30.9.07



LLANSOL «MEGAVIBRÁTIL»


A Obra de Maria Gabriela Llansol parece ser cada vez mais um íman que atrai criadores de outras artes.

© Ilda David

© Duarte Belo

Depois da pintura (com Julião Sarmento, Manuel San Payo ou Ilda David'), da fotografia (Duarte Belo) e da música (Amílcar Vasques Dias, com Doze Nocturnos em Teu Nome, e João Madureira, com a ópera Metanoite), e também do documentário (o vídeo Redemoinho- Poema, em preparação pela legente brasileira, atenta e sensível, de Llansol que é Lúcia Castello Branco, realizadora de um outro documentário, Língua de Brincar, sobre o poeta Manoel de Barros, recentemente editado pela Quási), chegou a vez da dança e do cinema: Vera Mantero e Miguel Gonçalves Mendes (que fez antes o vídeo-retrato sobre e com Mário Cesariny Autografia - Reverso de Autografia, editado pela Assírio & Alvim) apresentaram, entre sexta-feira 28 e domingo 30 de Setembro, no Circular – Festival de Artes Performativas de Vila do Conde, o espectáculo Curso de Silêncio, uma criação de dança-cinema que parte do universo «literário» de Maria Gabriela Llansol (é o que diz a notícia de jornal, mas podíamos chamar-lhe antes espaço universal do humano e não humano posto em linguagem).


Os autores partem da noção llansoliana de «cena fulgor», e explicam no programa: «O núcleo das cenas fulgor pode ser uma imagem, um pensamento ou um sentimento intensamente afectivo.» Curso de Silêncio integrar-se-á também no Festival Temps d'Images, e poderá, assim, ser visto ainda em Lisboa no CCB, nos dias 3 e 4 de Novembro.
Esta performance de Vera Mantero e Miguel G. Mendes nasceu de numa ideia, arriscada hoje, a que a obra de Llansol lhes pareceu dar múltiplas respostas: o que é isso de «riqueza de espírito», como redefinir esta noção ambígua e quase perdida, que lugar existe para a sua prática no mundo contemporâneo, que gestos, que passos, que acções implica?


A estas perguntas respondeu a própria Maria Gabriela Llansol numa conversa que com ela fizémos (a Vina Santos – MES – e eu – JB), a pedido da Vera e do Miguel, em 28 de Julho passado, e de que reproduzimos aqui uma parte:



JB: A primeira questão, que era a de ordem mais geral que a Vera colocava, era um pouco, pelo que eu percebi, a ideia de fundo do filme que eles querem fazer: a do lugar do que ela chama a “riqueza de espírito” no mundo de hoje; se será preciso redefinir a noção… Eu pensei ontem que “espírito” é uma palavra um bocado caída em descrédito, hoje em dia. Mas há outros modos de dizer, por exemplo, formas de espiritualidade, o que é outra coisa.

MES: E a questão da “riqueza”…

MGL:
Sobre isso eu penso que não há “riqueza de espírito”, porque riqueza é um termo material e espírito seria algo de incorpóreo, portanto, essa associação não tem sentido; mas não interessa dizer o que tem sentido ou não, interessa dizer algo sobre isso. Acho que isso, para utilizar alguns adjectivos, é incomunicável, faz-se de imagens pessoalíssimas, faz-se do trabalho sobre a vida quotidiana de todos os dias, faz-se do mundo envolvente, isto é, é um trabalho em conjunto, de todos os indivíduos, em que o corpo é o suporte físico.

JB:
Era isso um pouco o que a Vera tentava perceber na segunda questão: como é que na prática se pode viver uma ou outra forma de espiritualidade, que gestos, que acções implica essa vivência concreta; e isso vai mais ao encontro do que estavas agora a dizer, não é?

MGL:
A vivência, a espiritualidade, chamem-lhe como quiserem, eu diria mais a vida imagética interior, eu diria mais assim…, é o produto de um cruzamento em que o principal actor é o que tem a vida espiritual, e pratica-se pela atenção; não tem momento de começar nem de acabar, está no próprio, portanto, é como quem diz: àquele que já sabe eu explicarei tudo, àquele que nada sabe eu nada poderei dizer.

JB: A sequência das perguntas leva para o que acabaste de dizer, sinteticamente: como é que se mantém isso a que a Vera chama “riqueza de espírito”? Está lá?

MGL:
Está lá, está…

JB:
Não tem que se manter porque…

MGL:
É quase impossível fazer um filme sobre isso, a não ser captar imagens; isso faz-se captando imagens. De outro modo, quem faz essas perguntas é como se não tivesse nenhum contacto com a vida espiritual.

JB:
A Vera Mantero pergunta também, no fim, de que imagens precisamos; essa é uma questão-chave.

MGL:
Precisamos de imagens de montanhas, de imagens de textos, de imagens de rios, de imagens dos seres que amamos, de imagens dos animais que amamos, e de imagens do nosso pensamento criativo, é isso.

JB:
Implícito na pergunta dela está também: para que é que servirão essas imagens.

MGL:
Elas não servem, elas são rainhas.

JB:
Pois. Essa frase é muito boa. Exactamente.

MGL: Quem mais serve, mais rei é. Mais soberano. Só que, no seu ser mais profundo, não tem a consciência disso. Saber-se quem se é, ou para o que se tende, é magnífico, é vida espiritual; saber-se quem nos chama é vida espiritual, ouvir, ouvir… Eu estou aqui convosco, e nós estamos a fazer o quê? A servir. A magnificência é de nós três. Mas é tão normal e tão natural, naturalíssimo…

MES:
É quase como respirar…

JB:
Podemos fazer só mais uma pergunta que a Vera Mantero coloca no fim, e que pode ser interessante. Ela pergunta: como é que se deu a viragem, se é que houve alguma viragem no teu caso, para este modo de estar no mundo e de ver o mundo; como é que esse corpo se tornou num corpo vibrátil, “megavibrátil”?

MGL:
Eu fui sempre assim. Mas o meu grande companheiro ajudou-me a ser assim. Como eu o ajudava a ele, e vós todos; a ligação à comunidade cria-nos.

JB:
Quero dizer, quando ela pergunta o que é que te levou para este universo, nós podemos pensar naquele momento em que tu própria dizes, nos teus diários: um dia vi-me sem normas. Mas isso só tem a ver com a escrita propriamente dita, saíste dum universo para entrar no teu próprio; mas a questão da vibração do corpo já vem desde as origens?

MGL: Desde que nasci. Lembro-me provavelmente de mim no ventre da minha mãe, acho que ainda me lembro, vagamente… e de mim ao colo da Maria Amélia. E depois devo dizer-vos que através da minha vida só houve uma pessoa ou duas…, sempre encontrei pessoas extraordinárias. E os homens eram extraordinários, os homens por quem me apaixonei ou amei, não importa — era o meu tio, era o Padre Armindo, e era o Augusto. Eram pessoas excepcionais. E já partiram todos. Mas, de certo modo, estão aqui. Eles estão é que é a palavra.

MES:
Isso tem a ver também com o universo das figuras, não é? Isso de estar sempre a falar uns com os outros.

MGL:
Tem. As figuras são imagens corporalizadas, e actuantes, e vivas, e tornadas humanas, quase…

MES:
Quase, porque o humano delas é diferente.

MGL:
É. O humano delas é diferente. A Etelvina percebe muito disto.

MES:
Não percebo, eu…

MGL:
Tu percebes. Também nasceste lá. O João também, nasceu aí…

MES: Já a cansámos muito?

MGL: Não. Fiquei feliz.

MES: Porque estamos a conversar. É um alimento de que nós precisamos todos, com a Maria Gabriela, e a Maria Gabriela connosco…

MGL:
É. Mas às vezes sinto-me muito sozinha; e esse alimento é fundamental para mim, ajuda a aliviar as dores; o tratar de assuntos como este…

MES:
… ver uma imagem ou outra…O caminho da vida espiritual também é alimentar o nosso dia-a-dia com essas imagens…

MGL:
Não, porque as imagens estão connosco, e nós não nos comemos a nós próprios. Nós fazemos o que vimos, e vimos o que fazemos, somos uma roldana.

JB:
Há aqui uma pergunta que revela uma certa preocupação, neste caso de dois artistas de uma outra geração, que estão aí no mundo, que têm de fazer coisas para serem vistas, a dança, o cinema; a preocupação da Vera Mantero numa das perguntas é a de saber como é que se sobrevive, no âmbito a que eles chamam artístico, neste mundo. Escreve-se para quê?, Dança-se para quê?

MGL:
Como eu faço. Escreve. Dança. Sê grande. Se for com altura suficiente, ver-se-á. Desde que sejas suficientemente grande, ninguém deixará de te ver. Podes ser tudo. Pois é, isto é muito a infância da arte. Mas vê-se que ela vai pelo bom caminho.



27.9.07


Como noticiámos aqui anteriormente, realizou-se no dia 5 de Setembro um Colóquio na Universidade de Liverpool, com a finalidade de assinalar os trinta anos da publicação de O Livro das Comunidades. Recebemos hoje o relatório-síntese dos trabalhos desse dia, que nos foi gentilmente enviado por Raquel Ribeiro, doutoranda naquela Universidade e, com Claire Williams, organizadora do Encontro.


LLANSOLLIVERPOOL:
GUIA DE QUESTÕES PARA DISCUTIR O LIVRO DAS COMUNIDADES


Como as figuras Llansolianas, disse Claire Williams (U. Liverpool) no início do encontro, “todos nós vimos de diferentes cidades e diferentes países (apesar de estarmos todos no mesmo século), falamos diferentes línguas e trazemos diferente bagagem connosco”. No encontro em Liverpool que, no dia 5 de Setembro, comemorou os trinta anos da publicação de O Livro das Comunidades, cada participante falou na língua em que se sentia mais confortável, o que fez do encontro de legentes uma pequena babel num sótão da Blackburne House.
Houve uma série de coincidências: tal como Ana de Peñalosa escrevia no topo da casa, também todos nos reunimos num sótão de um antigo colégio e hoje uma instituição para o ensino de mulheres. Além disso, a Universidade de Liverpool foi durante mais de trinta anos a “casa” do Professor Doutor E. Allison Peers, pioneiro de estudos Espanhóis no Reino Unido e tradutor de Teresa de Ávila e San Juan de La Cruz.

O desafio era ler O Livro das Comunidades trinta anos depois da sua publicação e tentar responder a uma série de perguntas. Talvez as respostas não tenham surgido como definitivas, mas o encontro proporcionou um guia de questões sobre a obra Llansoliana que todos os participantes empenhadamente se voluntariaram a responder.
“Este livro vai deixá-lo desconfortavel. Vai fazê-lo pensar outra vez sobre como a linguagem funciona, como se interpreta. Não é fácil de ler. Sofre mutações cada vez que se lê. Desintegra-se e reformula-se a si mesmo”, disse Claire Williams.
Paulo de Medeiros (U. Utrecht) foi o primeiro a fazer perguntas: Será O Livro das Comunidades uma “tentativa de escrita contra um vazio ou um paradoxo?”, perguntou, para depois afirmar que este livro é um “texto temporário sobre o que ainda está por vir; não é um programa ou texto embrionário: é um livro-questão, que levanta muitas questões e que nos deixa a fazer perguntas”.

Maria de Lourdes Soares (U. Federal do Rio de Janeiro) falou de uma obra “fonte da escrita e do lugar no mundo” e de Ana de Peñalosa, como “fonte-matricial”, “a maternidade de várias espécies”. Esse “medo florido da viagem”, de que Llansol fala no Lugar 26, é “impulsionador de novos textos”, e esse texto “acolhe o dom da generosidade, gerando novas configurações e desviando o fio da história”. “Ana — o seu nome começa e acaba num princípio: “a” amor porque se abre ao terceiro sexo em que a linguagem está separada do masculino e do feminino”, disse.
No texto, Llansol proporciona o encontro e, para Maria Carolina Fenati (U. Nova de Lisboa) “a comunidade é o mecanismo, a dinâmica do texto”. Segundo Fenati, “o texto avança por paradoxos num processo de desaceleração que desafia todos os hábitos”. O leitor terá de se confrontar com os seus códigos, com as comunidades em que está inserido, com o seu papel de cidadão ou de leitor.
Por isso, ler O Livro das Comunidades é como jogar um jogo. Mas Pedro Eiras (U. Porto) disse que não é possível fazer um “jogo das comunidades”. O texto llansoliano, disse Eiras, “não segue as regras de um jogo de linguagem, mas sim as regras incontáveis de inúmeros jogos, sempre surpreendentes. Esta escrita não é, portanto, estocástica, caótica, ela é simplesmente muito complexa: sobrepõe diversas linguagens, reconhecíveis ou não noutros textos de outros autores, e trabalha menos objectos do que um devir.”
A leitura do capítulo sobre O Livro das Comunidades em O Senhor de Herbais, por Francisco Serra-Lopes (U. Barcelona), trouxe alguma polémica ao encontro. O Livro das Comunidades confirma Llansol “na filiação mística”, mas as suas “consequências políticas não são apreciáveis”. Assim, “a congregação simbólica em torno a uma experiência-fulgor parcialmente traduzida na revolução de 1974 parece converter-se, na primeira obra publicada após o 11 de Setembro de 2001 — em certo sentido diabólica — num voto de isolamento e pessimismo.”
Raquel Ribeiro (U. Liverpool) fez uma leitura do Lugar 26 de O Livro das Comunidades, reflectindo sobre o modo como a geração de um monstro, no final deste primeiro capítulo da trilogia, despoletará uma série de novos seres.

Finalmente, a mesa-redonda sobre “Será Maria Gabriela Llansol traduzível?” juntou todos os participantes do encontro, mais os tradutores espanhóis Mercedes Cuesta e Mario Grande (tradutores para castelhano de O Livro das Comunidades) e Claire Williams (que está a ultimar a tradução para inglês). Depois de se discutirem diferentes excertos das primeiras páginas deste livro, e alguns conceitos que Llansol vai enunciando em toda a sua obra, concluiu-se que, para traduzir Llansol, é preciso chegar a um consenso entre intuição e exactidão.



26.9.07


AD LOCA LLANSOLIANA (1)

O meu país não é a minha língua,
mas levá-la-ei para aquele que encontrar.

M. G. Llansol,
Um Falcão no Punho,
Herbais, 13 de Agosto de 1981)


Fátima Rolo Duarte, uma portuguesa inteligente emigrada/ exilada/ retirada na Bélgica (como Llansol entre 1965 e 1985), fez há dias o périplo dos lugares llansolianos nessas paragens – a cidade de Lovaina, a vila de Jodoigne, a aldeia de Herbais. Assim, por esta ordem, do grande para o pequeno, do urbano para o rural, do deserto social para o jardim selvagem que o pensamento permite, e que permitiu que aí se escrevesse uma parte substancial da Obra insituável de M. G. Llansol.


A Fátima, que se interessa por tudo (quem navegar por este sítio facilmente constatará que assim é), mas é uma leitora desinteressada e sensível de Llansol (com isto quero dizer: que não persegue nenhum interesse particular, nem crítico, nem académico, nem de capela ou de culto, e se deixa apenas guiar na leitura por uma intuição certeira), colocou
online uma sequência fotográfica daqueles três lugares, «entre Leuven e Herbais (...), seguindo pelas palavras dela [MGL] o rasto do silêncio que continua a ser silêncio. Tal e qual. Herbais parado num dia de sol e céu muito azul, português.»


Vi as fotos – o
link segue dentro de momentos – e recordei o meu próprio périplo, a peregrinatio ad loca llansoliana de há três anos, sob um céu menos luminoso, num frio mês de Dezembro. Nas fotos da Fátima apercebo-me de pormenores que o olho da máquina foi captando e que reconstituem bem o olhar de Llansol sobre a Bélgica, fixado nos Diários e em O Senhor de Herbais: as sombras e os pormenores das casas, o hibridismo de espaços rurais já com tintas urbanas, os campos e a terra fria e plana, o recorte da meia dúzia de casas de Herbais no horizonte, uma ilha cheia de histórias mesquinhas que se repetem há séculos, a mancha do bosque (sombrio, como a alma de Llansol em alguns desses anos de desterro, e que só a escrita obsessiva e a dobra para dentro pôde iluminar), as empenas cegas ou em escada, e o tijolo, muito tijolo, quase só tijolo com ar sólido a prometer eternidade àquelas casas, pequenas e grandes, de campo e vila e cidade, e todas burguesas, dessa Bèlgica de ontem e de hoje, de que Llansol manteve sempre distância e que lhe serviu quase só de mata-borrão que ia absorvendo a «sobreimpressão» de uma língua levada de cá e de estranhas figuras descobertas lá, nesse pequeno mundo aparentemente tranquilo, mas dominado por ressentimentos. Com muito silêncio em volta.


Da distância, a Fátima fala desta perseguição de imagens e põe, como Llansol antes, o dedo sobre essa ferida dos estrangeirados e exilados, que não é saudade de «pátria» nenhuma, mas uma tristeza e um mal-estar pintados de indiferença e alguma ira: «... adorei andar à caça dos passos da escritora. Apanhei um dia de sol lindo, e conforme ia recordando
O Senhor de Herbais, partes que sei quase de cor, ia olhando e vendo para crer. Um filme e um mind map. Muito bonita a descida para o silêncio em Herbais, e depois isso de que me fala. As sombras e o contraste com a escrita da Llansol que, a meus olhos, vibra e é luminosa, tão densa como leve, as palavras bailam, não é fácil de ler mas não se pode dizer que seja difícil. Para dizer a verdade, sempre a achei inqualificável. Não a sei arrumar na estante: está à parte.
(...) Lembrei-me, enquanto ia por ali fora, como seria interessante e útil ter um documentário cuja
répérage fiz parcialmente. Mas aí em Portugal é difícil aceitarem coisas vindas de ninguém, como eu me sinto ninguém quando tenho de falar com Portugal. Mais facilmente vendo a ideia ao canal Arte. Portugal desertifica-se e daqui vejo o meu país eufórico com nada.»


Há textos de Maria Gabriela Llansol que dizem coisas parecidas. Vários, espalhados por livros publicados (escolheremos alguns para acompanhar uma próxima
peregrinatio fotográfica a estes e outros lugares do Brabante que viram nascer a escrita de Llansol) e pelas muitas dezenas de cadernos manuscritos que um dia talvez possam ver a luz do dia em letra impressa. Como o fragmento que publicámos em Agosto aqui.
E agora a ligação às fotos da Fátima Rolo Duarte, que podem ser vistas aqui.

J. B. (com F.R.D.)

10.9.07



O afecto toma notas. Cinge-o à cadeira em que está sentado, sentindo, desde a madrugada,
o sol a florescer pela janela.
Revolta rápida, a do afecto. Tem pressa de chegar ao alvo do problema, que se torna branco ___ uma autêntica pérola. A mãe.
O seu segredo é minúsculo e insondável, as núpcias da mulher amada com outro. Mas pressente que só o que conseguir enterrar na paisagem das ruas subsistirá. O resto é veneno, cobra, mordedura, que não consegue chupar se não for escrito;
nesta meditação,
o afecto lhe responde, e mais uma vez lhe diz “e o labirinto evasivo das ruas?”




Spleen, tédio, cafard. Imagina que toma café com alguém que se vai acendendo, como uma lembrança longínqua, na mão. Qual? Que lhe beija a mão, e ela desaparece, deixando-o a escrever e a ver na frente quem quiser. Basta o pulso que escreve desejar.



É o pulso que escreve. Os dedos orientam apenas a escrita. E quem lhe chama poema é o pensamento rotineiro, que não encontrou ainda outro nome. Mas não me iludo. Escrita esconde o que esconde _____