17.10.17

AS NONAS JORNADAS LLANSOLIANAS
em retrospectiva


Com um espectro de intervenções que não se poderia imaginar mais diverso e mais iluminante desse livro inaugural que foi O Livro das Comunidades, decorreram no passado fim de semana, na Biblioteca/ Espaço Cultural Cinema Europa, em Campo de Ourique, as IX Jornadas Llansolianas, desta vez totalmente dedicadas à evocação dos quarenta anos de vida desse livro de Maria Gabriela Llansol.
Pudemos de facto ouvir leituras e releituras d' O Livro das Comunidades em registos mais poéticos ou mais analíticos, de imitatio recriadora ou de leitura visual, de retrospectiva translatória ou de antecipação teatral – pelas vozes da escritora Hélia Correia ou do poeta de Barcelona José Ángel Cilleruelo, de estudiosos da Obra de Llansol como Silvina Rodrigues Lopes, Maria Etelvina Santos ou João Barrento, do pintor Pedro Proença, grande transmutador visual deste Texto, do tradutor de Madrid Mario Grande (aquele que mais livros de Llansol traduziu até hoje, com Mercedes Cuesta, do colectivo «Atalaire») ou do director artístico do Ponto Teatro (do Porto), Emanuel de Sousa, que projecta pôr em cena uma «Trilogia do Lugar» (entre heterotopias e heterocronias), a partir da «Geografia de Rebeldes» llansoliana.
O Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Dr. Pedro Cegonho, abriu a sessão de sábado à tarde, destacando o significado da presença do Espaço Llansol neste bairro de Lisboa, ao lado da Casa Fernando Pessoa, e anunciando o desejo de incrementar a rede de pólos literários em toda a zona de Campo de Ourique.
As leituras de excertos de Maria Gabriela Llansol em que a autora dá testemunho da sua ligação particular a este livro (pelas estudantes de teatro da ESAD das Caldas da Rainha, Jéssica Lopes e Mariana Marques) encerraram esta nona edição das Jornadas, permitindo a quem as ouviu perceber melhor como poucas vezes um livro terá sido visto pelo seu autor, ao longo de toda uma vida, como tão inequivocamente inaugural e seminal. O Livro das Comunidades estava de facto destinado a ser, na Obra de Llansol, «o livro dos poderes do livro», um dos subtítulos para ele previstos inicialmente. Na verdade, e contra o que é mais habitual, este livro iria assumir um lugar determinante como paradigma de uma escrita e de um lugar no mundo que haveria de marcar toda uma linhagem de livros e figuras, como «ponto de partida de uma espiral» cujas circunvoluções, ao longo de quase quarenta anos de escrita, acabariam por lançar um arco que une princípio e fim, O Livro das Comunidades (1977, mas já concebido a partir de 1971) e Os Cantores de Leitura (2007), como a própria autora reconhece, já em 2005, ao «sonhar» como «seria bom que cada simples recito [do seu último livro] se iniciasse com as primeiras palavras de cada Lugar d' O Livro das Comunidades. Ou, mais inequivocamente ainda, ao assinalar, no contexto de um primeiro «encontro de estudos» (que, em 2001, haveria de constituir a célula fundadora do Espaço Llansol), aquele livro como «o livro fonte da minha escrita e do meu lugar no mundo», e como «passo irreversível» que haveria de marcar o universo e o gesto escritural de toda uma Obra.
Clique no video que se segue para ver uma sequência fotográfica destas Jornadas: