17.12.18

«O LIVRO DOS DIAS», ou «O LIVRO DE TODO-O-SABER»
O Almanaque Llansol e a tradição dos almanaques

Apresentámos no passado sábado a mais recente edição do Espaço Llansol, Os Rostos do Tempo. Almanaque Llansol, situando-o na já longa e diversa tradição desta forma de livro no Ocidente e no mundo árabe, entre o sapiencial, o prático e o poético. Disso nos falou a Profª Vanda Anastácio, que percorreu a história do Almanaque, desde as suas origens até este nosso novo exemplo llansoliano, abordando aspectos tão variados como a problemática editorial dos almanaques depois da invenção da imprensa, as estratégias de relação com os públicos ao longo do tempo, as orientações dos almanaques, mais práticas, mais científicas ou mesmo ideológicas e de classe, e a sua orientação mais literária a partir do século XVIII, como receptáculo de toda a espécie de literatura, com o aparecimento dos chamados «Almanaques das Musas», que, oriundos de França, depressa foram acolhidos na Alemanha ou na Holanda, e marcaram também presença no século XIX português. É exactamente de finais deste século, de 1896, um dos textos canónicos sobre o almanaque, esse «livro de todo-o-saber», a introdução ao Almanaque Encyclopédico desse ano por Eça de Queirós, a que a Profª Vanda Anastácio deu significativo destaque, lendo algumas páginas memoráveis dessa bela peça de prosa de Eça.
João Barrento com a Profª Vanda Anastácio




O público participou desta vez activamente, e não apenas com algumas questões pertinentes que surgiram e levaram a nossa convidada a falar das diversas formas de publicações que podemos encarar como «livros dos dias» – o almanaque (o perpétuo ou o anual), a agenda, o anuário, o diário...
As habituais leituras de textos de Maria Gabriela Llansol, desta vez centrados na temática do tempo, não foram feitas por actores ou actrizes, mas pelo próprio público, a partir de faixas com fragmentos das obras de Llansol sorteados aleatoriamente, e que transcrevemos a seguir para quem não os pôde ouvir. A sequência de quarenta fragmentos permite vislumbrar sucintamente os muitos rostos que o tempo assume nesta escrita: do tempo dos dias ao da História ou do Ser, do instante vivido ao passado recuperado ou ao futuro vislumbrado, do tempo da vida ao tempo da morte... Esta viagem pelos fragmentos lidos permitiu-nos, como Llansol escreve numa das suas agendas, vivenciar uma «participação mental na elasticidade física do tempo». Também o Almanaque Llansol que apresentámos propicia, de uma forma mais alargada, e ao longo de todo o ano, uma tal viagem pelos tempos – os da Autora ou os de qualquer um dos seus leitores.





Llansol sobre o tempo: fragmentos lidos