26.5.13

PROENÇA LLANSOL:
UM DIÁLOGO 



Pedro Proença (PP), Pintor-Poeta, Prosador-Pensador Prolífico-Proteico, Pan-Pictórico, esteve ontem na «Letra E» do Espaço Llansol para nos falar das suas ligações de longa data à Obra de Llansol. Proença é autor de muitos textos que partem da Obra da escritora e com ela dialogam e a prolongam, no registo característico deste artista, entre a intuição certeira e a ironia que põe a nu o que de mais intrínseco há na Obra do outro. Alguns desses textos, assinados com heterónimos (como Sandralexandra & Soniantónia) ou pseudónimos (Renato Ornato, Julio Rato, etc.), podem ler-se em vários lugares da Internet onde PP vai escrevendo, nomeadamente  o site da revista Triplov (http://www.triplov.com) ou os blogs sandrayantonia, juliorato, pierredelalande, tantricgangster,  budonga ou renatoornato (todos em blogspot.com).

  
Para além da escrita, Proença desenvolveu igualmente todo um trabalho pictórico a partir de textos de Llansol. Uma parte desse trabalho está desde ontem exposto na nossas «Letra E», e em parte reproduzido no caderno que editámos, e que é revelador da indestrinçável relação entre escrita-caligrafia-desenho-colagem-pintura na Obra de Proença. As obras produzidas para esta ocasião constam de duas séries de desenhos-colagens, cada uma com trinta folhas, mas há outros exemplos de cruzamentos com livros de Llansol, como o exemplar de Contos do Mal Errante intervencionado por PP, que pode também ser visto na «Letra E», ou o quadro abaixo reproduzido, igualmente pintado a partir deste livro de Llansol.


Pedro Proença comentou este seu diálogo com Gabriela (e outros artistas, em particular Álvaro Lapa e Ernesto de Sousa) a partir de um caderno (que se pode ler/ver em baixo), onde arma o cerco a alguns nódulos centrais do texto de M. G. Llansol e os prolonga pela reflexão e pela ironia, para depois lhes dar corpo visual nos desenhos-colagens, que vão explorando tópicos decisivos, na interrelação entre desenho, texto próprio e fragmentos de Livros de Horas, iluminuras medievais ou manuscritos árabes e persas, onde o caderno, a escrita, a leitura, a cópia, os bichos, as figuras, têm lugar de destaque. Entrando no texto de Llansol – para logo dele sair com as suas criações próprias – pela via única e original do humor e da ironia, PP aborda este Texto com um olhar que, para os mais ortodoxos ou incautos leitores de Llansol, poderá parecer deslocado, quando afinal ele abre caminho a uma relação absolutamente livre, e as mais das vezes intuitivamente certeira, com a Obra de uma autora que, contrariamente ao que se possa pensar, é capaz de ironia e humor. Basta pensar em livros como O Senhor de Herbais, na ironia desconstrucionista exercida por Llansol sobre a forma do romance ou nos muitos momentos de ironia linguística que atravessam a sua Obra.


De tudo isto, e de outras coisas – como a escolha do «manifesto», presente no caderno de Proença, mas também, em formas diversas, explícitas e implícitas, na Obra de Llansol – se falou ontem, tendo como referência os Manifestos de PP para Gabriela e outros textos do artista, de que lemos excertos (os livros A Simplicidade da Barbárie / Esboço de romance convertido em aparente poema / em memória e louvor nada simplificado / de Álvaro Lapa, Ângelo de Sousa e Maria Gabriela Llansol, e Gabriela & Ernesto. As Mutações e outras Acelerações do Vazio / Da vanguarda como fulgor / (em nomes de guerra que não o são)). Em pano de fundo, na conversa e nas obras de PP e MGL, o cruzamento de escrita e imagem, da letra e do desenho, em duas obras que são «armazéns de sinais» com  marca muito própria, em que é patente a vontade de pintar-se a si para além de si, de trazer a primeiro plano o autobiográfico sem autobiografia, pelos efeitos de estranhamento, de proximidade-distância própios de um sentido superior da ironia, que estas duas Obras evidenciam. O resto está no Caderno que Pedro Proença nos deixou.




(Pode percorrer o caderno em formato maior clicando no pequeno rectângulo 
no canto inferior direito da barra)