16.1.12

VAI ABRIR A «LETRA E» DO ESPAÇO LLANSOL


No dia 28 de Janeiro inauguramos o espaço público a que demos o nome de «Letra E» – o da porta em frente da nossa, a F, no edifício da antiga Estalagem da Raposa, em Sintra, onde trabalhamos desde 2008. A Letra E será um lugar de encontro e de debate, de circulação do pensamento e da arte, de divulgação do espólio de M. G. Llansol. Orientam-nos, nesta nova porta que o Espaço Llansol abre a todos os interessados na Obra de Llansol, algumas linhas fixadas na «Carta de princípios da Letra E», que divulgaremos no dia da inauguração, mas da qual extraimos já algumas passagens:
Num momento em que claramente «está de volta o medo» e «tudo segue uma rota de exclusão da pujança», como Maria Gabriela Llansol diagnosticava já em 1994, é preciso que o falcão do voo livre não adormeça no punho de onde saiu a sua escrita, e penetre também no de muitos outros que a lêem. Porque reaparece hoje, amplificada diante dos nossos olhos, uma Europa perdida de si mesma, como aquela que nos deu a ver Augusto Joaquim, logo na hora de nascimento desse livro-fonte da afirmação da «liberdade de consciência» e do «dom poético» que foi O Livro das Comunidades (1977): «Barbárie a Leste, lucro a Oeste, pobreza a Sul, neve a Norte». E, apesar disso, Llansol afirmará até ao fim (ainda em Os Cantores de Leitura, último livro, de 2007), a necessidade de saber «o que é o corpo, / o que é a luz, / o que é a força, / o que é o afecto, / o que é o pensamento, / o que é a figura». É todo um programa que podemos seguir. É, por isso, a hora de, sem ilusões ingénuas nem pretensões utópicas, assumir «o presente como destino» e continuar a escrever o texto de Llansol «na plena posse das nossas faculdades de leitura» – leitura desse texto e daqueles outros que, ao longo dos anos, o foram completando e iluminando no espaço de outras artes e do pensamento, e leitura do mundo, articulando-os em actividades de vária ordem que o novo espaço do Espaço Llansol tenciona acolher e dinamizar.
O «E» na porta será o E

- da esperança, o horizonte do júbilo possível e necessário no «jardim devastado» do mundo.

- do entendimento (Llansol sempre considerou necessário, na sequência de Spinoza, um novo Tratado da Reforma do Entendimento).

- do entresser, essa zona de existir entre o real e o possível, entre o Mundo e a Restante Vida, entre o humano, o não-humano e o trans-humano.

- do Espaço Edénico, o lugar não mítico do «triplo registo» em que os corpos se movem e a escrita actua: o lugar do belo, do pensamento e do Vivo. Lugar «criado no meio da coisa, como um duplo feito de novo e de desordem».

- do ensaio e da experiência, princípios que nos guiarão na busca permanente dos fios que ligam o texto de Llansol ao nosso tempo, para podermos ir verificando se «aquilo que o texto tece advirá ao homem como destino».

- da escrita (o reverso do que continua a chamar-se «literatura»), natural e necessariamente ligada ao universo de alguém que foi, não escritora, mas escrevente, animal de escrita à margem de tanta «escrita de cinza» que agora sufoca quem por ela se deixa asfixiar, e correndo através do mundo e dos tempos, assumindo a sua condição animal, fazendo vibrar um grande arco sob o qual se inscreve um duplo propósito interventivo: o de «espalhar a justiça e a desordem» (hoje, com o texto conhecido e sobretudo desconhecido de Llansol).

Oferecemos já aos nossos leitores e amigos algumas imagens do espaço da Letra E, que remodelámos neste último mês, e o programa para o primeiro trimestre de 2012. A partir de agora o Espaço Llansol divulgará também as suas actividades através de uma página no Facebook: https://www.facebook.com/EspacoLlansol.


Aqui fica também já o primeiro programa trimestral, que, como será apanágio da Letra E, se abre a múltiplas áreas e formas de intervenção e de diálogo. Procuraremos ainda, para cada ano, escolher um tema, uma figura, uma matéria importantes na Obra de M. G. Llansol, e dar-lhe o devido destaque ao longo desse ano. Para 2012, o ano em que sairá a primeira tradução de um livro de Llansol para alemão – Lisboaleipzig –, e em que contamos avançar mais no levantamento e transcrição do vasto sector do espólio manuscrito e dactiloscrito centrado nestas duas figuras, o tema escolhido foi Pessoa-Aossê e Bach em Llansol.

 (clique nas imagens para aumentar)
Esperamos por todos. Divulguem-nos. Convidamo-vos a entrar com as palavras de Spinoza num dos livros de Llansol, servindo-se, ele também, da letra E: