10.8.17

LLANSOL NO FESTIVAL SILÊNCIO 2017
O Festival Silêncio, que vai na sua sétima edição e terá lugar em Lisboa, entre os bairros do Cais do Sodré e Santos, de 28 de Setembro a 1 de Outubro, é, nas palavras dos seus promotores, «um evento participativo e transdisciplinar que pretende estimular, inspirar e valorizar a criação artística, a reflexão e a participação cultural. É um incentivo à abertura a novas ideias e à imaginação colectiva. Tendo como premissa o diálogo entre diferentes expressões e saberes, a programação do festival celebra a palavra como unidade criativa, como ponto de partida para a criação, como objecto artístico e como veículo para chegar a novas narrativas».
Rua de São Paulo
M. G. Llansol, Caderno 1.70, p. 128

Desde a sua sexta edição, em 2016, o Festival Silêncio integra um ciclo temático dedicado a um autor. Em 2016 centrou-se na Obra literária e visual de Ana Hatherly, e este ano será dedicado a Maria Gabriela Llansol, com curadoria do Espaço Llansol e uma série de actividades muito diversificadas, programadas por nós em parceria com a produção do Festival, e de que damos notícia a seguir. Esta sétima edição do Festival Silêncio volta a celebrar a transdisciplinaridade da palavra, nas ruas e nas galerias de arte, em cafés e clubes, praças e jardins, com conferências e debates, leituras, exposições, música, cinema, performances, actividades infantis e participativas.
Tudo em torno da Obra de Maria Gabriela Llansol, que assim chegará a novos públicos, e dos temas Palavra-Voz-Silêncio, seguindo algumas linhas-mestras do Texto da autora, que resumimos nos seguintes termos:
(Clique na imagem para aumentar)

As actividades previstas em torno da Obra de Llansol são as seguintes, todas abertas ao público:

I – MESA REDONDA
A conversa, entre membros do Espaço Llansol, procurará abrir algumas perspectivas sobre a Obra e o universo de Maria Gabriela Llansol, centrando-se no tema do Festival: Palavra - Voz - Silêncio. Esta entrada permitir-nos-á chegar ao cerne dos textos de Llansol: o modo singular e único do seu trabalho com a linguagem, quase sempre organizada numa partitura multifacetada que abarca, com os seus ritmos e as suas modulações, todas as zonas do real. E em que os espaços de silêncio têm tanto peso como as vozes múltiplas que as palavras nos deixam ouvir.
[Com um «Caderno da Letra E» que documenta o tema]

II – LEITURAS
A sessão de leitura, que conta com as vozes dos actores Daniela Gonçalves e Emanuel de Sousa (Ponto Teatro, do Porto), abre com uma breve gravação da voz de Llansol, e organiza-se em fragmentos centrados também no tema do Festival: a Palavra, a Voz, o Silêncio. A leitura encerra dando voz à música, com a audição de uma peça breve de João Madureira («Inscrição», para flauta de bisel, escrita a partir de Amar um Cão).
III – EXPOSIÇÕES
1. Exposições de artistas já relacionados com a Obra de Llansol (obras existentes):
Dada a sua natureza fortemente imagética, a Obra de Llansol tem suscitado uma frequente interacção com criadores visuais, desde 1990. Vários pintores/desenhadores – Julião Sarmento, Ilda David, Pedro Proença, Augusto Joaquim –, escultores – Rui Chafes – e fotógrafos – Duarte Belo – criaram obras a partir de vários livros ou do espaço de vida/escrita de Llansol, e em vários domínios e formas de arte: o desenho, a pintura, a gravura, a colagem, o mosaico. Cada um dos artistas presentes mostrará uma selecção de obras suas criadas a partir do texto de Llansol.
2. Novos criadores na área das artes plásticas:
Um núcleo de cinco artistas plásticas com ligações ao universo de Llansol apresentará, numa exposição colectiva, obras originais executadas especialmente para o Festival. O colectivo intitula-se humor líquido e vê-se como «lugar de encontro e partilha de gestos criativos que se fundam na amizade e no olhar». A exposição colectiva, com obras de Anabela Mota, Catarina Domingues, Marta Castelo, Sara Belo e Teresa Projecto, intitula-se rumor, e prevê-se a publicação de pequenas edições de autor (edições humor líquido).
3. Instalação: A fotógrafa Teresa Huertas, que já por duas vezes colaborou com o Espaço Llansol, mostrará duas instalações inspiradas na escrita de Llansol.
IV – MÚSICA
- Coro Feminino de Lisboa: actuação com uma peça expressamente composta para a ocasião pelo compositor João Madureira, incluindo o programa também composições clássicas mais ouvidas por Maria Gabriela Llansol.
Poderão ainda ouvir-se algumas peças anteriores de João Madureira compostas a partir da Obra de Llansol.
- Composição de Pedro Fontainhas para piano, a partir do Texto de M. G. Llansol, com interpretação de um grupo de quatro jovens músicos constituído por Cristina Rogeiro (voz), Manuel Oliveira (piano), João Carvalho (cajon) e Ana Roque (baixo). No bar-livraria Menina e Moça, Cais do Sodré.
V – FILMES
1. Sobre o universo Llansol:
Ao Lugar de Herbais: filme de Daniel Ribeiro Duarte [2012, 30 min.]
Tendo como ponto de partida a casa de Sintra, que acolheu o espólio de M. G. Llansol, procura-se criar um trajecto entre fotografias, textos, objectos e filmagens realizadas in loco, relacionado com o lugar de Herbais, na Bélgica, onde Llansol vive e escreve durante os últimos cinco anos do exílio (1980-1984), desenvolvendo aí o grande projecto «Lisboaleipzig» e expandindo como nunca antes o seu mundo figural.
2. A escolha de Llansol:
O filme de Gabriel Axel, A Festa de Babette [1987, 1h 40  min.], a que a autora dedica algumas páginas no seu livro Um Beijo Dado Mais Tarde:
«________ hoje, 24 de Janeiro de 1988, vi, em Lovaina,
um filme inesquecível de Gabriel Axel, Le festin de Babette, sobre a última ceia.
[...] Numa história, há (ou não há) um momento de desvendamento a que se chama sublime. Normalmente breve. Como penso que um leitor treinado já conhece todos os enredos, quase só esse momento interessa à escrita. []
Isso aconteceu na segunda metade do filme.
Foi um jantar rigoroso, em que o paladar trocava
 o amor com os alimentos, em que os doze convivas, abrindo-se ao prazer da boca e do olhar, rememoraram e tornaram presentes as pessoas, nos acontecimentos de ouro de suas vidas. []
Eu via, no desenrolar dessa ceia, a manifestação dos bens da terra. O conhecimento que traz abundância, a ponto de tornar generosos os homens. O prazer do Amante e a alegria de viver não podiam faltar a um tal festim.
E, na realidade, assim foi.»
VI – PERFORMANCE
1. «Rochedo»: Performance de Rita Roberto/Pedro Ferreira
3. Miguel Bonneville: O Princípio de ______________
Uma performance musical «a partir de uma parte da obra de M. G. Llansol que idealmente não teria princípio nem fim».
4. Cátia Sá Pereira :
Leitura cantada de textos de M. G. Llansol sobre a temática da Palavra.
VII – INFANTIL
1. Amar Um Cão em versão de Hélia Correia, lido aos mais pequenos:
A partir da leitura, pela poeta e performer Marta Bernardes, do texto de Hélia Correia O Regresso de Jade, desenvolver-se-ão capacidades imaginativas e conhecimentos factuais das crianças. Com a presença da escritora e da nossa colaboradora Helena Alves, haverá, entre outros momentos, oportunidade para conhecer, tocar, cheirar diversas ervas mais ou menos conhecidas, como a história propõe e o cão Jade escuta:
«Nomeio-lhe
a tília, a erva cidreira, a lucialima, o pessegueiro de jardim, o loureiro, sementeira das plantas aromáticas da Provença, o linho, a salsa, os coentros, a arruda, meio da terra formada por bancos de pedras circulares ___________ o alecrim, a sálvia, as chagas, o rosmaninho.
Leio alto para as plantas...»
[Com um «Caderno da Letra E»]

2. Oh, oh, oh, a Casa da Avó:
Em 1975, Maria Gabriela Llansol escreve (em francês) com as crianças da Escola La Maison, na Bélgica, a história intitulada Oh, oh, oh, la maison d'en haut, que gerou também uma série de setenta desenhos feitos pelas crianças, e que se conservam no arquivo do Espaço Llansol. A partir da história, na sua versão portuguesa (que editaremos num «Caderno da Letra E» com o texto, os desenhos e um ensaio de Augusto Joaquim), pode desenvolver-se um atelier de leitura e desenho de criação colectiva, que será orientado pelas colaboradoras do Espaço Llansol Albertina Pena e Celeste Pedro.

VIII – ACTIVIDADES PARTICIPATIVAS
1. Oficina de leitura (com Isabel Santiago e Anabela Farinha) a partir de textos de Um Beijo Dado Mais Tarde e um caderno de desenhos elaborados por Teresa Projecto.
2. Conversas dos artistas presentes nas exposições com crianças de várias faixas etárias, centradas nas exposições e na sua relação com o universo de Llansol.
[Com a participação de colaboradores/as e amigos do Espaço Llansol Bruno Pimentel, Isabel Santiago, Anabela Farinha, Teresa Projecto].
3. Mini-oficina de cinema inter-geracional:
por «Os Filhos de Lumière», a partir do texto Amar Um Cão.