16.12.14

AUGUSTO JOAQUIM 
(16 de Dezembro de 1943 – 11 de Novembro de 2003)

Augusto Joaquim foi durante anos o primeiro, e também o mais atento e crítico, legente dos textos de Maria Gabriela Llansol. No dia do seu nascimento, evocamos alguns aspectos menos conhecidos da Obra do Augusto – poesia, desenhos e colagens –, retomando alguns momentos do caderno da «Letra E» que fizemos em 2013.

Augusto Joaquim em 2001, num dos piqueniques anuais do GELL-Grupo de Estudos Llansolianos
Há um «défice de Augusto Joaquim» quando se fala de Llansol e da sua escrita. Mas a verdade é que ele teve parte activa e influência decisiva nesta Obra e no seu devir-texto, desde logo por ter arrastado a sua autora para um exílio que foi determinante para a sua mudança de paradigma literário e existencial. Mas não só por isso. Os cadernos e outros documentos de ambos os espólios mostram hoje à evidência que sempre existiu uma forte interacção, e que a presença e a intervenção de Augusto Joaquim foram determinantes para o nascimento e o progresso da Obra de M.G. Llansol a partir da ida para Lovaina. O diário Finita dá já bastante conta desta disponibilidade do Augusto, primeiro leitor dos seus textos e, no início, frequentemente escrevente a quatro mãos com a «Gabi», em algumas páginas de caderno ou em bases de copos de cerveja, nos cafés de Lovaina. Mas a interacção não se limita à leitura dos textos que Gabriela vai escrevendo (um ritual – mas com consequências efectivas – evocado pelo próprio Augusto no início do posfácio a Causa Amante); as conversas entre ambos são determinantes para o andamento e a orientação de certos livros, a ponto de Llansol se queixar do perigo que constitui para a sua própria autonomia a inteligência reverberante do Augusto, reconhecendo também os estímulos que lhe vêm dessa troca verdadeira: «Sempre Augusto foi para mim o terreno da explicação e da consistência» (Caderno 1.13, p. 20, 9.2.82). Augusto é o parceiro que inventa e lhe fornece conceitos (Entresser, Isso, Esse, Sebastião, o Dom) e títulos (O Litoral do Mundo), e lhe dá a ler obras fundamentais (da área científica ou pedagógica, mas também o I Ching: vd. Livro de Horas III, 5.4.79). Como Llansol dirá, ela e o Augusto são a matriz dessa realidade humana a que chama «ambo», e que uma sua frase resume: «fomos coincidentes, e fomos viajantes para praias próprias» (Livro de Horas I, p. 125).


Desenhos de Augusto Joaquim