28.3.11

ECOS DO DIA LLANSOL (I)


Primeiros ecos e impressões do dia de ontem, dedicado a Maria Gabriela Llansol no Centro Cultural de Belém, em Lisboa _______ «no reboar da Alegria».

(clique na imagem para aumentar)

Depois, dois momentos da antecâmara da exposição «Sobreimpressões», que ainda documentaremos melhor nesta página:


Alguns apontamentos do programa «O império dos sentidos» (Antena 2, 25 de Março), com leituras de Diogo Dória e uma peça de Bach executada por Ana Telles, aqui:


Depois da inauguração da exposição, a representante da Comissão Europeia em Lisboa leu a mensagem do Dr. José Manuel Durão Barroso (a seguir transcrita) que evoca a sua relação com Llansol, o seu universo e o lugar da Europa na sua Obra:

Em primeiro lugar, as minhas sinceras felicitações ao Espaço Llansol pela organização deste dia. É com muita pena que não posso estar hoje convosco, mas queria, a partir de Bruxelas, enviar um agradecimento particular ao Professor João Barrento que muito tem contribuído, ao longo destes anos, para a divulgação da obra daquela que é já reconhecida como uma das figuras maiores da literatura portuguesa. Em larga medida graças ao trabalho persistente do Espaço Llansol começa-se a concretizar aquilo que Maria Gabriela anunciou de forma presciente há vários anos atrás: "Prefiro ser aceite pela geração futura a ser completamente aceite pela geração presente." (Caderno 1.12 do espólio).

Descobri Maria Gabriela Llansol quando ela ainda era uma escritora conhecida apenas de um círculo restrito de admiradores. Do momento inicial dessa revelação guardo a estranheza de uma escrita que de tão "pura", nada poluída pelos lugares comuns do discurso político ou jornalístico corrente, me parecia vir de "outra parte". A sua escrita é realmente original sem qualquer pretensão. E essa originalidade decorre não do artifício ou do capricho, mas de um genuíno e irresistível impulso. Foi-lhe atribuída a reputação de ser uma escritora difícil, hermética, inacessível, adjectivos talvez justificáveis a quem se fique apenas por algumas páginas de qualquer um dos seus livros. Mas desajustados a quem mergulha na obra e a aceita única e irrepetível, algo de profundamente autêntico.

É essa, aliás, a grande recompensa do ‘legente’ de Maria Gabriela Llansol, a certeza de uma viagem onde nunca se regressa ao ponto de partida. Este ‘meta-realismo’ llansoliano é o que caracteriza a sua escrita, verdadeiramente original na literatura portuguesa. Tratava-se, de resto, de uma vocação assumida, condição da própria obra. Ela própria referiu, quando lhe foi atribuído pela primeira vez o Grande Prémio do Romance e da Novela, em 1990, que: “(...) escrevo, / para que o romance não morra. / Escrevo, para que continue, / mesmo que, para tal, tenha de mudar de forma (...)”.

Mas a escrita de Maria Gabriela Llansol, tal como o seu percurso pessoal, o seu “desmundo”, extravasa o perímetro nacional e da língua portuguesa. A sua literatura é verdadeiramente europeia e só pode ser compreendida enquanto constante diálogo com outros autores, como Espinosa, Hölderlin, Nietzsche, com outras formas de arte como a música de Bach ou com outros referenciais geográficos como Bruges ou Münster, como fica sublimemente registado no “Livro das Comunidades” ou nas páginas dos seus diários.

A Bélgica foi o país que a acolheu sem verdadeiramente a acolher, pois Llansol nunca deixou de habitar o seu próprio lugar, o lugar da escrita. Não deixou no entanto este país de a marcar e de se fazer sentir na sua actividade literária. Lovaina, Jodoigne e Herbais, mais do que meros lugares de residência, ficam como impressões indeléveis nos seus textos. "Uma parte da minha vida ajustou-se ao pátio e à casa de Jodoigne; é recta; decorre com equidade; outra, faz-me sair de mim, quase todos os dias (…)".

“(...) Sem país em parte alguma (...)” (Finita,72), mas decididamente portuguesa – nenhum de nós consegue realmente "escapar" ao peso e densidade do nosso País - Maria Gabriela Llansol faz decididamente parte de uma mundividência europeia, instintivamente, existencialmente europeia. E através da sua escrita – do mais belo que alguma vez se viu em Língua Portuguesa - Llansol afirma a Literatura como valor universal.

José Manuel Durão Barroso, Bruxelas 25 de Março de 2011


Finalmente, uma ligação para a página «A Cidade de Clarissa» e para o «Livros no Bolso», com o excelente comentário de síntese feito ontem, em directo a partir do CCB, por Carla Luís, e que pode ser ouvido aqui.
Até breve, com mais documentos deste dia e sobretudo da exposição.