14.7.19

                  LER COMO QUEM DANÇA
                                    DANÇAR COMO QUEM LÊ

O grupo de doze mulheres vindas de Lugo/Galiza para nos comentar e mostrar a sua experiência de ler-dançar Llansol proporcionou-nos ontem uma tarde inesquecível. Numa primeira parte, Nieves Neira e o seu grupo falaram-nos deste projecto singular, mostraram um video que documenta a sua actuação nos claustros da catedral de Lugo em 2018, e apresentaram o livro Fulgor, onde reunem os fragmentos de Llansol que vamos ouvindo na leitura dançada que imaginaram.

O livrinho é uma preciosidade, e saiu numa editora (animada por duas das «beguinas de Lugo», María Grandío e Nieves Neira), com um nome – ÁMBOA – e uma história carregados de ecos, que podemos ler no marcador que acompanha o livro. E o azul forte que o atravessa é também o da gravura, em azul da Prússia, que acompanhou o lançamento do livro, uma obra de María Corral Fernández.

O desdobrável que distribuímos na sessão de ontem dá conta, nas palavras de Nieves Neira, que abrem o livrinho, deste modo singular de apropriação afectiva e artística das palavras de Maria Gabriela Llansol, num gesto de amor sive legens (que é o título, llansoliano, da introdução de Nieves Neira).

Depois, foi o belo espectáculo no pátio da Casa de Julho e Agosto, por entre objectos, panos, plantas deixados pela Maria Gabriela. Uma movimentação dinâmica que encheu o pátio de fragmentos, frases soltas, perguntas, repetições, de textos vindos dos mais diversos livros, que o corpo e a sensibilidade de cada uma das leitoras dançantes deles retirava. A sequência de fotos e a breve montagem em video dirão ainda melhor o que foi este belo momento, que encerrou as nossas actividades antes da pausa de Verão.
 
 

6.7.19

DANÇAR COM AS PALAVRAS DE LLANSOL

No próximo sábado, 13 de Julho, pelas 17 horas, recebemos um grupo muito especial de doze mulheres-beguinas vindas de Lugo, na Galiza. Dez delas apresentarão uma leitura dançada de textos de M. G. Llansol, no nosso pátio da Casa de Julho e Agosto, à semelhança do que já fizeram nos claustros da catedral da cidade galega.
Nieves Neira, jornalista e escritora de Lugo, principal animadora deste grupo de mulheres e grande legente de Llansol, teve esta original ideia, que apresenta assim no livro feito para esta ocasião (e que incluimos, completo, no desdobrável que distribuiremos):
 «Ler como dançamos? Da leitura conhecemos um corpo sentado, um corpo que se transformou com a aparição do alfabeto, que trabalhosamente inibiu outros sentidos em favor da visão. Anne Carson insinua em Eros-Poética do desejo que é da oposição entre um interior e um exterior, criada pela palavra escrita, que nasce Eros como obsessão na Grécia arcaica, e que a poética do desejo de que ainda hoje somos herdeiros se petrificou no espaço negativo da leitura, como também a ideia de que os livros diferem da vida. A Obra de Llansol convida-nos, no entanto, a reduzir e desfazer essas dicotomias [...]
Ler como dançamos: é o resultado desse jogo. A sua única regra foi a de deixar-se levar pelo afecto e pelo fulgor: ler em voz alta – do sussurro ao grito – só aquelas frases que despertassem esse afecto, que nos chamassem. E sublinhá-las sabendo que com esse gesto estávamos escolhendo os fragmentos que figurariam no livro que fizemos, aproximando assim com o lápis a mão que escreve da mão que lê, a mão que lê da mão que escreve...»
Esperamos por todos às cinco da tarde para um espectáculo certamente surpreendente. Antes teremos, na sala grande, a projecção de um video e conversa com as beguinas de Lugo sobre o livrinho que nasceu desta experiência, e estará disponível.