3.12.18

O ALMANAQUE LLANSOL


O tempo – os tempos, do instante mais breve e intenso ao grande tempo da História e do Ser – assume um lugar muito particular na Obra de Maria Gabriela Llansol. E também a reflexão sobre o nosso estar aqui, sobre os significados do insignificante, sobre a própria escrita, constitui algo de intrinsecamente presente em qualquer página desta autora. Estas duas vertentes, e tantas outras desta escrita sem limites, vêm ter connosco a cada dia deste «Livro dos dias» que é o almanaque Llansol que acabámos de organizar em edição portuguesa, com a nossa amiga austríaca Ilse Pollack, que o preparou há poucos anos para a edição alemã, e que apresentaremos no dia 15 de Dezembro, às 16 horas, no Espaço Llansol, com a participação da Profª Vanda Anastácio, que nos falará da história dos almanaques em Portugal.

Os Rostos do Tempo é um almanaque perpétuo, insere-se numa tradição do almanaque que entre nós vem do século XIV e que teve como pontos altos, entre outros, o Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto (1496) ou o Almanaque Enciclopédico de 1896, com um histórico prefácio de Eça de Queiroz, e chega até ao conhecido Borda d'Água.
«Os almanaques são geralmente feitos de provérbios, ditos, máximas, pelos quais nos orientamos, ou que nos desafiam a contradizê-los; e isso acontece também com este. Com a diferença de que neste caso eles estão intimamente ligados aos lugares de vida e de escrita da autora: Lisboa ou o «não-lugar» de Herbais, Bruges, lugar de beguinas, ou Alpedrinha, lugar da infância, para apenas mencionar alguns. E neste contexto surgem também as figuras, nomes conhecidos e desconhecidos da História que são reinventados nos textos de Llansol, acolhidos em vários livros onde formam constelações, numa coexistência que supera todas as barreiras de tempo e de espaço.
E tudo isto entrecortado por reflexões sobre a escrita, leituras e gostos pessoais, os animais da casa, sobretudo os gatos, e, enfim, também algumas afinidades especificamente «femininas», muito embora o texto, para esta autora, não tenha sexo.» (Ilse Pollack, da Introdução ao Almanaque Llansol).

 «Do tempo da História ao tempo do Há, atravessando o amplo mosaico dos tempos do quotidiano, o percurso de Llansol parece desenvolver-se em três momentos determinantes e não estanques: 1) o de um tempo-arquivo de visões alternativas da História, que logo ganha forma de memória do humano em tensão com a trama dos poderes, passando por 2) um tempo-do-presente, da imanência do acontecer e do dessassossego da busca de uma existência sem memória, até 3) ao tempo fora do tempo, tempo do Há, da grande melodia do Ser.» (João Barrento, da Introdução).