1.7.18

«JADE» E «SOL» NA CASA DE JULHO E AGOSTO

Jade, o cão do futuro, regressou à casa de Julho e Agosto, agora de braço dado com a sua companheira,  cadela Sol. No pátio da casa, pela voz da artista Marta Bernardes, dialogaram Gabi e Emily, a Llansol de Amar Um Cão e a Hélia Correia de O Regresso de Jade

Marta Bernardes

Sob os olhares de Jade na parede do fundo, e de Sol, atenta aos pés da dona, obedescente-independente, não tanto obediente, palavra que «partiu em três pedaços iguais», a Marta recorda, emprestando a voz à Hélia:

Muitos anos mais tarde, se quisermos contar o tempo pelo calendário, esse cão do futuro enfim nasceu. Teve por nome Leão Jade, ruivo como um leão, ou Jade, só. Jade é nome de pedra preciosa.
Ninguém chegou a conhecer a mãe de Jade. O cachorrinho foi deixado suspenso num medronheiro, num berço feito pelos ramos, um berço que não estava nem na terra nem no céu. Jade sentia que não era verdadeiramente pássaro nem verdadeiramente quadrúpede.
Aquele lugar onde ele tinha surgido estava habituado a acolher com bondade todos os seres vivos e entregara-o ao medronheiro. Jade sentia inclinadas sobre si como que umas asas de animal.

E a tarde prosseguiu, entre o eco alto dos aviões e as modulações da voz límpida da Marta na sua leitura encenada, com o público a comentar e interrogar no fim a singular história daquele cão que queria aprender a ler, que viera do futuro, que, mais do que um simples animal, era uma alma crescendo. Foi, pode dizer-se, mais uma cena fulgor. Que a Hélia, no seu Regresso de Jade, define assim, sempre com Gabriela:

Jade partiu da casa junto a Sintra.
Seguiu o seu próprio caminho, seguiu pelo roteiro que tinha no seu corpo.

E ele encontrou-se no centro de
uma cena fulgor.
O que é uma cena fulgor?
Digamos que é um sítio muito especial existente nos livros da Maria Gabriela. É um lugar cheio de luz onde tudo é possível para o tempo, para o espaço e para os seres.
Pessoas que não podem encontrar-se porque vivem em épocas diferentes sentam-se à mesma mesa para jantar, paisagens distantes sobrepõem-se umas às outras como se fossem planos transparentes, invisíveis que ficam visíveis... Enfim: cena fulgor é algo muito especial que se consegue, não com truques de magia, mas entrando nos livros que ela escreve.

Deixamos aqui um documento inédito, escrito por Augusto Joaquim depois da morte do seu cão Jade, e que integra o caderno que fizémos (e ainda está disponível):


 (Clique nas imagens para aumentar e ler)

E o resumo da tarde em imagens, no video que se segue: