1.9.13

O BANQUETE, OU DO AMOR

Recebemos no sábado, último dia de Agosto, que já anuncia o regresso às actividades regulares, uma visita, não propriamente inesperada, mas muito desejada. A Sílvia, Sílvia das Fadas, como gosta de ser chamada, veio da Califórnia, e daqui a pouco lá estará de novo para estudar e fazer o cinema que para ela faz mais sentido. E voltou ao lugar onde, durante uns dois anos, ajudou a tratar e a tornar disponível o espólio da Maria Gabriela e nos acompanhou em algumas das andanças – filmagens e fotografias – que fizémos para a exposição do CCB em 2011, e para outros projectos futuros.
A Sílvia era a mola do sonho no Espaço Llansol, e nós fizémos-lhe ontem uma pequena festa de despedida antes do regresso ao Californian Institute of the Arts. O Espaço Llansol – que, para além de lugar de trabalho contínuo e rigoroso, é também paisagem de muitos afectos e de memórias – vibrou com uma vibração especial durante este sábado, com a presença da Sílvia e com o almoço que preparámos para ela, aproveitando o saber da Helena, que transforma alimentos em obras de arte e ementas em poemas! 

Foi um pouco assim como naquele lugar perdido da península da Jutlândia onde acontece O Festim de Babette, esse filme que Maria Gabriela Llansol evoca em Um Beijo Dado Mais Tarde. Voltamos a oferecer aqui alguns fragmentos dessas páginas à Silvia (levemente ajustados ao nosso reencontro), que os levará para a Califórnia como testemunho de afecto e da memória de um tempo que poderá sempre voltar a acontecer neste Espaço que, em dias como estes, e outros, se transforma verdadeiramente em Lugar:

(Clique nas imagens para aumentar)
Foi um almoço rigoroso, em que o paladar trocava o amor com os alimentos, em que os dez convivas, abrindo-se ao prazer da boca e do olhar, rememoraram e tornaram presentes as pessoas, nos acontecimentos de ouro das suas vidas: cristal, ouro, prata, iguarias, arte de preparar os alimentos reuniram-se no momento único do almoço em que não houve traidor [esta não foi uma Última Ceia!].
[...]
Eu via, no desenrolar dessa refeição, a manifestação dos bens da terra. O conhecimento que traz a abundância, a ponto de tornar generosos os homens. O prazer do Amante e a alegria de viver não podiam faltar a um tal festim.
E, na realidade, assim foi...

Era isto o que nós queríamos dizer à Sílvia, ou Témia, ou a Rapariga que temia a impostura da língua e das imagens....