12.12.07


OS CADERNOS DE MARIA GABRIELA LLANSOL


Temos publicado neste espaço alguns fragmentos dos setenta cadernos manuscritos em que Maria Gabriela Llansol vem escrevendo regularmente desde os tempos do exílio na Bélgica. A Associação ESPAÇO LLANSOL vai iniciar em Janeiro de 2008 um projecto de digitalização, transcrição e, na medida do possível, edição desses cadernos. Trata-se de um projecto de grande dimensão e projecção – os cadernos contêm quinze a vinte mil páginas e papéis manuscritos – , cuja finalidade é a de garantir a preservação e tratamento deste importante espólio de M. G. Llansol (o que, aliás, é um dos principais objectivos estatutários desta Associação). A Fundação Gulbenkian reconheceu o alcance desta iniciativa, e irá apoiá-la financeiramente já nesta primeira fase.

O projecto prevê a digitalização, organização em arquivo digital, descrição física e de conteúdo, organização de índices e subsequente transcrição do conjunto de setenta cadernos de reflexões e anotações, organizados cronologicamente e com registos que cobrem o período de 1974 até hoje. Este conjunto de cadernos vai sendo preenchido, durante estes anos, com anotações de natureza múltipla e híbrida, desde a entrada de diário até reflexões mais longas sobre os temas e assuntos que alimentam os livros da Autora, sínteses ou notas de leitura, registos literários de experiências, imagens, conversas que acompanham os dias.



A importância deste espólio manuscrito é inestimável para o estudo da Obra de Llansol, na medida em que acompanha, prolonga, ilumina e aprofunda a matéria de todos os seus livros, desde que começou a escrever aquele que considerou o «livro-fonte» de toda a sua Obra,
O Livro das Comunidades (escrito em 1974, na Bélgica). Mas é igualmente um repositório único de perspectivas sobre a cultura e a língua portuguesas, sobre as grandes linhas do pensamento e da espiritualidade europeia, e sobre o encontro destas duas realidades.


Tudo isto passa, quer pelo registo e comentário de figuras históricas, quer pelo de lugares europeus e portugueses marcados por uma grande densidade histórica e cultural, quer ainda por momentos que permitem reconstituir alguns aspectos da vida e da actividade dos núcleos portugueses de exilados (na Bélgica, concretamente em Lovaina), nos anos sessenta e setenta do século passado. Até hoje, a Autora nunca deixou de acompanhar a escrita dos seus mais de trinta livros com a destes cadernos, que, apresentando paralelos e convergências com as obras editadas, vão muito para além delas e constituirão um instrumento fundamental para a investigação e o esclarecimento da Obra desta autora singular da nossa literatura contemporânea.


Apesar de um projecto desta dimensão exigir bastante tempo para a sua execução, podemos dar já aos interessados duas boas notícias: a) logo que esteja disponível o arquivo digital dos cadernos, esperamos poder torná-los acessíveis a investigadores e estudiosos da Obra, naturalmente com as restrições impostas pela própria Autora; b) neste momento a M. G. Llansol está a organizar, com a nossa colaboração, um primeiro volume de textos extraídos dos primeiros cadernos, a editar logo que possível.

JB