TRÊS LIVROS, TRÊS OLHARES SOBRE LLANSOL
Retomamos as actividades do Espaço Llansol no sábado, 14 de Setembro, pelas 17 horas, com a apresentação simultânea de três novos livros, que representam três olhares sobre o universo Llansol, três leituras, diversas e igualmente estimulantes, de toda a sua Obra: de João Barrento (dez anos de escrita sobre Llansol), Eduardo Prado Coelho (toda a sua escrita sobre esta Obra, entre 1985 e 2007, correspondência com LLansol, excertos de diários) e João Maria Mendes (um livro de síntese que abre com a evocação da sua relação com «Gabi» e Augusto nos anos setenta, do exílio de Lovaina – que documentaremos num video –, e continua com uma interpretação global desta escrita).
Contamos, para as apresentações em diálogo, com a presença de João Maria Mendes, Maria Etelvina Santos e João Barrento.
Comparado com o meu anterior conjunto de «escritos llansolianos», publicado nesta colecção (Na Dobra do Mundo, 2008), este será porventura um livro mais vivo do que esse primeiro, e sobretudo mais revelador do amplo espectro de relações que se podem tecer a partir desta Obra – com temáticas tantas vezes inesperadas, com outros autores (poetas, ficcionistas, filósofos, místicos...), com domínios extraliterários (a música, as artes visuais, a iconografia, o cinema), com lugares e tempos de vida e de escrita (a Lisboa da adolescência e juventude, a Bélgica do exílio, os cafés, as deambulações por Colares e Sintra).
J. B.
Os textos de Eduardo Prado Coelho sobre Llansol, ou os simples registos fugazes sobre ela nos Diários, pequenas intuições na correspondência, lançam luz, luzes de vária natureza, sobre a pretensa «sombra» desses textos, por vezes com focos de uma grande intensidade. Por exemplo, quando comenta: «Há textos assim: dizem de um modo tão exacto e portentoso aquilo que nos parece evidente depois de os termos lido que sentimos por um instante que não deveríamos fazer mais nada senão o que eles dizem».
E conclui, noutro lugar: «Daí que, às portas do paraíso, Maria Gabriela Llansol diga a Vergílio Ferreira o que qualquer de nós poderá dizer ao leitor futuro de Llansol (e não se pode ler Maria Gabriela Llansol sem assumir a leitura como uma leitura sempre futura, uma leitura por vir): não há segredo, o único segredo é entrar».
De que me ocupo neste escrito? Num primeiro momento revisito a genealogia da Obra da autora e descrevo-a como sensacionista/intuicionista, sempre confrontada com a memória e a cultura acumuladas na «Casa da Sabedoria». Num segundo momento recordo o que a levou a afastar-se da narratividade dependente da verosimilhança e a adoptar uma textualidade transgressiva... Um terceiro momento é uma reflexão sobre algumas ideias-fortes do glossário llansoliano... Num quarto momento defendo que a Obra llansoliana explora quatro registos de fantástico que herda de um maravilhoso verdadeiro neo-renascentista, e que são, nela, idiossincráticos geradores de texto. Finalmente, num quinto momento, aproximo a composição oficinal dos seus textos e o trabalho do sonho, tal como Freud o descreveu em a Interpretação dos Sonhos...
J. M. M.