25.8.07

Para o Eduardo, um beijo de Témia
























"Qualquer leitor pode bater à porta e entrar. O que o aguarda é apenas a serenidade e a justeza das coisas evidentes: pão, água, o convívio com as plantas e os animais, alguma luz mesmo de noite, alguma noite no corpo da própria luz. E o amor como partilha do mais difícil."

Eduardo Prado Coelho, in Público, 11 Junho 1991





________________ O caderno do pão (Outubro de 1992)





















Olho ___ e é como se estivesse já escrito. Está, de facto, já escrito _______________________ a escrita antecipada abre-me o olhar. O que sucedeu hoje, com Témia __ figura de rapariguinha muito jovem que me enviou num bilhete postal o Ed[uardo] Prado Coelho ao ler "Um Beijo Dado [Mais] Tarde".
Dirijo-me a ela, vendo-a sobre a cómoda, e sorrio. Tudo aconteceu espontaneamente quando o meu olhar desceu das flores para ela.
O quarto já estava escrito às três horas da tarde. É assim que eu me rodeio dele - e me sento à mesa
Para comer
a sensação plena do pão do mundo
que me invade

13.8.07



Do Diário 46



… Quem cuspiu
foi a mão

que segurava

a caneta

pois ela é

verdadeiramente

imprescindível ______

_______ para escrever,
mas, sobretudo,
dar a ler com
a recta intenção
da manhã q[ue]
se levanta
O resto____

senhores e senhoras

pássaros, fugi ____

isto é











Portugal decadente

ou Europa que

se portugalizou.

Mas eu amo o sinal

deste espaço que é a

sua língua e os
seus vivos habitan-

tes inocentes.
Não vos declaro a

guerra, pois sois

inexistentes. Mas
para esta paisagem
onde o ar das borbo-

letas ainda é possí-
vel no princípio

das palavras que vão jorrar a
limpo
____ não passareis








sem corpo são, visível,
responsável e sonoro




12.8.07



Meus sentimentos tocam as trombetas da alvorada _______ é amanhecer. Uma brisa provoca-os e eles aglomeram-se junto de mim, e eu procuro um cão amestrado e fiel para os guardar. Esse cão chama-se JuÁ. Ju, de Júbilo, A, de Alegria.
E assim me levantei de uma manhã (alvorecer) de domingo. Sinto que, de novo, um livro vindo de longe, prolongado e uno, me espera para entrar na língua portuguesa, e me toca; às vezes, me confrange.

"Um dos primeiros dos meus afectos é aos livros abertos, que
se suicidam em cada página, para renascer na próxima linha".






JUÁ - s.m. 1. designação comum a algumas plantas da fam. das solanáceas, esp. dos gén. Solanum e Physalis; 2. m.q. Juazeiro (Ziziphus joazeiro); 3. fruto do juazeiro. Etim. tupi yu'a "designação comum a diversas plantas da família das solanáceas"; segundo Teodoro Sampaio "fruta do espinho"; f. hist. 1663 joà, 1702 joás, 1875 juá.
juá-açu - ginjeira-da-terra (Prunus sphaerocarpa);
juá-amarelo - de folhas ovais e bagas globosas; juá-listrado, juazinho-amarelo, melancia-da-praia.
juá-arrebenta-cavalo; juá-branco; juá-bravo; juá-de-capote; juá-grande; juá-mirim; juá-miúdo; juá-mole; juá-uva.

juazeiro - árvore com comprimento até 10 m (Ziziphus joazeiro), da fam. das ramnáceas, nativa do Brasil, de folhas serreadas e trinérveas, inflorescências em cimeiras globosas, drupas amarelas e comestíveis, casca amarga, adstringente e febrífuga; joazeiro, juá.

(in, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)


2.8.07



EDIÇÕES DO ESPAÇO LLANSOL

O Espaço Llansol edita, e continuará a editar, uma série de Cadernos Llansolianos que vai já em onze números, e eventuais publicações soltas sobre temáticas relacionadas com a Obra de Maria Gabriela Llansol. Todas as edições da Associação poderão encontrar-se, a partir de meados de Setembro próximo, nas seguintes livrarias:
— LISBOA: Assírio & Alvim, Ler Devagar, Lácio e Colibri (n
a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova)
— PORTO: Leitura e Faculdade de Letras.

Podem também ser pedidas directamente à distribuidora:
NOVA OPTIMAPRESS
Rua de Alba Plena, 7 – 2705-134 Colares
optimapress@sapo.pt

Tel.: 21.9283451

Edições disponíveis:



Vivos no meio do Vivo

3º Colóquio sobre Maria Gabriela Llansol.
Mourilhe, Julho de 2005
4 cadernos e um DVD, em caixa (€ 15,00)
(ver índice aqui)





JADE — Cadernos Llansolianos
(€ 3,00 cada):













1. M. G. Llansol/A. Joaquim/J. Barrento/
Maria Etelvina Santos,
À Beira do Rio da Escrita














2. Augusto Joaquim, Nesse Lugar
(Três frases de O Livro das Comunidades)













3. Llansoliana (I): Bibliografia activa e passiva
(2ª edição)














4. João Barrento, A Chave de Ler
(Caminhos do texto de Maria Gabriela Llansol)
(esgotado)














5. Pedro Eiras, O texto sobrevivente
(Lendo três Lugares d’ O Livro das Comunidades)














6. João Barrento, A voz dos tempos e o silêncio
do tempo (O projecto inacabado da História em
O Livro das Comunidades
)












7. Augusto Joaquim, Aos Fiéis do Amor.
Lugar cénico para O Livro das Comunidades
(caderno duplo)














8. João Barrento, Metanoite. Libretto
(a partir de O Senhor de Herbais e de outros livros
de Maria Gabriela Llansol)














9. Hélia Correia / João Barrento /
Maria de Lourdes Soares / Pedro Eiras,
O Livro das Transparências
(Leituras de Amigo e Amiga. Curso de silêncio de 2004)














10. Llansoliana (II). Bibliografia comentada
de Maria Garbriela Llansol (1962-2006)














11. João Barrento / Maria Etelvina Santos /
Cristiana Vasconcelos Rodrigues
Um Ser sendo. Leituras de
Amar Um Cão


1.8.07



Partícula 42 – Bach traz os cantores de leitura

__________ enquanto o autocarro corre pela estrada,
eu me sinto, como outrora, nas mãos da pequena planta de água, filomenón,
a falar-lhe do que Aossê queria saber.

Mas esta hora consciente da vigília de ontem é tão deslumbrante que só uma pergunta “Onde falta o conhecimento?”, me conduz a um estado latente de meditação, até que me dou conta de que estou pensando na Casa da saudação, ainda vazia, desde que vi entrar pela única porta uma mulher de idade avançada, de calças largas azuis e túnica branca que tinha marcada a beleza do conhecimento na sua face, e certamente a trouxera sempre através da sua longa vida.

Em todos os outros rostos, no autocarro – notei –, não existiam sinais de beleza do conhecimento. Estremeci por dentro:
– É Anna. É Anna Magdalena.
– Vim para ensinar Rorante a amamentar Lós – disse, dirigindo-se a mim: – Johann já está na tua Casa, eu sei. E os cantores de leitura estão quase a chegar.

Calou-se, e eu abri-lhe a cancela.

De: Os Cantores de Leitura (inédito)