18.2.18

«… NADA DISTO CABE NUMA SÓ PALAVRA…»


Teresa Belo na «Letra E» do Espaço Llansol, em Sintra

Sentimos já o peso da recordação daquela que ontem nos deixou, a Teresa Belo, grande amiga do Espaço Llansol e da escrita da Maria Gabriela.
«Somos hóspedes de um só dia», lemos em Salomão 5, 15, e O Ruy (Belo), que hoje e aqui iremos cruzando com Llansol para nos aproximarmos da Teresa, repete-o no título de um dos seus poemas: «Somos hóspedes e peregrinos sobre a Terra». Muitos são os momentos da sua poesia onde um sereno meditar o leva até ao limite do abismo do tempo, por vezes num diálogo com os que, afinal como ele próprio, partiram cedo de mais – e que agora se poderia repetir com a sua Teresa:
Que foi..., amiga? O que é feito de ti? Que se passa contigo? 
[…] Acaso caberiam nestes dias  
essas mágicas mãos feitas de estrelas?»
Onde, sem ser no Verão, sem ser em nós, 
terá enfim ficado o teu sorriso?
Certamente numa qualquer «margem da alegria», diríamos. Agora que te despediste da «terra da alegria», onde estiveres, seja onde for, é o jardim de harmoniosos pensamentos. Foste para onde foste
Cansaste-te e foste-te embora
não passarão por ti mais primaveras
fosses para onde fosses foste decerto
para o país de onde afinal eras

Sabes, Teresa, a nossa Gabriela, sempre tão presa ao júbilo e ao fulgor do mundo, sabia do lugar onde agora ambas vos cruzais. A morte, dizia ela, é apenas a parte escondida da vida. E quando chega, é, para os que ficam, o velho contratempo. Para quem parte, porém, como vós, representa apenas um outro estádio do tempo, um contra-tempo, que apaga o daqui.
E nós, que nada sabemos, ficamos a saber com a Gabriela que é um só o livro, o da vida e da morte. E suspeitamos vagamente de que na página final se pode esconder outro rosto redondo onde o Sol se inscreve______
Também o teu Ruy sabia que haverá um Sol aí, e que aqui ele não se apagou, e vive da tua memória: 
Haverá sol aí? Eis-te sozinha 
em ti. Perdeste quanto eras no lá fora 
Nem sei como dizer-te como tudo continua…
_______
contigo aqui, e a ausência ensombrando os dias.

E «nada disto cabe numa só palavra…»