28.12.19

LIGAÇÕES:
Llansol e(m) Gonçalo M. Tavares

Este e os últimos anos foram pródigos em edições estrangeiras do pequeno livro de Gonçalo M. Tavares que assimila à sua própria escrita a de Maria Gabriela Llansol: as Breves Notas sobre as Ligações (Llansol, Molder e Zambrano), que teve uma primeira edição portuguesa na Relógio d'Água em 2009. 
Aí escreve o autor, na sequência da frase de Llansol que lhe serve de título («A arte de fazer perigar os corpos»): «Ser amigo das minhas decisões, eis a dificuldade. Fazer amizade com a sucessão dos meus sins e dos meus nãos. [...] Esta coisa que é sempre igual varia muito.» Ou então, muito llansolianamente: «A arte de multiplicar a unidade mantendo-a una.»

A lista das edições estrangeiras é longa, como nos informa o próprio autor:
2009 - Design Editora (Brasil)
2010 - Editora Regional de Extremadura (Espanha, castelhano)
           Editota Aldus (México)
2013 - Editora Letranómada (Argentina)
           Paradiso Editores (Ecuador)
2016 - Ediciones Uniandes (Colômbia)
           Edicions del Periscopi (Barcelona, catalão)
2018 - Urogallo (Itália)
           Wydawnictwo (Polónia)
           Scoala Ardeleana (Roménia)
           Xordica (Espanha)
2019 - Quantum Prose (USA)
           Chile
           Colmena Editores (Peru)

23.12.19

LLANSOL E EDUARDO PRADO COELHO
no «Nada será como Dante»

No passado dia 17 de Dezembro, o programa de Pedro Lamares e Filipa Leal na RTP2, «Nada será como Dante» destacou a recente edição do Espaço Llansol/Mariposa Azual que documenta a relação entre M. G. Llansol e Eduardo Prado Coelho ao longo de três décadas. Os comentários foram feitos por João Barrento.
Pedro Lamares e Filipa Leal apresentam Llansol e Prado Coelho
O programa pode ainda ver-se aqui: https://www.rtp.pt/play/p6188/e445417/nada-sera-como-dante

15.12.19

O REGRESSO DO  «AMOR ÍMPAR»

A Obra de Maria Gabriela Llansol é atravessada por uma vibração manifesta ou discretamente erótica, que pode dar por nomes tão diversos como o «luar libidinal» ou o «sexo da paisagem», a «sensualética» ou o próprio «corp' a 'screver». Mas talvez o ponto alto da «alquimia do encontro» nesta Obra esteja na noção de «amor ímpar», que constitui o cerne do livro Contos do Mal Errante. Deste livro e daquela noção se falou no passado dia 13 no Espaço Llansol, contra o pano de fundo, também comentado, das «errâncias do mal» no reino dos Anabaptistas da cidade de Münster entre 1534 e 1536, que, com o espaço mais vibrante da «mansão da neve» e seu jardim, fornece a Llansol o lugar de «acção» dos Contos que o não são (antes «confidências envoltas», como explicou na altura Maria Etelvina Santos).
 O pretexto para voltarmos a esta matéria foi uma vez mais a visita de um grupo de cerca de trinta alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema, que, com a professora Maria Duarte, trabalham neste semestre esse livro de Maria Gabriela Llansol (como já antes fizeram com O Começo de Um Livro é Precioso).
 João Barrento e Maria Etelvina Santos enquadraram o livro nestas e noutras perspectivas, e os estudantes, com as professoras Maria Duarte e Patrícia Portela, animaram com as suas questões e discussões uma manhã de «amplitude ilimitada», como diria Llansol.

8.12.19

A ESCOLA QUE ERA UMA CASA

Da sessão de ontem, em que apresentámos a nossa edição mais recente da colecção «Rio da Escrita, que documenta a experiência das Escolas fundadas por Llansol e Augusto Joaquim em Lovaina nos anos setenta, retemos o excepcional comentário de Pascal Paulus (do Movimento da Escola Moderna, e que já se movia neste meio nesses anos em Lovaina) e a intervenção esclarecedora de Albertina Pena sobre os materiais do espólio de Llansol que documentam abundantemente esse projecto, com textos escritos e centenas de slides, fotografias, trabalhos de alunos, e sobre o modo de funcionamento dessa «comunidade incomum», des-hierarquizada e experimental, no sentido mais autêntico e criador do termo. 
 João Barrento com Pascal Paulus e Albertina Pena

Disso dá conta uma sugestiva anotação, que transcrevemos no livro, do «Caderno das Escolas» do espólio de Llansol, onde, ao longo dos anos de 1976-77, vai registando a sua «Observação participativa» dessa experiência pedagógica que durou uma década:

30 de Novembro de 1976
Na rua de Namur éramos uma Escola inteligente, mas a nossa opção era híbrida. Havia causerie [conversas] perfeitamente adaptada a seus fins: confrontação do corpo, ora com uma explosão ora com uma economia de movimentos.
Abertura do caminho de acesso a vários planos e realidades simbólicos, o que permitia deslocações e reajustamento da vida emotiva das crianças, e consequentemente uma maior mobilidade psíquica.
Havia longas horas em que crianças e adultos desenhavam a brincar como amigos que jogando descobrem que deram seus passos e estão agora um pouco mais além.
(Caderno 2.08, pp. 18-19)

As imagens que se seguem, e que foram integradas no livro, darão uma imagem do quotidiano da escola intencionalmente chamada «La Maison», «uma casa-escola que pretende funcionar como uma contra-escola» (Albertina Pena no prefácio), um lugar de formação integral e de vida plena, muito para além dos modelos de «instrução» da escola convencional e oficial.