11.10.21

AUGUSTO JOAQUIM:

UMA EVOCAÇÃO

Tivemos no sábado passado a nossa primeira sessão pública da nova era (será?), com afluência e interesse do público em relação ao tema do dia: a figura de Augusto Joaquim e a sua importância na vida e na Obra de Maria Gabriela Llansol. O pretexto foi o livro (o nº 21 da colecção Rio da Escrita, que vimos fazendo com a Mariposa Azual) O Nómada do Entresser. Uma vida com o Texto de Maria Gabriela Llansol.

 

João Barrento fez uma introdução à personalidade, ao trabalho e à Obra múltipla de Augusto Joaquim, que deveria ter sido partilhada com João Maria Mendes, amigo e companheiro do Augusto e da «Gabi» desde os anos do exílio em Lovaina, e autor do livro (da mesma colecção, em 2019) Fulgorizações. Espaço edénico, realidade e fantástico na Obra de M. G. Llansol. Por razões de saúde, isso não foi possível, e por isso evocámos a abrir as palavras de João Mendes nesse livro, que aqui transcrevemos:

«Das dívidas antigas, uma delas é para com eles, que conheci em Campo de Ourique em 1964, depois em Lovaina de 1969 a 1975 e mais tarde em Sintra, na era do regresso dos "estrangeirados" ou "afrancesados" que fomos ao país de origem.

Este texto vive das imagens interiores que guardo da Gabi Llansol, para mim indissociáveis das do Augusto, seu marido, e da relevância que a Obra dela lenta mas seguramente adquiriu. Mas é também fruto de uma amizade nascida em la vida, e por isso se alimenta de umas poucas mais memórias partilháveis. Agora que regresso àquele in illo tempore no plat pays para os tornar mais presentes, ressurgem-me um Augusto brilhante e conceptual, ecléctico, sistémico e preocupado com o método, nascido para pensar a política (que também fez na LUAR de Palma Inácio); e uma Gabi agudamente perceptiva e intuitiva, aparentemente tímida mas que sabia ser resiliente e obstinada, como soe dizer-se "nascida para escrever" e que, discreta mas vertiginosamente, confirmou esse destino no galope dos anos, que então pareciam ainda andar a passo.»


Depois, falou-se da Obra ensaística, narrativa e poética do Augusto, do seu método original da «análise vibratogénea» do «texto potenciométrico» da Gabi, e mostrámos – com os originais e em video – uma boa parte da sua obra gráfica: desenho, colagen, gouaches, «bandas discursivas» e colagens digitais em formato Bitmap.

 

Na mesa,  a «Vara de Tual»: um ícone ligado a Augusto Joaquim, a figura de Tual ou «O grande textuador desconhecido», no livro Os Cantores de Leitura. Na etiqueta, as palavras do Augusto no primeiro piquenique do GELL-Grupo de Estudos Llansolianos, na Serra de Sintra, em 2001:

«A Vara de Tual

Peguei no ramo. É ele que me vai fazer falar. / Outrora foi um acto sacerdotal da Grécia antiga. Para pautar a boa ordem da devoção cívica, quando esta decorria nos bosques dedicados a Dionísio, ou a Deméter. O ramo tornou-se bordão. O bordão bifurcou. De um lado tornou-se varinha de condão e vara de vedor. Do outro tornou-se bastão, báculo e batuta. / Este meu ramo não é herdeiro de nenhum desses. / Aqui e agora, é o meu textuante.»

(Augusto Joaquim, no piquenique da Clareira de Parasceve, em 14 de Julho de 2001).