AS ARTES DA FUGA NA «LETRA E»
A sessão de ontem na «Letra E» do Espaço Llansol foi preenchida com a gravação, pela Rádio Televisão Portuguesa, do concerto de uma peça original do compositor João Madureira — «ECO, ou Bach em Pessoa» –, que fez uma orquestração muito particular da Arte da Fuga de Bach, integrando na orquestra um amplo naipe de instrumentos, alguns inesperados, e associando à música um conjunto de fragmentos de poemas de Fernando Pessoa e seus heterónimos, ditos por um actor.
João Madureira comentou a peça antes de mostrar o vídeo do concerto, salientando, a par de várias formas de construção da fuga, a sua visão de Bach, do universo Pessoa e da escrita de si e do mundo por M. G. Llansol como um todo em que o rigor arquitectónico ou quase matemático das escritas se não separa de um substrato, diverso e reverberante, de teor emocional ou libidinal, mesmo nos exercícios aparentemente mais racionais de um Bach já moderno, ou na construção intelectual de um «mental pairante» como Pessoa (em versão Llansol).
A sessão abriu com leitura de excertos de Llansol sobre Aossê e Bach, e prolongou-se, depois do visionamento do concerto, com uma demorada e muito viva discussão com o público, centrada sobretudo nos modos diversos e afins da orquestração tensional do Eu nestes três criadores, numa dialéctica aberta entre a distanciação e a obsessão de si. Três modos particulares de uma «arte da fuga» do Eu, mas sempre a partir de si próprio.
Para assinalar o início de actividades em torno do tema do ano – «Pessoa e Bach na casa de Llansol» –, expusémos uma sequência de páginas de cadernos manuscritos e de dactiloscritos inéditos de Maria Gabriela Llansol, contendo momentos de escrita surpreendentes sobre a figura de Aossê em Leipzig.
E saímos eram já oito horas da noite____________