22.10.17

UMA PORTA ENTREABERTA


Nas últimas Jornadas Llansolianas, em que evocámos os quarenta anos d' O Livro das Comunidades, tivemos o prazer de receber o poeta de Barcelona José Ángel Cilleruelo, que fez uma original reflexão poética a partir de escrita própria suscitada pela sua leitura de Maria Gabriela Llansol neste último ano. O resultado dessa verdadeira descoberta de uma «escrevente» que, segundo o poeta, tem lugar assegurado na história da literatura do século XX, foi um livro que nos trouxe (e que pode ser pedido ao Espaço Llansol [€ 8,00]), um belo conjunto de fragmentos poéticos – ou poemas em prosa fragmentários – que resultaram numa original e fascinante imitatio llansoliana. O título – Cruzar la puerta que quedó entornada [Atravessar a porta que ficou entreaberta] (Madrid, Editorial Polibea, na colecção de poesia «el levitador») – sugere, no seu registo enigmárico e ao mesmo tempo quotidiano, um primeiro olhar lançado a este universo tão particular que é o de M. G. Llansol, e que João Barrento, na introdução ao livro, relaciona nestes termos com o poeta catalão: 
«Estamos perante um Texto de uma singularidade radical, sem encenações, com o qual um dia – com surpresa, mas sem espanto – se encontrou a escrita multiforme e livre de José Ángel Cilleruelo. E constatamos que existe entre os dois uma espécie de entrosamento natural, uma simbiose de palavra e de mundos que mutuamente se respondem. Em particular numa mesma capacidade de levar as palavras até às raízes de um quotidiano que a imaginação – visual e activa, criadora – reflecte e transforma, fazendo 'acontecer' o mundo aparentemente estático e indiferente. Não interpretando-o, mas prolongando-o, quase sem costuras nem cesuras. Numa tapeçaria a quatro mãos, numa 'charla' cuja matéria e alimento é o pormenor revelador e revelado na palavra nova, e cujo instrumento maior é a atenção. Numa dupla, e tantas vezes convergente, 'biografia de olhares'».

Deixamos aqui, no original, dois fragmentos do livro, da secção «Biografia de la mirada»:




17.10.17

AS NONAS JORNADAS LLANSOLIANAS
em retrospectiva


Com um espectro de intervenções que não se poderia imaginar mais diverso e mais iluminante desse livro inaugural que foi O Livro das Comunidades, decorreram no passado fim de semana, na Biblioteca/ Espaço Cultural Cinema Europa, em Campo de Ourique, as IX Jornadas Llansolianas, desta vez totalmente dedicadas à evocação dos quarenta anos de vida desse livro de Maria Gabriela Llansol.
Pudemos de facto ouvir leituras e releituras d' O Livro das Comunidades em registos mais poéticos ou mais analíticos, de imitatio recriadora ou de leitura visual, de retrospectiva translatória ou de antecipação teatral – pelas vozes da escritora Hélia Correia ou do poeta de Barcelona José Ángel Cilleruelo, de estudiosos da Obra de Llansol como Silvina Rodrigues Lopes, Maria Etelvina Santos ou João Barrento, do pintor Pedro Proença, grande transmutador visual deste Texto, do tradutor de Madrid Mario Grande (aquele que mais livros de Llansol traduziu até hoje, com Mercedes Cuesta, do colectivo «Atalaire») ou do director artístico do Ponto Teatro (do Porto), Emanuel de Sousa, que projecta pôr em cena uma «Trilogia do Lugar» (entre heterotopias e heterocronias), a partir da «Geografia de Rebeldes» llansoliana.
O Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Dr. Pedro Cegonho, abriu a sessão de sábado à tarde, destacando o significado da presença do Espaço Llansol neste bairro de Lisboa, ao lado da Casa Fernando Pessoa, e anunciando o desejo de incrementar a rede de pólos literários em toda a zona de Campo de Ourique.
As leituras de excertos de Maria Gabriela Llansol em que a autora dá testemunho da sua ligação particular a este livro (pelas estudantes de teatro da ESAD das Caldas da Rainha, Jéssica Lopes e Mariana Marques) encerraram esta nona edição das Jornadas, permitindo a quem as ouviu perceber melhor como poucas vezes um livro terá sido visto pelo seu autor, ao longo de toda uma vida, como tão inequivocamente inaugural e seminal. O Livro das Comunidades estava de facto destinado a ser, na Obra de Llansol, «o livro dos poderes do livro», um dos subtítulos para ele previstos inicialmente. Na verdade, e contra o que é mais habitual, este livro iria assumir um lugar determinante como paradigma de uma escrita e de um lugar no mundo que haveria de marcar toda uma linhagem de livros e figuras, como «ponto de partida de uma espiral» cujas circunvoluções, ao longo de quase quarenta anos de escrita, acabariam por lançar um arco que une princípio e fim, O Livro das Comunidades (1977, mas já concebido a partir de 1971) e Os Cantores de Leitura (2007), como a própria autora reconhece, já em 2005, ao «sonhar» como «seria bom que cada simples recito [do seu último livro] se iniciasse com as primeiras palavras de cada Lugar d' O Livro das Comunidades. Ou, mais inequivocamente ainda, ao assinalar, no contexto de um primeiro «encontro de estudos» (que, em 2001, haveria de constituir a célula fundadora do Espaço Llansol), aquele livro como «o livro fonte da minha escrita e do meu lugar no mundo», e como «passo irreversível» que haveria de marcar o universo e o gesto escritural de toda uma Obra.
Clique no video que se segue para ver uma sequência fotográfica destas Jornadas:


9.10.17

IX JORNADAS LLANSOLIANAS:
40 ANOS D' O LIVRO DAS COMUNIDADES

Depois dos intensos quatro dias do Festival Silêncio, com Maria Gabriela Llansol em grande destaque, podemos anunciar as IX Jornadas Llansolianas, que este ano evocam os quarenta anos da publicação d' O Livro das Comunidades, visto neste fragmento por M. G. Llansol como o seu «livro-fonte»:
«O Livro das Comunidades é o ponto de partida de uma espiral; viria também a tornar-se o início de uma multidão de seres escritos (humanos e não humanos)… Não é um livro como os outros, é um livro-fonte; o seu começo leva-me a uma paisagem nocturna em que a água é uma claridade que já é madrugada… Não consigo crer que tenha sido escrito por mim, de tal modo me parece autónomo na sua toada e dizeres. Não se trata aí de secretar não importa que mundo imaginário identificado com a irrealidade. A imaginação a que me refiro faz conhecer. É a criação de um tecido de singularidades.»




As Jornadas deste ano realizam-se – em 14 e 15 de Outubro – pela primeira vez em Lisboa, no Espaço Cultural do antigo Cinema Europa, em Campo de Ourique (Rua Francisco Metrass, 28), não muito longe do novo Espaço Llansol, a casa que mudámos e preparámos nos meses de Julho e Agosto, e por isso ela se chamará assim a partir de agora: a «Casa de Julho e Agosto». Poderá ser visitada num dos dias das Jornadas, com inscrição prévia.
Teremos entre nós este ano, para além de membros e amigos do Espaço Llansol, o poeta de Barcelona José Ángel Cilleruelo, os tradutores de Madrid Mario Grande e Mercedes Cuesta, o actor e encenador do Porto Emanuel de Sousa, o pintor Pedro Proença… E esperamos encontrar nesses dias, agora em Lisboa, muitos dos que nos têm acompanhado nestes anos.

7.10.17

LLANSOL NO MIRA FORUM DO PORTO:
O QUE SE DISSE E LEU

Manuela Matos Monteiro e João Barrento

João Barrento e Maria Etelvina Santos

Emanuel Sousa e Daniela Gonçalves (do Ponto Teatro)

Como já antes noticiámos, estivemos no passado dia 23 de Setembro no espaço cultural Mira Forum, no Porto, a falar de Maria Gabriela Llansol. As intervenções de João Barrento e Maria Etelvina Santos, e as leituras pelos actores Emanuel Sousa e Daniela Gonçalves estão agora disponíveis no You Tube.

Pode ver e ouvir toda a sessão aqui: