29.3.18

«LLANSOL: A LUZ DE LER»
O TESTEMUNHO DA ESCRITORA PATRÍCIA PORTELA

A próxima sessão pública do Espaço Llansol, no próximo sábado 7 de Abril, pelas 16 horas, voltará à série «A Luz de Ler», iniciada em Fevereiro, desta vez com a presença da escritora (também artista plástica, cenógrafa, actriz... «e tudo»!) Patrícia Portela. Autora de mais de uma dezena de títulos (o último dos quais Dias Úteis, contos saídos na Editorial Caminho), reclama-se expressamente da importância da Obra de Maria Gabriela Llansol para a sua escrita, e dessa relação decisiva nos falará nessa sessão. Os paralelos são bastantes, a originalidade e a força desestabilizadora de convenções e géneros são traços comuns a ambas as escritoras.
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Patrícia Portela (1974). Autora de performances e obras literárias, vive entre Portugal e Bélgica e itinera com regularidade pela Europa e pelo mundo. Reconhecida nacional e internacionalmente pela peculiaridade da sua obra, recebeu vários prémios (dos quais destaca o Prémio Madalena Azeredo de Perdigão/F.C.G. para Flatland I - 2005- ou o Prémio Teatro na Década para Wasteband - 2003). Autora de vários romances e novelas como Para Cima e não para Norte (2008) ou O Banquete (2012, finalista do Grande Prémio de Romance e novela APE), participou no 46º International Writers Program em Iowa City em 2013 e foi a primeira Outreach Fellow da Universidade de Iowa City. Foi uma das 5 finalistas do Prémio Media Art Sonae 2015 com a sua instalação Parasomnia, e a primeira bolseira literária de Berlim da Embaixada Portuguesa na Alemanha em 2016. É cronista do Jornal de Letras e de Coffeepaste desde 2017.

25.3.18

ALDINA DUARTE NO ESPAÇO LLANSOL


Para a Aldina:

Entre o reino que nos coube
E o enredo do seu espanto,
Aldina esteve connosco,
Deixou ouvir o seu canto.

Com seus duendes e fadas,
Escrevendo letras vibrantes,
Aldina e Llansol, aladas,
Traçam voos imaginantes.

Qual foi a porta de entrada?
Por que caminhos seguiu?
Aldina deixou espantada
A plateia que a ouviu.


Aldina Duarte esteve ontem no Espaço Llansol à conversa com João Barrento e Maria Etelvina Santos, para nos iluminar com as suas revelações sobre os caminhos que a levaram a Maria Gabriela Llansol. Ficámos a saber muito sobre os modos de composição do seu último disco, Quando se ama loucamente, e sobre o diálogo produtivo e criativo que encetou com a escritora há algum tempo. As letras de Aldina Duarte nesse disco, escritas a partir de linhas de Llansol, revelam um sentido poético muito raro em letras de fado, reveladoras dessa relação de contágio irresistível e de resposta, neste caso musical, aos apelos do Texto.



Tudo isto é melhor explicado pela escritora Hélia Correia no caderno que acompanha o disco:
«As raras obras que dão luz pertencem ao estádio superior em que o humano já nada comunica: contagia [...] 
A casa da palavra llansoliana escolhe, com rigor, os visitantes. Ainda não formam a comunidade, mas serão convidados para a mesa se trouxerem algumas qualidades: delicadeza, dedos apurados, um bom ouvido e um bom olhar para a leitura. Assim se fazem os serões com vela acesa. Não é preciso esforço para avistar, no meio deles, inclinada, a Aldina Duarte. E ela sabe a que lugar pediu guarida, esse lugar onde há 'o dom da troca', onde 'os vivos da espécie terrestre' se confortam, respirando o mesmo ar.
Aldina oferece uma beleza cuidadosa, poemas rendilhados, um murmúrio que pode fazer parte da casa...»
 Aldina Duarte no Espaço Llansol

23.3.18

«A IDEIA DA POESIA É A PROSA»
LLANSOL E A QUESTÃO DA POESIA

João Barrento falou ontem no Espaço Llansol da ideia da poesia em Llansol, uma intervenção integrada nos dias da Feira do Livro de Poesia de Campo de Ourique. A palestra abarcou os principais tópicos fornecidos pela obra publicada e por muitos inéditos (expostos na ocasião) sobre a questão da poesia, abrindo com uma passagem de Os Cantores de Leitura e fazendo depois o seu desdobramento progressivo em comentários que foram ampliando a questão. Deixamos aqui alguns dos parágrafos iniciais e a conclusão, na impossibilidade de reproduzir toda a conferência. No video apresentado no final deram-se a ouvir, não apenas alguns fragmentos dos cadernos manuscritos sobre a poesia, mas – em estreia absoluta – alguns dos poemas juvenis de Maria Gabriela Llansol.

... criar ruídos que sejam uma contra-música. Dar substância harmónica aos ruídos... Tudo se passa ao nível das paisagens de imagens. Das suas sonoridades. Das suas parecenças e dissemelhanças.   (M. G. Llansol, Os Cantores de Leitura)


Parti desta passagem sobre a «contra-música» porque a expressão se ajusta perfeitamente àquilo que ouvimos em qualquer página de escrita de M. G. Llansol: a harmonia dos ruídos (daquilo a que geralmente se chama a sua «prosa poética»), as paisagens de imagens, as suas sonoridades dissonantes, a tensão entre elas, as suas «parecenças e dissemelhanças». 
É esta, basicamente, a «melodia» de qualquer texto de Llansol – por isso ele é «poético» (da raiz poieín = pôr as palavras a agir), não sendo «poesia» em sentido estrito. A sua natureza é a de um «drama-poesia» (um agir, sobre quem lê, da palavra com o seu enigma).

Num outro livro lemos também: “Os poetas vêem, e anunciam a geografia imaterial por vir”. Não é epígrafe de poeta, mas vem de alguém que conhece bem o potencial «utópico» da poesia, muito embora, para Llansol, a utopia que o poema contém não seja devaneio inconsequente, nem sonho acordado, nem profetismo: é, sim, uma energia, uma força, uma vontade de não deixar as coisas, nem quem as olha, nos lugares onde estão. Na frase está contido todo um programa do que podia ser, mas nem sempre é, a força da poesia como motor de transformações – e a própria escrita de MGL. Reparem em cada um dos segmentos da frase: o poeta vê e anuncia (é vidente e profeta), anuncia uma ordem nova para as coisas do mundo (uma geografia) que, no entanto, não é deste mundo (é imaterial), e por isso é sempre algo de diferido, da ordem do desejo (por vir). E no entanto, a poesia, o texto que o poeta escreve ou diz, sabe o que está a acontecer. Para além de «sismógrafo» de uma sociedade, a poesia pode ser mais do que registo de uma subjectividade – pode ser também escrita do mundo. Era assim que Llansol a imaginava, como escuta ritmada e «contra-música» da respiração do mundo. 
[...]
Concluo explicando o título que dei a esta intervenção, e que vem de um conjunto de ensaios sobre a poesia de Hölderlin, do filósofo francês Philippe Lacoue-Labarthe: a Ideia da poesia é… a prosa. Para o que aqui importa: a prosa de Llansol, na sua utilização ex-cêntrica de uma linguagem comum e imagética, mais do que poesia, mais do que prosa poética, é uma Ideia da poesia. A Ideia não é o conceito, é o lugar ideal onde se projectam todas as particularidades dos fenómenos, ou a sua quintessência – tudo aquilo que, na prosa de Llansol, indicia um substrato poético, e que já fomos enunciando. Esse substrato tem a ver com o ritmo, com a fragmentação do discurso, com a indecidibilidade de género, com transições entre a narratividade e a escansão poética da frase, com particularidades gráficas (o traço, os brancos). Tudo isto gera no texto llansoliano (e também nas suas traduções de poetas, de que não vou ocupar-me) uma espécie de dupla engrenagem, entre a proximidade ofuscante da imagem e a distância (aura?), não do indizível, mas do reverso ou da dobra das coisas e do mundo. Há um «sistema» que subjaz a este caos aparente e movediço, uma qualquer totalidade impalpável e inexpressa, mas sensível, que actua no subsolo poético da prosa de Llansol.

         A sua relação com a prosa narrativa mais convencional seria, assim (para utilizar uma sugestão do poeta Yves Bonnefoy), como a do desenho com a pintura. Segundo o poeta francês, num artigo intitulado «O desenho e a voz», o que fala no desenho, no «acontecer do traço», é uma presença. Presença do ausente, como explica Bonnefoy recorrendo à história das origens míticas do desenho, a da filha do oleiro de Sícion que desenha na parede os contornos da sombra do amante, para lhe prolongar a presença. Inventa, assim – como Llansol para a escrita –,  «a grande figuração», aquela que «não se interessa pelos aspectos exteriores, mas pela possível presença plena». O seu «mais íntimo projecto» é: não representação, mas presença. E ao proceder assim, consegue que no «grau zero da mimesis», na ausência da imitação ou representação, se perfile «a presciência do invisível». É afinal o que acontece em toda a grande poesia do mundo.









13.3.18

O ESPAÇO LLANSOL
NA FEIRA DO LIVRO DE POESIA 
DE CAMPO DE OURIQUE

Entre os dias 21 e 25 de Março terá lugar, em vários espaços de Campo de Ourique, mais uma edição da Feira do Livro de Poesia, que integra o Dia Mundial da Poesia (21 de Março).
O Espaço Llansol associou-se a mais este evento, com a programação que divulgamos aqui.


E deixamos também a programação geral destes dias da Poesia:
(arrastar para o ambiente de trabalho para aumentar)

5.3.18

«ESTE BAIRRO VEM DE TÃO LONGE PARA MIM...»

Campo de Ourique, o bairro onde nasceu e cresceu, tem uma presença constante nos diários e cadernos manuscritos de Maria Gabriela Llansol, desde 1949. É esse o tema que trataremos na nossa próxima sessão pública, no Espaço Cultural Cinema Europa, pelas 16 horas do sábado dia 10 de Março, com a presença do Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Dr. Pedro Cegonho. Evocaremos ainda o dia 3 de Março (os dez anos da partida da Maria Gabriela) e faremos uma viagem pelos lugares de Campo de Ourique que eram os seus, e pelas suas transfigurações por via da escrita ao longo do tempo, quer antes quer depois dos vinte anos do exílio da Bélgica.

Projectaremos ainda  um video que documenta a vida e as vivências de Llansol em Campo de Ourique, e que integra a leitura de um número significativo de textos sobre esses lugares do bairro onde hoje se encontra também o Espaço Llansol.

3.3.18

NOS DEZ ANOS DA PARTIDA...

... para Maria Gabriela Llansol, fazendo nossas as suas próprias palavras:

(Fotografia: Maria Etelvina Santos)