lugares Imaginários de Alberto Manguel (editado cá pela Tinta da China), traz um dossier com depoimentos de vários escritores sobre o tema na literatura portuguesa e mundial. Entre esses lugares imaginários não poderiam deixar de estar os das paisagens textuais, existentes-não-reais ou reais-não-existentes, criadas por M. G. Llansol. Um deles (aliás, dois) é evocado por Hélia Correia no seu depoimento, em que diz: 

O meu lugar imaginário em Portugal tem testemunhos no real: não um, mas dois. É o «Grande Maior» de Parasceve, o livro de Maria Gabriela Llansol. O Grande Maior é um plátano em cuja copa há uma cidade. Uma cidade onde a clorofila é a cor dominante, onde está posta uma mesa de banquete, onde há praças e esplanadas «cujas cadeiras se comportam com as mesas de uma maneira absolutamente inimaginável». A escrita de Llansol que, como a sua vida, decorre no «jardim que o pensamento permite», toca nas coisas mais vulgares e transfigura-as. Se ela as olhou, não tornarão a ser as mesmas.  
O Grande Maior da Volta do Duche, em Sintra, ao qual ela fazia sempre uma saudação, tem agora uma placa evocativa. O meu lugar imaginário – onde vou muita vez ler os seus textos – é outro. É outra copa de outra árvore-cidade, outro Grande Maior. Maria Gabriela levou-me um dia, fisicamente, lá. Existia para nós e era um segredo. Como o Plátano e a sua insuspeita cidade, todos o vêem e ninguém o vê. Mas quem quiser encontra-o no seu texto.

6.1.14

O PROGRAMA DA «LETRA E»
JANEIRO A MARÇO

Neste primeiro trimestre do ano iniciaremos na «Letra E» uma nova série de «Encontros improváveis» de Llansol com várias figuras do século XX e actuais – para já, o cinema de Abbas Kiarostami (com Daniel Ribeiro Duarte) e o universo de Maurice Blanchot (com Paulo Sarmento) –, e discutiremos, em Março, a crise civilizacional e cultural do nosso tempo à luz da reflexão de Llansol, a partir de textos na sua maior parte inéditos (com o escritor António Vieira e o crítico António Guerreiro).
Aqui fica o programa para os próximos três meses, e o nosso convite para virem à «Letra E». Para cada sessão faremos, como já vem sendo habitual, um pequeno caderno com textos de Llansol, e eventualmente outros, relativos a cada tema.





 INQUÉRITO ÀS QUATRO CONFIDÊNCIAS
NA CRÍTICA FRANCESA


A crítica francesa Bénédicte Heim, que já escrevera sobre Finita, volta a comentar o último livro de M. G. Llansol saído em francês, L'enquête aux quatre confidences, num site importante de crítica de livros em França, o Livres addict. Pode ler-se o que escreve B.H. aqui:
http://www.livres-addict.fr/Livres.html#llansol_enquete