18.8.11

LLANSOL, LITERATURA E PSICANÁLISE

O Núcleo de Estudos em Literatura e Psicanálise (LIPSI), da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, vai organizar em Outubro próximo um Colóquio centrado no encontro do texto de Llansol com a psicanálise. O colóquio realiza-se a 20 de Outubro, durante todo o dia, na Faculdade de Letras em Belo Horizonte (a data de 14, que anunciámos antes aqui, foi alterada pela organização do evento). Damos a seguir o programa do Encontro, tal como nos foi enviado pela Comissão Organizadora.

(Clique na imagem para aumentar e ler)

17.8.11

O DRAMA-POESIA DE LLANSOL

Acaba de ser disponibilizada online uma das mais recentes teses de Mestrado defendidas em universidades brasileiras sobre a Obra de M. G. Llansol. A dissertação é de Érica Zíngano que a intitulou Livro em deriva / percursos do EU no drama-poesia de Maria Gabriela Llansol, e foi defendida no Departamento de Pós-graduação em Literatura Portuguesa da Universidade de S. Paulo.
A autora apresenta assim o seu trabalho:
«Livro em deriva, percursos do EU no drama-poesia de Maria Gabriela Llansol se aproxima de Onde Vais, Drama-poesia? (2000), da portuguesa Maria Gabriela Llansol (1931-2008), para atravessá-lo, seccionando-o, ao criar percursos de legência que acompanham algumas das várias linhas-camadas que compõem o livro. As linhas, derivas pensadas como desvios, cruzam o EU sob diferentes perspectivas: da autobiografia ao jogo de cena, observando a questão da autoria e da alteridade, até o fragmento. Deambulações, tendo sempre como eixo o marco zero, a textualidade
(Acessível aqui em formato PDF).

9.8.11

A PERGUNTA DE LLANSOL A JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

O poeta José Tolentino Mendonça escreve sobre os seus mais marcantes encontros com Maria Gabriela Llansol, no Diário de Notícias da Madeira, em 7 de Agosto. Assim:

A luta quotidiana pelo fulgor

Creio que o que de mais importante podemos testemunhar e despertar na vida uns dos outros é aquilo que a escritora Maria Gabriela Llansol chama, na sua linguagem inesquecível, «a luta quotidiana pelo fulgor». O fulgor não é uma evanescência, nem resulta de um qualquer errático acaso. É um combate, o fulgor. É um esforço de todos os dias esta procura de luz, de intensidade, este desejo de uma cintilação na paisagem baça e opaca que, tantas vezes, parece ser a única que nos resta. O fulgor abre-nos a uma compreensão maior do próprio tempo. Liga-nos ao que está mais adiante ou mais fundo. Rompe brechas. Faz-nos teimosamente repetir: “não pode ser só isto”.
Encontrei-me com Maria Gabriela Llansol diversas vezes, e recordo de modo particular duas situações. Não sei se as torna especialmente indeléveis o facto de terem constituído a primeira e a última das nossas conversas. Talvez seja também isso. Ambos os momentos ocorreram em Sintra. No primeiro, ela estava à minha espera na estação, à chegada do comboio, e demos um demorado passeio pelo parque da Vila. Lembro-me que à queima-roupa ela me perguntou: «Tolentino, o que procuras?». Não esperava por aquela pergunta, fiquei calado e confundido, e respondi-lhe qualquer coisa de que me esqueci. Mas a sua pergunta ficou-me. A luta quotidiana pelo fulgor faz-se de exercícios assim. É verdade que são exigentes e que não estamos preparados para eles. Mas se cada um de nós não afronta, com clareza, os quês e os porquês que silenciosamente persegue, o fulgor daquilo que vivemos diminui, fica como que comprometido. No nosso último encontro, a Maria Gabriela já estava muito doente. Ela havia manifestado a amigos comuns o desejo de estar comigo e apressei-me a realizá-lo. Tinha uma dificuldade grande em falar, mas essa dificuldade era também uma misteriosa e humaníssima forma de linguagem. Acho que nos entendemos muito bem. No final, ela pediu que tomássemos um chá. E assim fizemos, nas chávenas mais belas do seu armário, sorvendo com aquele chá uma coisa que eu e gerações de leitores aprendem com ela: a luta quotidiana e extrema pelo fulgor. Umas semanas depois da sua morte, recebi um pacote proveniente da sua morada, que me deixou numa comoção que vão certamente compreender: num papel de seda azul, muito delicado, vinham embrulhadas as chávenas que celebraram o nosso último encontro.
Este ano morreu-me outro querido amigo, o Frei José Augusto Mourão. Com uma generosidade que muito me tocou, os Padres Dominicanos decidiram incluir-me na condivisão simbólica da herança do José Augusto. Dessa herança afetiva que me foi atribuída, fazia parte uma carta que Maria Gabriela Llansol lhe havia endereçado. E dizia assim: «Talvez que solidão e companhia se avistem do mesmo lugar. Creio que o conhecimento nasce de uma espécie de passagem rápida de uma pela outra. “Olá”, diz a companhia. “Olá”, diz a solidão, e ambas desaparecem nessa tensão de querer ser e saber».

Falta só dizer que o fulgor é uma luta sem deixar, como se vê, de ser um dom.


6.8.11

OUTUBRO BRASILEIRO SOB O SIGNO DE LLANSOL


Acompanhando a saída dos três primeiros diários de Maria Gabriela Llansol em edição brasileira, inserida num projecto de edição da Obra que continuará nos próximos anos (na Editora Autêntica, de Belo Horizonte), o mês de Outubro será tempo de presença intensa e múltipla de Llansol em várias cidades e universidades do Brasil.
Os diários – Um Falcão no Punho, Finita e Inquérito às Quatro Confidências – serão publicados numa caixa, acompanhados de três entrevistas de M. G. Llansol, duas das quais inéditas em livro, e terão lançamentos no Rio de Janeiro (20 de Outubro) e em Belo Horizonte (21 de Outubro). Ao mesmo tempo, três universidades brasileiras organizarão colóquios em torno da Obra de Llansol, ou com comunicações sobre ela:
– em 14 de Outubro, na Universidade Federal de Minas Gerais («A cura da literatura. Breve encontro da psicanálise com o texto de Maria Gabriela Llansol»);
– em 18 de Outubro, na Universidade Federal Fluminense, em Niterói («Um dia de fulgor. Colóquio Internacional Maria Gabriela Llansol»); em 17 e 19 de Outubro, na mesma universidade, conferências de Maria Etelvina Santos («O espólio de M. G. Llansol») e João Barrento («Llansol e a questão da poesia»). Sobre estes eventos em Niterói, ver toda a informação aqui.
– em 26 de Outubro, no I Congresso da Pósgraduação em Letras da Universidade Estadual de São Paulo (São José do Rio Preto), Maria Etelvina Santos falará sobre «A insustentável manifestação do Ver: fronteiras e limites do visível em M. G. Llansol» (toda a informação sobre o Congresso aqui).
Está ainda prevista a publicação, por uma editora brasileira, de um volume sobre a Obra de Llansol (Partilha do Incomum. Ensaios com Maria Gabriela Llansol), organizado por Maria Carolina Fenati, com colaboração portuguesa e brasileira.