LLANSOL NO FESTIVAL LITERÁRIO
DA SERRA DA GARDUNHA
A Gardunha é uma referência da infância de Maria Gabriela Llansol, a paisagem próxima de onde lhe chegavam ecos nos Verões passados na «Casa da Estação» em Alpedrinha. Algumas passagens dos cadernos manuscritos e outros papéis evocam essa experiência:
«Passei parte da minha infância sentada no degrau de uma porta, só a receber a noite. A Serra da Gardunha coroava o meu horizonte...», lemos num papel avulso, provavelmente de 1980.
E num dos primeiros cadernos da Bélgica, em 1977:
«Quando dei por que tinha nascido vivia com um espírito de criança. A minha primeira recordação é de luz e de penumbra, e
eu dentro desse círculo que clareia para os limites. Há uma pena profunda ligada ao compartimento de uma carruagem de
Caminhos de Ferro. Estávamos em 1934, pois eu devia ter três anos. Fico sozinha sobre o banco, pode haver uma multidão
de pessoas à minha volta, mesmo pessoas amadas como a minha criada Maria Amélia, mas a perda é irremediável: para que
eu parta para o Verão de Alpedrinha, acabam de separar-me de minha mãe.»
M. G. Llansol com seis anos, na Casa da Estação, em Alpedrinha
Aconteceu no último fim de semana, que também foi o das nossas Jornadas Llansolianas de Sintra (de que daremos conta num dos próximos dias), o Festival Literário da Gardunha, em vários lugares da Beira Baixa, entre eles Alpedrinha. Precisamente aí, no «Campo Base 6» do Festival, esteve a nossa companheira Hélia Correia, que evocou a Maria Gabriela e as viagens da sua infância por estas paragens, depois transformadas em escrita. Como noticia o Diário Digital de hoje, «Hélia Correia, um dos grandes nomes da novelística portuguesa, decidiu trocar as voltas à tertúlia, optando não por falar de viagens mas sim por recuperar as memórias de Maria Gabriela Llansol, que embora nascida em Lisboa, a dada altura viveu na Bélgica e foi nesse país que escreveu algumas das suas recordações sobre a sua passagem por Alpedrinha. Ou seja, a intervenção de Hélia Correia acabou por ser uma homenagem à escritora portuguesa que morreu em 2008 e ao local que recebeu a mesa redonda. [...] Lamentando que Maria Gabriela Llansol seja considerada uma escritora incompreendida e frequentemente esquecida, Hélia Correia lembrou que esta foi 'uma mulher que se libertou das coordenadas temporais' e que para compreender a sua escrita basta largar as amarras e deixar o pensamento fluir.»
Alpedrinha em páginas dos Cadernos de M. G. Llansol