2.3.08

FRASES IMAGENS COLA


Já está nas livrarias o livro com vinte desenhos de Augusto Joaquim feitos sobre o texto de Maria Gabriela Llansol Amar Um Cão (que o volume também reproduz), acompanhados de um testemunho escrito do autor ("Geometria de frases imagens cola») e de uma nota de João Barrento. A série de desenhos nasceu das discussões do Grupo de Estudos Llansolianos sobre Amar um Cão em 2002, como se pode perceber pelo texto do Augusto. Dele e da nota final extraímos dois excertos que poderão despertar a curiosidade dos interessados, mas nunca substituir o prazer de olhar para estas colagens delicadas e originais e cruzá-las com o texto de Llansol.

Foi nessa tarde, já em casa, que comecei os desenhos. Em apenas alguns dias, desenhei uns cinquenta sobre papel reciclado —
traço a lápis
(um cão e uma jovem [de costas], figuras geométricas, um cão e outros cães, um cão a correr atrás de pássaros gigantes, um coreto, um cão a transformar-se num pássaro gigante, grande prato de leite)
foram construindo a figura que tanto me ensinara
num texto subtil mas não malicioso.
(Augusto Joaquim)

O tempo na ponta do lápis

«Este texto tornou a minha vida improvável», escreveu um dia Augusto Joaquim, referindo-se à Obra de Maria Gabriela Llansol. E ao dizer «improvável» queria dizer: à prova de prova. Porque uma vida não prova nada, nem tem de ser provada, acontece-nos ou não nos acontece.
Sobre aquela Obra, de dentro de um breve texto dela – a sequência de intensidades escrita por Maria Gabriela Llansol com o título Amar Um Cão (1990) – nasceram estes desenhos. O dinamismo da relação entre traço, blocos de texto, fragmentos colados, indicia uma busca e quer captar uma vibração. Cada folha reage, com pontos de interrogação, a momentos concretos da escrita de Llansol. O texto age como uma mónada que se abre e fecha, pontuada de focos de luz que se acendem e se apagam. A interrogação maior, a que os desenhos procuram co-responder, é: Nasce-se como? Morre-se como? Como se age entre estes dois pontos, que relações se tecem entre os seres, homens ou cães (um deles, de nome Jade, foi um dos seres que o Augusto mais amou)? Como se chega, nesse percurso, a receber o «dom poético» e a praticar a «liberdade de consciência»? E a resposta, que é a de todo o texto de Llansol, está num dos desenhos: «Ficamos no tempo? Sim, ficamos.» Para viver o Ser no Tempo de forma plena e múltipla.
(João Barrento)