NOVO VOLUME DE INÉDITOS A LANÇAR NAS JORNADAS
No domingo, 26 de Setembro, à tarde, apresentaremos durante as Segundas Jornadas Llansolianas de Sintra, no Centro Cultural Olga Cadaval, o segundo colume do «Livro de Horas» de M. G. Llansol, que será comentado por José Manuel de Vasconcelos.
Mostramos já o que vai ser a capa desse novo livro, e antecipamos alguns aspectos marcantes da matéria extraída dos cadernos manuscritos de Llansol, nos anos de 1977 a 1979 do exílio da Bélgica (da introdução de João Barrento e Maria Etelvina Santos).
Neste segundo volume do Livro de Horas evidenciam-se essencial mente duas vertentes. Por um lado, predominam registos tendencialmente bastante mais pessoais (por vezes mesmo íntimos) do que no primeiro volume. A matéria biográfica, as evocações da infância, as crises de relacionamento na vida social, as tensões entre indivíduo de escrita e grupos profissionais, ocupam grande parte da escrita diarística destes anos de 1977-1978 (correspondentes aos cadernos nº 3 a 6 da primeira série do espólio), uma época em que a escrita tem de alternar com o trabalho, e se vê, por isso, frequentemente atravessada por tensões e nostalgias. Por outro lado, põe-se mais à vista a oficina de Llansol, sobretudo no que se refere ao trabalho de pesquisa e de entrosamento da experiência com a narração e a escrita, particularmente do segundo e terceiro livros da primeira trilogia, A Restante Vida e Na Casa de Julho e Agosto.
[...]
Uma palavra sobre o título encontrado para este segundo volume: o «arco singular» que nele se traça (sugerido pela leitura de Rilke) é múltiplo, e será decisivo para o resto da vida e da escrita de Maria Gabriela Llansol. Esse arco vai do entusiasmo inicial da experiência cooperativa de trabalho e ensino à desilusão final dessa vivência, tão típica de uma época de ideais alternativos e de contradições. É o arco da tensão crescente entre as imposições da sobrevivência e a «sobrevida» que só a escrita de mais dois livros pode trazer, os que ocupam grande parte destes cadernos e deste período... É o arco que vai da matéria medieval, e fascinante, do universo de beguinas, cátaros, gnósticos e alquimistas à descoberta da escrita e da existência de outras mulheres, escritoras do mesmo século XX, e grandes revelações, como Virginia Woolf e Katherine Mansfield. É, em termos de quotidiano estrito, o arco que vai da saída de Lovaina e do seu mundo mais cosmopolita à aparente felicidade da vida mais tranquila na casa de Jodoigne (que evoca vagamente a da infância, e por isso é objecto de tanta atenção) e ao anúncio da saída para o isolamento ainda maior de Herbais, que proporcionará finalmente uma existência quase exclusivamente preenchida pela escrita. O «arco singular» que este livro dá a ver é, enfim, o de uma linha parabólica sempre bidireccional e tensa, com um vórtice em cima e outro em baixo, entre os quais se desenrola o percurso de um ser de escrita que, como dirão mais tarde as últimas palavras de O Senhor de Herbais, sendo como poucos singular, nunca seria «uma singularidade vã».
Mostramos já o que vai ser a capa desse novo livro, e antecipamos alguns aspectos marcantes da matéria extraída dos cadernos manuscritos de Llansol, nos anos de 1977 a 1979 do exílio da Bélgica (da introdução de João Barrento e Maria Etelvina Santos).
Neste segundo volume do Livro de Horas evidenciam-se essencial mente duas vertentes. Por um lado, predominam registos tendencialmente bastante mais pessoais (por vezes mesmo íntimos) do que no primeiro volume. A matéria biográfica, as evocações da infância, as crises de relacionamento na vida social, as tensões entre indivíduo de escrita e grupos profissionais, ocupam grande parte da escrita diarística destes anos de 1977-1978 (correspondentes aos cadernos nº 3 a 6 da primeira série do espólio), uma época em que a escrita tem de alternar com o trabalho, e se vê, por isso, frequentemente atravessada por tensões e nostalgias. Por outro lado, põe-se mais à vista a oficina de Llansol, sobretudo no que se refere ao trabalho de pesquisa e de entrosamento da experiência com a narração e a escrita, particularmente do segundo e terceiro livros da primeira trilogia, A Restante Vida e Na Casa de Julho e Agosto.
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Uma palavra sobre o título encontrado para este segundo volume: o «arco singular» que nele se traça (sugerido pela leitura de Rilke) é múltiplo, e será decisivo para o resto da vida e da escrita de Maria Gabriela Llansol. Esse arco vai do entusiasmo inicial da experiência cooperativa de trabalho e ensino à desilusão final dessa vivência, tão típica de uma época de ideais alternativos e de contradições. É o arco da tensão crescente entre as imposições da sobrevivência e a «sobrevida» que só a escrita de mais dois livros pode trazer, os que ocupam grande parte destes cadernos e deste período... É o arco que vai da matéria medieval, e fascinante, do universo de beguinas, cátaros, gnósticos e alquimistas à descoberta da escrita e da existência de outras mulheres, escritoras do mesmo século XX, e grandes revelações, como Virginia Woolf e Katherine Mansfield. É, em termos de quotidiano estrito, o arco que vai da saída de Lovaina e do seu mundo mais cosmopolita à aparente felicidade da vida mais tranquila na casa de Jodoigne (que evoca vagamente a da infância, e por isso é objecto de tanta atenção) e ao anúncio da saída para o isolamento ainda maior de Herbais, que proporcionará finalmente uma existência quase exclusivamente preenchida pela escrita. O «arco singular» que este livro dá a ver é, enfim, o de uma linha parabólica sempre bidireccional e tensa, com um vórtice em cima e outro em baixo, entre os quais se desenrola o percurso de um ser de escrita que, como dirão mais tarde as últimas palavras de O Senhor de Herbais, sendo como poucos singular, nunca seria «uma singularidade vã».