LLANSOL E OS LUGARES IMAGINÁRIOS
DA LITERATURA
O JL desta semana, inspirado no Dicionário de Lugares Imaginários de Alberto Manguel (editado cá pela Tinta da China), traz um dossier com depoimentos de vários escritores sobre o tema na literatura portuguesa e mundial. Entre esses lugares imaginários não poderiam deixar de estar os das paisagens textuais, existentes-não-reais ou reais-não-existentes, criadas por M. G. Llansol. Um deles (aliás, dois) é evocado por Hélia Correia no seu depoimento, em que diz:
O meu
lugar imaginário em Portugal tem testemunhos no real: não um, mas dois. É o «Grande
Maior» de Parasceve, o livro de Maria
Gabriela Llansol. O Grande Maior é um plátano em cuja copa há uma cidade. Uma
cidade onde a clorofila é a cor dominante, onde está posta uma mesa de banquete,
onde há praças e esplanadas «cujas cadeiras se comportam com as mesas de uma
maneira absolutamente inimaginável». A escrita de Llansol que, como a sua vida,
decorre no «jardim que o pensamento permite», toca nas coisas mais vulgares e
transfigura-as. Se ela as olhou, não tornarão a ser as mesmas.
O
Grande Maior da Volta do Duche, em Sintra, ao qual ela fazia sempre uma
saudação, tem agora uma placa evocativa. O meu lugar imaginário – onde vou muita
vez ler os seus textos – é outro. É outra copa de outra árvore-cidade, outro
Grande Maior. Maria Gabriela levou-me um dia, fisicamente, lá. Existia para nós
e era um segredo. Como o Plátano e a sua insuspeita cidade, todos o vêem e
ninguém o vê. Mas quem quiser encontra-o
no seu texto.