A partir de agora, os trabalhos produzidos por membros do Espaço Llansol, e outras edições relacionadas com a Obra de Llansol, serão editados pela Mariposa Azual, em estreita colaboração com a nossa Associação. A Obra inédita de Maria Gabriela, derivada dos cadernos manuscritos e outros materiais do espólio, sairá naquela que já era a última editora das suas obras em vida, a Assírio & Alvim, a partir de 2009.
29.9.08
A partir de agora, os trabalhos produzidos por membros do Espaço Llansol, e outras edições relacionadas com a Obra de Llansol, serão editados pela Mariposa Azual, em estreita colaboração com a nossa Associação. A Obra inédita de Maria Gabriela, derivada dos cadernos manuscritos e outros materiais do espólio, sairá naquela que já era a última editora das suas obras em vida, a Assírio & Alvim, a partir de 2009.
Publicado às 11:34
26.9.08
É claro que a primeira trilogia de M. G. Llansol se chama «Geografia de Rebeldes», é claro que o título do livro que em Espanha se chama La Vida Restante é em português A Restante Vida. Quanto à «Trilogia de Rebeldes», fui levado, sabe-se lá por que perversidades do inconsciente, pela indicação da segunda badana da edição espanhola, onde se apresenta a «Trilogía Geografía de Rebeldes».
Mea culpa!
Publicado às 11:25
24.9.08
A badana deste volume faz uma excelente síntese de «Geografia de Rebeldes», uma leitura única dos destinos da Europa (e da Ibéria) à sombra da grande figura tutelar de Ana de Peñalosa, a grande mãe dos rebeldes e iconoclastas, figuras «de rara presença», de que se alimentam estes primeiros livros.
E em breve virão outras edições de textos éditos e inéditos, em revistas e em livro, em Portugal, Espanha, França, Suíça e Itália, confirmando, depois da morte, o que Llansol deixou escrito em vida: que o texto é «um lugar que viaja».
Publicado às 13:53
20.9.08
Em Sintra, nos últimos anos, era só Melissa, a gata de pêlo macio e farto, branco-e-amarelo, olhar doce, que a Maria Gabriela sempre viu e tratou como ser inteligente e superior. Nunca se aproximou muito do comum dos mortais, quero dizer, daqueles que, a partir de um certo momento, visitavam a casa e acompanhavam a Maria Gabriela. O primeiro dia – melhor, noite – em que senti que Melissa me aceitou e falou foi na noite em que Augusto Joaquim nos morreu. Nos morreu é a expressão certa, porque o Augusto já era nosso havia algum tempo, e porque, literalmente, nos morreu ali, na cama nova que eu montara, serenamente, sem dramas – a mim, à Maria Gabriela, à Vina e à gata. Melissa, que até aí disparava como uma seta pelo corredor fora assim que entrávamos, para se refugiar na cozinha ou mesmo no telhado, nessa noite chegou-se, mansa, e deixou que lhe tocasse pela primeira vez.
Mas só se tornaria verdadeiramente sociável na fase de doença da Maria Gabriela, e sobretudo nos meses que se seguiram à sua passagem, quando nos esgotávamos a desarrumar- arrumar-desarrumar a casa e nos espantávamos com a descoberta progressiva do espólio. Aí, Melissa rondava, olhava, falava, conversava mesmo, oferecia-se, exigia atenção. Que de todos recebia, até mais do que quando estava sozinha com a dona. Agora vive em feliz relação de facto com Emily Duncan, pequena dama arisca, vestida de preto-e-branco, e que já deve ter aprendido com a mais circunspecta Melissa alguma sabedoria de vida.
Um destes dias, Melissa e Emily D. receberam visitas, três de uma vez, no seu novo domicílio de Janas. Todos pequenos, todos curiosos, todos atenção.
E um deles, o Leonardo, de 3 anos, sem que ninguém lho pedisse, pediu lápis de cor e deixou no papel um redemoinho, formas dinâmicas e cores justas, o olhar de Melissa, o corpo-novelo de Melissa, o registo pictórico intuitivo e centrifugado de Melissa, a evocar a escrita das essências e o movimento do olhar que transforma imagens reais em figuras potenciadas e vibráteis nos textos de Llansol. Chamou-lhe simplesmente «Melissa», e o resultado foi este:
Uma Melissa «moderna» — estatuto que Llansol não reclamava para si, mas que um dia descobriu que se ajustava a Melissa, e fixou-o nesta «estância» de O Começo de Um Livro é Precioso (Assírio & Alvim, 2003):
Os olhos que se lhe abrem de manhã saem
Rapidamente para o telhado e para os sons
Que, imagino, escuta pela abertura das pupilas.
Os extremos da rua, onde nunca foi, dizem-lhe,
Todavia, que alguém passa para ela, Melissa,
Não para mim, para ela, com o som cadenciado
Dos sinos actuais, já modernos. E tropeço.
Moderno é um termo que me intriga, que briga
Comigo, que não se torna compreensível,
Nem no limiar dos sinos. Tomo-o por uma
Abstracção indecisa, um prazo que trai um
Evento futuro sem, contudo, o espelhar. Em suma,
Pouco se distingue das extremidades da rua
Onde nunca foi. É uma palavra irresponsável,
Sem resposta para o antes, o decurso e o depois.
E, quando assim concluo, Melissa é moderna,
Actualiza, obriga-me a descer à rua inquirir
De visu o que, desde então, se alterou.
Publicado às 18:51
A ÍNDICE evoca Llansol publicando alguns fragmentos dos Cadernos inéditos, e abre com um texto de Maria Etelvina Santos que ilumina os modos e os caminhos da escrita de Maria Gabriela Llansol:
Longa vida à ÍNDICE!
Publicado às 18:10
15.9.08
A dívida de Eduardo Lourenço
Na entrevista que deu à revista LER-Livros e Leitores, publicada no último número (Setembro 2008), Eduardo Lourenço refere-se à Obra de Maria Gabriela Llansol como aquela em relação à qual sente que tem uma grande dívida a saldar, por não ter escrito mais demoradamente sobre ela. Com a clarividência e a acuidade que lhe conhecemos, o ensaísta acerta em cheio ao reconhecer o lugar ímpar ocupado por esta Obra no século XX pós-pessoano, considerando-a, por paralelo com a do próprio Pessoa, «o próximo grande mito literário português». Lapidar e fulgurante, também ele, ao assinalar nestes termos o lugar de Llansol na literatura portuguesa do últimno século. Até mesmo quando, de forma apenas mais estranha para quem o não saiba ler, fala da «seita» de admiradores, e desta Obra como «desagradável». O que se esconde por detrás de tais termos, e o conjunto do depoimento de Eduardo Lourenço confirma, é que estamos perante uma Obra que se pode dizer, em duplo sentido, «de eleição»: são poucos os que a escolheram e escolhem (o que pode ser ilusório, neste momento em que nos chegam com frequência notícias de novos entusiastas), acabando inevitavelmente por ser escolhidos por ela; e perante uma forma de escrita que nunca abdicou dos princípios que um dia, ao ver-se «sem normas» no panorama que a rodeava, para si mesma traçou, à margem do conforto a-problemático da tradição realista, do nosso sentimentalismo lírico de sempre e também de alguma dureza, toda mental, da herança modernista. Um dos mais arriscados – mas também mais desafiantes e gratificantes – desses princípios, para aquele tipo de leitor que este Texto criou, e a que chamou «legente», é o do «pacto de inconforto» (de «des-agrado», diz Eduardo Lourenço) que a Obra de Llansol pressupõe. Um pacto que não é súbito, que exige persistência e que acaba por se transformar em fonte de prazer e descoberta constante. O «mistério» deste encontro e desta entrega, explica-o a própria autora em Lisboaleipzig - O encontro inesperado do diverso: «se o coração persiste em ler, é porque há nele um fulgor estético que ilumina o próximo passo, e o faz apoiar no detalhe justo e irrecusável.» É também isto o que quer dizer Eduardo Lourenço quando conclui: «Quem a encontra é difícil não ficar fascinado por essa escrita.»
Reproduzimos a seguir as passagens sobre Llansol na grande entrevista de Eduardo Lourenço à LER.
Publicado às 17:48