23.5.21

 O TECIDO SOBRE O PAPEL...E VICE-VERSA

Ontem, no entusiasmo contido e comovido do regresso, muitos fios voltaram a tecer-se no Espaço Llansol – os do Texto de Llansol e os dos seus bordados, de onde nasceu a sessão, os da amizade sentida de novo ao vivo, os da descoberta de afinidades, milenares e míticas, mas sempre surpreendentes, entre texto e tecido, escrita e bordado, tecelagem e narração.

Começámos por ir à raiz do tema, evocando alguns mitos onde ele surge sob formas várias – Penélope e Aracne, Ariane e Filomela –, para chegar à partitura, toda tecida de imagens e de letras, de rios e jardins, de figuras e relações inesperadas que é o texto de Llansol, nos livros com a textura dos seus fragmentos, traços, espaços brancos, ritmos, mais ainda nas páginas dos cadernos manuscritos, muitas vezes autênticos bordados de escrita e desenho.

A exposição, que combinava peças de bordado e renda do espólio com textos manuscritos, deu corpo visual a esse encontro, e o caderno que fizemos para a sessão (A bordadora de Texto: Os fios da escrita... e os outros) reune fragmentos e imagens dessa contínua «meditação sobre o tecido», passando «da escrita ao bordado, traduzindo...».

E ao fim da tarde, os que vieram, com uma serena alegria sensível por detrás da máscara, desejariam talvez também «lentamente bordar páginas de livros e guardá-las», como Llansol escreve em 10 de Fevereiro de 1980 num dos seus cadernos.