O ESPAÇO LLANSOL, OS EQUÍVOCOS
DO «MAL DE ARQUIVO» E OUTROS MALES
Andam espectros pela Net. Boatos,
calúnias infundadas, difamações de baixo nível, insinuações cobardes. Muita
ignorância e petulância. Vem acontecendo há mais de um ano, por vozes oriundas
do outro lado do mar, através de um blogue com um título enganador, retirado de um texto de Maria
Gabriela Llansol, cuja Obra vem, há anos, sendo despudoradamente saqueada,
instrumentalizada e banalizada por pretensos «escritores» d' O Fio de Água
do Texto – assim se chama o sítio, ele sim, um verdadeiro arquivo do mal (hélas!
não se pode fugir ao arquivo!) que sistematicamente destila
veneno, a pretexto de «declarações de amor» (!) a Maria Gabriela Llansol, ela
mesma, e de umas «Conversas com Llansol» e outras inimagináveis e delirantes manifestações
de kitsch e má fé. E assim o fio de
água alimentado a partir de Belo Horizonte se transforma na água suja onde
«poetas» e «artistas» vazam os seus delírios pessoais, as suas frustrações e a
sua raiva (por não poderem apropriar-se como desejariam do texto de Llansol nos
seus territórios), a sua prosa ou poesia extática, de olhos em alvo (que
confundem com escrita viva, autêntica, «inspirada» em Llansol: temos muitos
testemunhos desses, enviados à autora, nos nossos «arquivos do mal»!) E depois vêm as críticas esfarrapadas, redutoras e parciais a livros cujo alcance não alcançam. E caem
sobre nós as ladainhas que transformam esse texto em objecto de adoração
acrítica, provinciana, de um mimetismo primário que só mostra a incapacidade de
pensar esta Obra por parte de quem assim rabisca sobre ela meros derrames
emocionais, e sobre o Espaço Llansol lança a peçonha da inveja e da
provocação permanente. E nem a pobre Melissa, a gata que foi de Maria Gabriela Llansol e continua a viver feliz, escapa às torpes invectivas. Ataques onde se ouvem, não apenas insultos pessoais, mas
também o denegrir sistemático do trabalho que vimos fazendo e, com isso, da
memória de Llansol, que no-lo confiou – até ao limite da xenofobia explícita,
quando nos apontam como parte de «portugais morrendo à míngua», a nós, que
estamos, com Llansol, claramente à margem dessas portugalidades! Naturalmente,
tudo em vão. Desiludam-se, o nosso caminho está traçado, aqueles que prezamos e
realmente contam estão connosco, e nada vai alterar a nossa rota! Chegou o momento de revelar à opinião pública portuguesa (e também brasileira), que conhece e tem reconhecido o trabalho do Espaço Llansol, a dimensão absurda do que está a acontecer.
A
última fase do pasquim digital O Fio de água do texto ocupa-se do
«mal de arquivo». A expressão, como se sabe, foi usada por Jacques Derrida, no
livro Mal d'archive. Une impréssion freudienne, que derivou de uma
conferência em Londres, em 5 de Junho de 1994, num colóquio sobre o tema
«Memory: The Question of Archives». O Espaço Llansol seria agora, para os «dez»
do Fio de água... e seus seguidores
cegos, a encarnação perfeita desse mal. Uma vez mais, como acontece quando manipulam o texto de
Llansol, descontextualiza-se para atacar e denegrir. No «grupo dos dez», a
mestra dá o mote e seguem-se as glosas dos acólitos, imitando cegamente... Sejamos então didácticos, para esclarecer esse tão mal tratado «mal
de arquivo», mal necessário, e exigente de um rigor que eles não conhecem, que
praticamos em tudo o que fazemos, na «Letra E», a da alegria e da beleza
partilhadas, e na
"Letra F", a do dito arquivo – que, de facto, o não é, mas eles não
sabem, porque nunca o quiseram conhecer. A única vez que o fizeram, de forma
superficial, ligeira, como em tudo o que fazem, e já mal intencionada, foi para
produzir um objecto inenarrável de mau gosto e de ilegalidade, um livro que usa
abusivamente o nome de Llansol e os seus textos, e os enfeita com uns «bonecos»
a que chamam arte...
Mas anotemos duas ou três coisas,
para que fiquem claras algumas confusões e a manipulação perversa do «mal de
arquivo» (que anda neste lugar do ciberespaço para continuar o bombardeamento
venenoso contra o Espaço Llansol), duas ou três coisas à l'adresse dos
discípulos directos, dilectos e incompletos de Freud e Derrida. Na
etimologia do arquivo (arkhé) estão sempre duas coisas: o começo
(a origem) e a ordem (a autoridade). Quando se entra no espaço do
arquivo (cujo fascínio só aqueles que nunca lá estiveram podem denegrir, por
ressentimento) sem a pretensão – que é a dos curadores da psique – de ser
arconte, autoridade, então escolhe-se! Pode escolher-se. Ou seja: a
busca da origem, a vontade de trazer à
luz alguns revérberos dela, não é necessariamente autoritária. Como o «pharmakon»
platónico, comentado também pelo autor de Mal d'archive, na sua
duplicidade produtiva de veneno e remédio, de mal e cura, que
gera a conhecida «indecidibilidade» desconstrucionista. Será que eles percebem que não
há maniqueísmo nestas coisas, que o próprio Derrida (e muito antes dele
Nietzsche) acabou há muito com os binarismos simplistas?
Derrida assiste-nos claramente
neste aspecto, ao afirmar que não há meta-arquivo. E mais: «Só se pode
iluminar, ler, interpretar uma herança inscrevendo-a irredutivelmente no
futuro». É o que estamos a fazer. Mais diz Derrida nesse treslido texto sobre o
«mal de arquivo» (que não é maléfico nem diabólico, é uma febre, um
entusiasmo!): «Guardar um arquivo, algo que ordena a memória e antecipa o
por-vir, impõe também dar morte ao arconte e a tudo aquilo que, na tradição, sustenta
a lei». Nesse texto, Derrida caminha progressivamente no sentido de dar razão
de ser ao trabalho de «arquivo» que vimos fazendo. Trabalho que não é apenas de
arquivo, porque acontece no espaço vivo, originário, do objecto único desse
«arquivo», a Obra de Maria Gabriela Llansol, que não é «senhora» de coisa nenhuma – como escreve a menina «j.», o olho dos «dez» nas nossas últimas Jornadas de Sintra –, mas uma presença constante e
dialogante para nós! Aquele nome
amputado, que não tem coragem de se mostrar inteiro, é o da cobarde assinatura,
trace envergonhada de quem tem medo,
mas não vergonha do que escreve sem fundamento, que nunca conheceu aquela
a quem chama «senhora» disto e daquilo, e que também nada parece saber daqueles
que agora não são cães de «guarda», como diz e repete, mas cuidam de manter vivo o nome e o texto dessa a quem insiste em chamar
«senhora», ignorando como ela detestaria ser chamada assim!
Enfim, Derrida liberta-nos do mal
de arquivo que atormentava Freud, quando escreve: «Pelo encontro com os espectros,
regressa fragmento a fragmento, uma semente de verdade indestrutível,
irredutível». Os nossos «espectros» são desta estirpe. Não almejamos qualquer
espécie de «poder» – ideia totalmente absurda que a menina «j.» desfia como um
autómato que ecoa «his master's voice» – pelo facto de organizar e tratar um
espólio, apenas vamos dando a conhecer o que não era conhecido, e que toda a
gente (menos os «dez» do ressentimento) reconhece como original e
revelador. E que, quer se queira quer não, é diferente do conhecido, não
anulando, obviamente, aquilo que conhecemos dos livros de Llansol. Só quem seja
maldosamente ingénuo, ou ignorante destas coisas, menina «j.» & Cia., pode
vir acusar-nos de pretender «mamar» no texto de Llansol, de andar a «brincar de
papai, mamãe e filhinha» na casa que foi dela (nós também lemos Deleuze, e
muitos mais, que para vocês são terra incógnita), de sermos «tradutores sem
fulgor», «cretinos que se escondem atrás
de outros cretinos», de querermos «a glória do
texto e a sua possessão», de «ter a fúria e o desejo de posse estampado no
rosto»! E que presunção, que desplante esse, menina «j.», de chamar estúpidos
aos «senhores» e «senhoras» de Sintra que, coitados, não percebem o que «está
fazendo muito mal a eles»! Já apanhaste o tique da análise? Queres deitar-nos no divã?
A questão — e a expressão «mal de
arquivo», que substitui no livro de Derrida a de «conceito de arquivo» da sua
conferência original – é a de toda a ciência moderna, de todo o mundo
contemporâneo, que passou do paradigma do conceito para o do arquivo, «gramatizou»
o vivo, foi capaz de criar desejo com
a técnica (é possível, como é possível criar vida a partir do arquivo – para
perceberem isto, leiam por exemplo Bernard Stiegler, esses que
não saem de Lacan e Blanchot e Blanchot e Lacan, coitados,
que não têm culpa, e que às vezes devem dar voltas no túmulo!). Querer diabolizar o arquivo,
de forma simplista, é sinal de pura
ignorância, é não entender Derrida, manipulando-o para proveito próprio, como
sempre fazem os imitadores de pacotilha, os epígonos e os denunciantes. Derrida, o do «mal de arquivo», já lhes disse isso
– mas eles não ouvem, ou não sabem ler!
João Barrento,
Hélia Correia (escritora, Espaço Llansol), Manuel Gusmão (escritor, Espaço Llansol), Maria Etelvina Santos (Investigadora, Espaço Llansol), Cristiana
Vasconcelos Rodrigues (Professora da Universidade Aberta, Espaço Llansol), Helena Vieira (editora, Espaço Llansol), Albertina Pena (professora, Espaço Llansol), Sandra Santos (distribuidora de livros, Espaço Llansol), Daniela Jones Oliveira (professora, Espaço Llansol)
e
Alfredo Ferreira dos Santos (aposentado, Carcavelos) | Ana Luísa Amaral (escritora e Professora catedrática da Faculdade de Letras do Porto) | Ana Maria Pereirinha (editora) | André Lamas Leite (advogado, Professor da Faculdade de Direito da Universidade do Porto) | Ângela Nobre (economista) | António Guerreiro (crítico literário) | Carla Faria (professora) | Carlos Couto Sequeira Costa (Filósofo, Professor da Faculdade de Letras de Lisboa) | Cândida Joaquim (Linguista) | Carolina Leite (editora, Pagine d'arte, Suíça) | Catarina Barros (livreira) | Celina Martins (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade da Madeira) | Cristina Isabel de Melo (tradutora e editora, Bretanha) | Cristina Maria Veora (jornalista e escritora) | Emília Reis (bancária, aposentada) | Fernanda Gil Costa (Professora catedrática da Faculdade de Letras de Lisboa) | Filipa Melo (jornalista e escritora) | Graça Martins (pintora) | Helena Buescu (Professora catedrática da Faculdade de Letras de Lisboa) | Ilda David (pintora) | Ilse Pollack (escritora, Viena) | Isabel Allegro de Magalhães (Professora catedrática jubilada da Universidade Nova de Lisboa) | Isabel Cristina Mateus (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade do Minho) | Isabel Santiago (professora de Filosofia) | Jaime Rocha (escritor) | João de Oliveira Cachado (professor, Sintra) | João Madureira (compositor) | Joaquim Costa Almeida (fotógrafo) | Jorge Fernandes da Silveira (Professor titular de Literatura Portuguesa, Universidade Federal do Rio de Janeiro) | Joel de Carvalho (professor de Educação Física) | Jorge Leandro Rosa (Professor da Universidade Lusófona, Lisboa) | Jorge Telles de Menezes (escritor, editor da revista «Selene-Culturas de Sintra») | José Manuel Mendes (Presidente da Associação Portuguesa de Escritores) | José Manuel de Vasconcelos (advogado e escritor) | José Santos Maia (artista plástico) | Júlia Studart (professora e escritora, Rio de Janeiro) | Luci Ruas (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade Federal do Rio de Janeiro) |Manoel Ricardo de Lima (escritor e Professor da UniRio, Rio de Janeiro) | Manuel Rosa (editor) | Manuela Parreira da Silva (Professora de Literatura Portuguesa da Universidade Nova de Lisboa, escritora) | Margarida Lages (IPAD, responsável pela edição das Obras de Eduardo Prado Coelho na INCM) | Maria Helena Guerreiro Alves (Recursos Humanos EDP, aposentada) | Maria João Reynaud (Professora de Literatura Portuguesa, Faculdade de Letras do Porto) | Maria de Lourdes Soares (Professora aposentada de Literatura Portuguesa, Universidade Federal do Rio de Janeiro) | Maria Madalena Fernandes (socióloga) | Maria Manuel Viana (escritora e professora) | Maria Paula Mendes Coelho (Professora da Universidade Aberta) | Matteo Bianchi (editor, Pagine d'arte, Suíça) | Mayara Ribeiro Guimarães (professora, Universidade Federal do Pará) | Paola Poma (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade de São Paulo-USP) | Paula Cristina Costa (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade Nova de Lisboa) | Paula Ruella (investigadora, História da Arte) | Ramón Parra Ibañez (estudante) | Rosa Alice Branco (escritora) | Sandra Varela (professora) | Sílvia Salgueiro (cineasta, Californian Institute of the Arts) | Sõnia Piteri (Professora de Literatura Portuguesa, Universidade Estadual de S. Paulo-UNESP) | Teresa Belo (professora, aposentada) | Teresa Cadete (Presidente do PEN Clube Português, escritora e Professora da Faculdade de Letras de Lisboa) | Winnie Wouters (doutoranda, Universidade Estadual de S. Paulo-UNESP)