29.9.13

PRIMEIRA NOTÍCIA SOBRE O NOVO «LIVRO DE HORAS»

O blogue Tudo sobre Sintra – a quem agradecemos desde já a notícia – deu, depois de nós divulgarmos o programa das Quintas Jornadas Llansolianas de Sintra (ver, nesta página, o dia 7 de Setembro), a primeira informação sobre o novo volume do «Livro de Horas», com o título Numerosas Linhas, que estará nas livrarias em 4 de Outubro, como noticia também o Diário Digital de hoje.



7.9.13

«TRANS-DIZER»
AS QUINTAS JORNADAS LLANSOLIANAS 
DE SINTRA

Maria Gabriela Llansol usa, em Os Cantores de Leitura, a expressão «transdizer» para referir as várias formas de passagens implicadas nos processos de tradução. São esses processos, nas múltiplas variantes que os configuram, que estarão presentes nas próximas Jornadas Llansolianas de Sintra, que terão lugar em 12 e 13 de Outubro no Palácio Valenças.
As Jornadas deste ano reunirão em Sintra seis tradutores de Llansol (de Espanha, França, Alemanha, Áustria e Estados Unidos), vários artistas que «traduziram» o texto de Llansol para outras linguagens (pintura, desenho, cinema, música) e escritores, professores e actores que comentarão e lerão as singulares versões de poetas franceses por Maria Gabriela Llansol.


Desde que começou a escrever o livro-fonte de toda a sua Obra, O Livro das Comunidades, que M. G. Llansol «traduz» – se por isso entendermos uma espécie de osmose com os autores que traz ao seu próprio texto, assimilando-os discretamente, saqueando os seus textos para os transmutar numa troca intertextual que, desde João da Cruz, vai dando corpo a um eterno retorno do outro no mútuo; ou ainda trazendo à casa da língua portuguesa (sob pseudónimo ou com nome próprio) poetas e outros autores, predominantemente de língua francesa. De um modo ou de outro, traduzir nunca é, para Llansol, um gesto unidireccional ou um mero ofício de palavras. Traduzir é trans-dizer. Traduzir o outro arrasta consigo mundos, é um acto homofágico e uma ressonância osmótica, uma cor-respondência com esse outro. O que diz muito sobre a natureza tão singular das versões llansolianas. E ser traduzida por outros – em linguagem verbal ou noutras – implica igualmente tomar consciência desse salto.
Destes e certamente de muitos outros tópicos se falará nas Jornadas deste ano, de que deixamos já aqui o programa, que inclui ainda apresentação de novos livros e um filme excepcional sobre os caminhos e descaminhos desta múltipla prática das passagens.

1.9.13

O BANQUETE, OU DO AMOR

Recebemos no sábado, último dia de Agosto, que já anuncia o regresso às actividades regulares, uma visita, não propriamente inesperada, mas muito desejada. A Sílvia, Sílvia das Fadas, como gosta de ser chamada, veio da Califórnia, e daqui a pouco lá estará de novo para estudar e fazer o cinema que para ela faz mais sentido. E voltou ao lugar onde, durante uns dois anos, ajudou a tratar e a tornar disponível o espólio da Maria Gabriela e nos acompanhou em algumas das andanças – filmagens e fotografias – que fizémos para a exposição do CCB em 2011, e para outros projectos futuros.
A Sílvia era a mola do sonho no Espaço Llansol, e nós fizémos-lhe ontem uma pequena festa de despedida antes do regresso ao Californian Institute of the Arts. O Espaço Llansol – que, para além de lugar de trabalho contínuo e rigoroso, é também paisagem de muitos afectos e de memórias – vibrou com uma vibração especial durante este sábado, com a presença da Sílvia e com o almoço que preparámos para ela, aproveitando o saber da Helena, que transforma alimentos em obras de arte e ementas em poemas! 

Foi um pouco assim como naquele lugar perdido da península da Jutlândia onde acontece O Festim de Babette, esse filme que Maria Gabriela Llansol evoca em Um Beijo Dado Mais Tarde. Voltamos a oferecer aqui alguns fragmentos dessas páginas à Silvia (levemente ajustados ao nosso reencontro), que os levará para a Califórnia como testemunho de afecto e da memória de um tempo que poderá sempre voltar a acontecer neste Espaço que, em dias como estes, e outros, se transforma verdadeiramente em Lugar:

(Clique nas imagens para aumentar)
Foi um almoço rigoroso, em que o paladar trocava o amor com os alimentos, em que os dez convivas, abrindo-se ao prazer da boca e do olhar, rememoraram e tornaram presentes as pessoas, nos acontecimentos de ouro das suas vidas: cristal, ouro, prata, iguarias, arte de preparar os alimentos reuniram-se no momento único do almoço em que não houve traidor [esta não foi uma Última Ceia!].
[...]
Eu via, no desenrolar dessa refeição, a manifestação dos bens da terra. O conhecimento que traz a abundância, a ponto de tornar generosos os homens. O prazer do Amante e a alegria de viver não podiam faltar a um tal festim.
E, na realidade, assim foi...

Era isto o que nós queríamos dizer à Sílvia, ou Témia, ou a Rapariga que temia a impostura da língua e das imagens....