VAI ABRIR A «LETRA E» DO ESPAÇO LLANSOL
No dia 28 de Janeiro inauguramos o espaço público a que demos o nome de «Letra E» – o da porta em frente da nossa, a F, no edifício da antiga Estalagem da Raposa, em Sintra, onde trabalhamos desde 2008. A Letra E será um lugar de encontro e de debate, de circulação do pensamento e da arte, de divulgação do espólio de M. G. Llansol. Orientam-nos, nesta nova porta que o Espaço Llansol abre a todos os interessados na Obra de Llansol, algumas linhas fixadas na «Carta de princípios da Letra E», que divulgaremos no dia da inauguração, mas da qual extraimos já algumas passagens:
Num momento
em que claramente «está de volta o medo» e «tudo segue uma rota de exclusão da
pujança», como Maria Gabriela Llansol diagnosticava já em 1994, é preciso que o
falcão do voo livre não adormeça no punho de onde saiu a sua escrita, e penetre
também no de muitos outros que a lêem. Porque reaparece hoje, amplificada
diante dos nossos olhos, uma Europa perdida de si mesma, como aquela que nos
deu a ver Augusto Joaquim, logo na hora de nascimento desse livro-fonte da
afirmação da «liberdade de consciência» e do «dom poético» que foi O Livro das Comunidades (1977):
«Barbárie a Leste, lucro a Oeste, pobreza a Sul, neve a Norte». E, apesar
disso, Llansol afirmará até ao fim (ainda em Os Cantores de Leitura, último livro, de 2007), a necessidade de
saber «o que é o corpo,
/ o que é a luz, / o que é a força, / o que é o afecto,
/ o que é o pensamento, / o que é a figura». É todo um programa que podemos
seguir. É, por isso, a hora de, sem ilusões ingénuas nem pretensões utópicas,
assumir «o presente como destino» e continuar a escrever o texto de Llansol «na
plena posse das nossas faculdades de leitura» – leitura desse texto e daqueles
outros que, ao longo dos anos, o foram completando e iluminando no espaço de
outras artes e do pensamento, e leitura do mundo, articulando-os em actividades
de vária ordem que o novo espaço do Espaço Llansol tenciona acolher e dinamizar.
O «E» na porta será o E
- da esperança, o
horizonte do júbilo possível e necessário no «jardim devastado» do mundo.
- do entendimento
(Llansol sempre considerou necessário, na sequência de Spinoza, um novo Tratado da Reforma do Entendimento).
- do entresser, essa
zona de existir entre o real e o possível, entre o Mundo e a Restante Vida,
entre o humano, o não-humano e o trans-humano.
- do Espaço Edénico, o lugar não mítico do
«triplo registo» em que os corpos se movem e a escrita actua: o lugar do belo,
do pensamento e do Vivo. Lugar «criado no meio da coisa, como um duplo feito de
novo e de desordem».
- do ensaio e da experiência, princípios que nos guiarão
na busca permanente dos fios que ligam o texto de Llansol ao nosso tempo, para
podermos ir verificando se «aquilo que o texto tece advirá ao homem como
destino».
- da escrita (o
reverso do que continua a chamar-se «literatura»), natural e necessariamente
ligada ao universo de alguém que foi, não escritora, mas escrevente, animal de
escrita à margem de tanta «escrita de cinza» que agora sufoca quem por ela se
deixa asfixiar, e correndo através do mundo e dos tempos, assumindo a sua
condição animal, fazendo vibrar um grande arco sob o qual se inscreve um duplo
propósito interventivo: o de «espalhar a justiça e a desordem» (hoje, com o
texto conhecido e sobretudo desconhecido de Llansol).
Oferecemos já aos nossos leitores e amigos algumas imagens do espaço da Letra E, que remodelámos neste último mês, e o programa para o primeiro trimestre de 2012. A partir de agora o Espaço Llansol divulgará também as suas actividades através de uma página no Facebook: https://www.facebook.com/EspacoLlansol.
Aqui fica também já o primeiro programa trimestral, que, como será apanágio da Letra E, se abre a múltiplas áreas e formas de intervenção e de diálogo. Procuraremos ainda, para cada ano, escolher um tema, uma figura, uma matéria importantes na Obra de M. G. Llansol, e dar-lhe o devido destaque ao longo desse ano. Para 2012, o ano em que sairá a primeira tradução de um livro de Llansol para alemão – Lisboaleipzig –, e em que contamos avançar mais no levantamento e transcrição do vasto sector do espólio manuscrito e dactiloscrito centrado nestas duas figuras, o tema escolhido foi Pessoa-Aossê e Bach em Llansol.
(clique nas imagens para aumentar)
Esperamos por todos. Divulguem-nos. Convidamo-vos a entrar com as palavras de Spinoza num dos livros de Llansol, servindo-se, ele também, da letra E: