AVULSOS DE LLANSOL EM EXPOSIÇÃO NAS JORNADAS
As próximas Jornadas Llansolianas de Sintra, de que já aqui divulgámos o programa, (e agora mostramos o cartaz) terão, entre outos momentos singulares, uma exposição de algumas dezenas de papéis avulsos com escrita de Maria Gabriela Llansol (uma ínfima parte dos que temos no espólio), que intitulámos Rara & Curiosa. Do que se poderá ver em 25 e 26 de Setembro no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, dá conta o início do caderno-catálogo dessa exposição (disponível durante as Jornadas), um texto de João Barrento intitulado
O «avulso» é a expressão acabada da escrita que ainda o não é, e já vai a caminho, já nasceu, começa a germinar, para crescer ou se mostrar no esplendor já maduro de uma frase, na janela semi-aberta de um enigma que o texto desdobrará. Fragmentário, e aquém do fragmento, escrita esburacada, impulsiva mas muitas vezes logo incisiva e luminosa, o papel avulso que não tem lugar (por vezes nem data) de nascimento certo, é mais filho da visão do que da ideia, é o prolongamento espontâneo dos sentidos, sobretudo do olhar. Num dos cadernos manuscritos de Maria Gabriela Llansol, em 16 de Maio de 1998, lê-se: «Observar é o primeiro modo de escrever; o primeiro entre outros igualmente principais. Mas o que eu não quis ver – não escrevi.»
Esta forma particular de infância da escrita, frágil, informe, desapoiada, acomoda-se a qualquer lugar. Na sua incontida urgência, ou também no vagar que a viu nascer à mesa do café, num momento de espera, em viagem, qualquer suporte lhe serve, pede abrigo a fichas, folhas soltas de vários formatos, com uma única frase ou com vários tufos de escrita em labirinto, já usadas ou impressas de um dos lados, a envelopes que denunciam ligações, guardanapos de mesa de café ou restaurante, jornais, programas de espectáculos, plantas de cidades, postais, marcadores de livros; e usa até, no início, as bases dos copos de cerveja que, na Bélgica (em Lovaina ou Bruxelas), albergam fragmentos de diálogos amorosos... – para não falar já das páginas dos próprios livros, no caso das marginalia, a perder de vista, que recolheremos um dia dos cerca de 2.500 volumes da biblioteca pessoal de Llansol.
Tudo isto se encontra no imenso conjunto de papéis avulsos que foram surgindo no espólio de Maria Gabriela Llansol – quase dois mil, entre os que fomos descobrindo em todos os lugares da casa que foi a sua, em gavetas, em livros, misturados com correspondência, e aqueles, cerca de mil, que ela deixara disseminados pelos cadernos manuscritos, onde ficaram depois de classificados... [...]
A palavra imediata
O «avulso» é a expressão acabada da escrita que ainda o não é, e já vai a caminho, já nasceu, começa a germinar, para crescer ou se mostrar no esplendor já maduro de uma frase, na janela semi-aberta de um enigma que o texto desdobrará. Fragmentário, e aquém do fragmento, escrita esburacada, impulsiva mas muitas vezes logo incisiva e luminosa, o papel avulso que não tem lugar (por vezes nem data) de nascimento certo, é mais filho da visão do que da ideia, é o prolongamento espontâneo dos sentidos, sobretudo do olhar. Num dos cadernos manuscritos de Maria Gabriela Llansol, em 16 de Maio de 1998, lê-se: «Observar é o primeiro modo de escrever; o primeiro entre outros igualmente principais. Mas o que eu não quis ver – não escrevi.»
Esta forma particular de infância da escrita, frágil, informe, desapoiada, acomoda-se a qualquer lugar. Na sua incontida urgência, ou também no vagar que a viu nascer à mesa do café, num momento de espera, em viagem, qualquer suporte lhe serve, pede abrigo a fichas, folhas soltas de vários formatos, com uma única frase ou com vários tufos de escrita em labirinto, já usadas ou impressas de um dos lados, a envelopes que denunciam ligações, guardanapos de mesa de café ou restaurante, jornais, programas de espectáculos, plantas de cidades, postais, marcadores de livros; e usa até, no início, as bases dos copos de cerveja que, na Bélgica (em Lovaina ou Bruxelas), albergam fragmentos de diálogos amorosos... – para não falar já das páginas dos próprios livros, no caso das marginalia, a perder de vista, que recolheremos um dia dos cerca de 2.500 volumes da biblioteca pessoal de Llansol.
Tudo isto se encontra no imenso conjunto de papéis avulsos que foram surgindo no espólio de Maria Gabriela Llansol – quase dois mil, entre os que fomos descobrindo em todos os lugares da casa que foi a sua, em gavetas, em livros, misturados com correspondência, e aqueles, cerca de mil, que ela deixara disseminados pelos cadernos manuscritos, onde ficaram depois de classificados... [...]