|| O ENCONTRO INESPERADO DO DIVERSO ||
A grande exposição de Guimarães
O encontro inesperado do diverso
é assistir ao belo a comunicar com o silêncio;
a fraccionar as imagens nas suas diversas formas;
ajudá-las a levantar o véu para que se mostrem mutuamente
na beleza própria, e fechar os olhos para que se não rompa
a delicada tela desta vida,
ou então falar.
(Maria Gabriela Llansol, Lisboaleipzig)
O Jornal da Exposição
A exposição do CIAJG-Centro Internacional das Artes José de Guimarães, que inaugurámos no fim de semana com a pintora Ilda David', o fotógrafo Duarte Belo, o curador Nuno Faria e a equipa de produção e montagem da «Oficina», assinala mais um marco importante no esforço que vimos fazendo para manter viva, no espaço cultural português, a presença da Obra e do universo de Maria Gabriela Llansol nos últimos anos.
Uma iniciativa certamente inesperada para muitos visitantes, que não terão deixado de ficar surpreendidos com a concepção expositiva que lhe está subjacente e com as modalidades de ocupação dos espaços generosos do CIAJG. A exposição é, de facto, um espelho do universo relacional, em cadeia, de M. G. Llansol, onde tudo tem a ver com tudo e se ilumina mutuamente, sem hierarquias. Na nova «cosmogonia» que esta exposição constrói, objectos e obras de arte de diversa proveniência ganham uma nova «biografia» e um novo habitat que os lança numa renovada aventura, configurando o inesperado «atlas» que o título sugere. É a primeira vez que isso acontece a esta escala, graças ao empenho de Nuno Faria, à atracção que este lado do universo Llansol desde sempre exerceu sobre uma artista como Ilda David', e à extraordinária capacidade do fotógrafo Duarte Belo para o fixar, o ler, o recortar em registo fotográfico.
Trata-se, de facto, de um encontro feliz entre a original filosofia museológica deste Centro artístico de Guimarães («propor uma (re)montagem da história da arte, enquanto sucessão de ecos, e um novo desígnio para o museu, enquanto lugar para o espanto e a reflexão») e os princípios que desde sempre orientaram a escrita de Llansol e o seu relacionamento com o mundo, e continuaram a servir-nos de carta de rumos nas múltiplas actividades do Espaço que traz o seu nome e perpetua a sua memória.
Divulgação do novo ciclo de exposições do CIAJG (em hotéis, restaurantes, cafés)
O excerto de Lisboaleipzig em epígrafe resume, na definição que dá do «encontro inesperado do diverso», a tripla perspectiva que foi possível aperceber nestes dias em Guimarães: 1) o fraccionamento das imagens (de Ilda David' – em pintura, desenho, gravura, mosaico, bordado –, das composições fotográficas de Duarte Belo, de peças da colecção permanente do museu, e dos próprios objectos do espólio de Llansol), para evidenciar o princípio, pródigo em surpresas, de integração na diversidade que conduz o projecto; 2) os modos como essas imagens, nos vários espaços, se afirmam em si mesmas e se iluminam mutuamente nesse jogo de relações dinâmicas; 3) e, finalmente, o texto, a fala, as falas múltiplas que acompanharam a mostra – no «Jornal da Exposição», numa grande diversidade de material impresso de divulgação, distribuído por toda a cidade de Guimarães, e na sessão de apresentação da nova edição de Lisboaleipzig e das ideias orientadoras da própria exposição.
Nesta sessão, que ocupou a manhã de Domingo, dia 27, intervieram Nuno Faria, responsável pela exposição, Maria Etelvina Santos, que apresentou a nova edição do livro de Llansol, João Barrento, que situou este livro e a exposição no contexto da obra e do mundo de M. G. Llansol, e João Madureira, que, através da tripla relação Llansol-Bach-Pessoa/Aossê, trouxe a música ao universo imagético e literário presente na exposição e no livro. Ilda David' e Duarte Belo acompanharam depois o público que acorreu ao CIAJG numa visita guiada.
A mesa da manhã: João Madureira, João Barrento, Maria Etelvina Santos, Nuno Faria, Ilda David', Duarte Belo
As fotografias e o material de divulgação disseminado pelo CIAJG por toda a cidade, de que aqui reunimos uma amostra, poderão dar uma ideia deste fim de semana llansoliano na cidade que foi Capital Europeia da Cultura em 2012.