«TRANS-DIZER»
AS QUINTAS JORNADAS LLANSOLIANAS
DE SINTRA
Maria Gabriela Llansol usa, em Os Cantores de Leitura, a expressão «transdizer» para referir as várias formas de passagens implicadas nos processos de tradução. São esses processos, nas múltiplas variantes que os configuram, que estarão presentes nas próximas Jornadas Llansolianas de Sintra, que terão lugar em 12 e 13 de Outubro no Palácio Valenças.
As Jornadas deste ano reunirão em Sintra seis tradutores de Llansol (de Espanha, França, Alemanha, Áustria e Estados Unidos), vários artistas que «traduziram» o texto de Llansol para outras linguagens (pintura, desenho, cinema, música) e escritores, professores e actores que comentarão e lerão as singulares versões de poetas franceses por Maria Gabriela Llansol.
Desde que começou a escrever o livro-fonte de toda a sua Obra, O Livro das Comunidades, que M. G. Llansol «traduz» – se por isso entendermos uma espécie de osmose com os autores que traz ao seu próprio texto, assimilando-os discretamente, saqueando os seus textos para os transmutar numa troca intertextual que, desde João da Cruz, vai dando corpo a um eterno retorno do outro no mútuo; ou ainda trazendo à casa da língua portuguesa (sob pseudónimo ou com nome próprio) poetas e outros autores, predominantemente de língua francesa. De um modo ou de outro, traduzir nunca é, para Llansol, um gesto unidireccional ou um mero ofício de palavras. Traduzir é trans-dizer. Traduzir o outro arrasta consigo mundos, é um acto homofágico e uma ressonância osmótica, uma cor-respondência com esse outro. O que diz muito sobre a natureza tão singular das versões llansolianas. E ser traduzida por outros – em linguagem verbal ou noutras – implica igualmente tomar consciência desse salto.
Destes e certamente de muitos outros tópicos se falará nas Jornadas deste ano, de que deixamos já aqui o programa, que inclui ainda apresentação de novos livros e um filme excepcional sobre os caminhos e descaminhos desta múltipla prática das passagens.