14.5.12

LLANSOL E A POESIA NO CÃO CELESTE

Saiu o primeiro número da nova revista Cão Celeste, dirigida pelos poetas Inês Dias e Manuel de Freitas. É uma publicação de aspecto gráfico pregnante e conteúdo original, que «pretende apenas ganir, ladrar com raiva ou paixão, amar ou odiar sem peias aquilo que o mundo quotidiano lhe dá a ver – de seis em seis meses...» e ser «um espaço de encontro entre pessoas que ainda consideram urgente o livre exercício da crítica, do pensamento ou da revolta», escrevem os responsáveis no primeiro Editorial.

 
Também Maria Gabriela Llansol (através de muitos textos dos seus cadernos inéditos, com posições surpreendentes em relação à poesia) está presente neste primeiro número, através do ensaio de João Barrento «'Uma contra-música' - Llansol e a questão da poesia».


Sobre o tema escreve Llansol, numa bela página de um caderno de 1999:

    Não sei reflectir sobre a Poesia. Sei ir à poesia_______ e esperar, na ponta das pupilas, suas imagens. Quando o dia «image[ce]», sei que está criado o verbo «imagecer» relacionado com a deslocação de um cisne nas águas. [...]
    É preciso assustar a poesia para que – amanhã – ela regresse. Mas eu ignorava-a até na sua própria sombra, só as imagens, que eu não temia, fariam com que ela regressasse, e escrevesse «amo-te» como quem escreve «faz-me».
    Não sei fazer poesia, mas pressinto o seu drama_______ e o vagar que ela tem de se deixar em qualquer parte onde, afinal, nunca tenha estado.
    Poeta não é palavra que assente em alguém. Designar o indesignável é torná-lo ainda mais obscuro.
    Tantos poetas, tão pouca poesia. A poesia não é para nós, é para o fim de nós...
    (Caderno 1.54, 5 de Abril de 1999, pp. 10-12)