AUGUSTO JOAQUIM
(16 de Dezembro de 1943 – 11 de Novembro de 2003)
Augusto Joaquim foi durante anos o primeiro, e também o mais atento e crítico, legente dos textos de Maria Gabriela Llansol. No dia do seu nascimento, evocamos alguns aspectos menos conhecidos da Obra do Augusto – poesia, desenhos e colagens –, retomando alguns momentos do caderno da «Letra E» que fizemos em 2013.
Augusto Joaquim em 2001, num dos piqueniques anuais do GELL-Grupo de Estudos Llansolianos
Há um
«défice de Augusto Joaquim» quando se fala de Llansol e da sua escrita. Mas a verdade é
que ele teve parte activa e influência decisiva nesta Obra e no seu
devir-texto, desde logo por ter arrastado a sua autora para um exílio que foi
determinante para a sua mudança de paradigma literário e existencial. Mas não
só por isso. Os cadernos e outros documentos de ambos os espólios
mostram hoje à evidência que sempre existiu uma forte interacção, e que a
presença e a intervenção de Augusto Joaquim foram determinantes para o nascimento e o
progresso da Obra de M.G. Llansol a partir da ida para Lovaina. O diário Finita dá já bastante conta desta
disponibilidade do Augusto, primeiro leitor dos seus textos e, no início,
frequentemente escrevente a quatro mãos com a «Gabi», em algumas páginas de caderno ou em bases de copos de cerveja, nos cafés de Lovaina. Mas a interacção não se
limita à leitura dos textos que Gabriela vai escrevendo (um ritual – mas com
consequências efectivas – evocado pelo próprio Augusto no início do posfácio a Causa Amante); as conversas entre ambos
são determinantes para o andamento e a orientação de certos livros, a ponto de
Llansol se queixar do perigo que constitui para a sua própria autonomia a
inteligência reverberante do Augusto, reconhecendo também os estímulos que lhe
vêm dessa troca verdadeira: «Sempre Augusto foi para mim o terreno da explicação
e da consistência» (Caderno 1.13, p. 20, 9.2.82). Augusto é o parceiro que
inventa e lhe fornece conceitos (Entresser,
Isso, Esse, Sebastião, o Dom) e títulos (O Litoral do Mundo), e lhe dá a ler obras fundamentais (da área
científica ou pedagógica, mas também o I
Ching: vd. Livro de Horas III,
5.4.79). Como Llansol dirá, ela e o Augusto são a matriz dessa realidade humana a que chama «ambo», e que uma sua frase resume: «fomos coincidentes, e fomos viajantes para praias próprias» (Livro de Horas I, p. 125).
Desenhos de Augusto Joaquim