OS CANTORES DE LEITURA
Dentro de dias chegará às livrarias o novo livro de Maria Gabriela Llansol, Os Cantores de Leitura (Assírio & Alvim).
Todo o livro, na sua tripla fragmentação (partículas, duplos, contextos) vive da movimentação de figuras, novas e antigas, entre Casas, num vaivém contínuo entre lugares e momentos de escrita, leitura, contemplação, diálogo com as coisas, reflexão sobre o mundo. De partícula para partícula assistimos a uma espécie de sonho em que imagens contínuas, mas díspares, se vão mostrando, naquele que é provavelmente o mais livremente associativo de todos os livros de Llansol. No seu centro está a Leitura, leitura agora «cantada», resposta do texto à incapacidade de cantar do mundo, e «contraste» (i. é, marca de autenticidade) desta nova Comunidade de seres que vivem da e para a beleza do conhecimento e dos afectos.
Todo o livro, na sua tripla fragmentação (partículas, duplos, contextos) vive da movimentação de figuras, novas e antigas, entre Casas, num vaivém contínuo entre lugares e momentos de escrita, leitura, contemplação, diálogo com as coisas, reflexão sobre o mundo. De partícula para partícula assistimos a uma espécie de sonho em que imagens contínuas, mas díspares, se vão mostrando, naquele que é provavelmente o mais livremente associativo de todos os livros de Llansol. No seu centro está a Leitura, leitura agora «cantada», resposta do texto à incapacidade de cantar do mundo, e «contraste» (i. é, marca de autenticidade) desta nova Comunidade de seres que vivem da e para a beleza do conhecimento e dos afectos.
Transcrevemos uma das «Partículas» do livro e respectivo «contexto» (designações de uma estrutura fragmentária que sugere «leituras minimais que se correspondem conforme a transparência da sensibilidade de quem lê», Partícula 44):
PARTÍCULA 43 — O Livro dos Afectos
Uma das actividades mais misteriosas da escrita é, como diz Tual, dar
nome a um texto, vê-lo mudar de nome, e
guardar secreto esse nome.
Este é O Livro dos Afectos.
Exprime bem o que exprime; tem, contudo, uma conotação sentimental, romântica (muito ligeira, eu sei) que o torna mais frágil que o outro nome — Os Cantores de Leitura. Na realidade, é um nome forte, aberto, transversal, que inscreve uma distância sobreposta entre dois lugares. No entanto, o nome de O Livro dos Afectos, apesar de mais fraco, diz exactamente o que se passa nessa distância sobreposta. Se me perguntarem (de facto, já não perguntam) o que se passa neste texto, eu posso dizer, do meu ponto de escrita, que, na distância entre canto e leitura — dois lugares —, uma linhagem de seres visíveis e invisíveis revive o afecto, a miríade de afectos que soube e não soube viver,
antes de chegar.
seu contexto:
viemos até aqui, na forma da presença peculiar de
cada um, para tentarmos reviver, mais uma vez,
o que é o corpo,
o que é a luz,
o que é a força,
o que é o afecto,
o que é o pensamento,
o que é a figura.
Simplesmente procurar saber, no seu próprio corpo reflectido na imagem __________ na prática, seremos artesãos de tarefas simples, realizadas de modo impecável, como estamos a procurar fazer com Lós, que se tornou nosso filho. Embora ninguém saiba — sem pelo menos uma hesitação — o que é a responsabilidade de educar o sol. Seria fora de razão e prestar-se-ia ao riso acreditar, palavra por palavra, que tal aconteceu. Todos nós sabendo e não sabendo como nos tornamos sol consciente e livre, num texto aproximado
no seu próprio corpo reflectido na imagem _____
na prática do amor de afectuante para afectuante, o que é
o eterno retorno do mútuo.