27.11.11

MUSIL E LLANSOL

No próximo dia 6 de Dezembro, pelas 18h30, João Barrento faz na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, uma conferência sobre Robert Musil e a sua obra maior, O Homem sem Qualidades, integrada no ciclo «Livros difíceis», por onde passaram já, desde Fevereiro, Proust (a Recherche, por Pedro Tamen), Virginia Woolf (Orlando, por Lídia Jorge), Camões (Os Lusíadas, por Vasco Graça Moura) e Thomas Mann (A Montanha Mágica, por José Pacheco Pereira).

Damos notícia da conferência sobre Musil porque nela se falará também muito de Llansol, a escritora portuguesa que mais explicitamente traz o autor austríaco à sua própria Obra. Por exemplo em Um Falcão no Punho:
Musil passou agora numa das três ruas de Herbais. O seu perfil não é muito nítido, oscila entre os dois únicos retratos que dele conheço – um de quando era muito jovem, outro de muito mais tarde. A presença de Musil em Herbais, lugar que não é o centro de nenhum mundo culturalmente criado, e que aos olhos ensinantes de muitas pessoas deve passar por um não lugar, é uma das compensações que tenho pela morte da minha gata Branca que também não era um animal que se deixasse domesticar pelas imagens de saber que correm pela história natural. [...] Musil e eu interessamo-nos pelo pensamento que se desenvolve e suspende na escrita; a literatura, como comércio, abandonámo-la neste cruzar de prados onde nos encontrámos por uma circunstância fortuita — a morte de Branca. [...] Liga-nos a aquiescência de que almejar com a escrita não é o mesmo que esbanjar no vazio a palavra. Não sei se a minha casa, com marcas minhas, agrada ao meu hóspede, e mostro-lhe os espaços que prefiro para que ele não os pise. No entanto, não devemos recear mutuamente as vertigens da ressonância. Por causa desta aliança, Herbais ficará sempre alheada dos cálculos que subjugam o mundo conhecido.
E em «O Espaço Edénico»:
Kafka e Musil foram levados a repensar o livre arbítrio na estética, como podia este exercer-se sem se perder na alucinação do agir. Era para eles impensável que o fascínio, que está do lado do «luminoso», não desencadeasse um processo intelectivo, reflexivo, que o pensamento não se debruçasse sobre a experiência estética da alma. [...] Poucos foram sensíveis ao facto de que o intento mais profundo de Musil era encontrar cenas fulgor.