
(Clique na imagem para aumentar)

O projecto prevê a digitalização, organização em arquivo digital, descrição física e de conteúdo, organização de índices e subsequente transcrição do conjunto de setenta cadernos de reflexões e anotações, organizados cronologicamente e com registos que cobrem o período de 1974 até hoje. Este conjunto de cadernos vai sendo preenchido, durante estes anos, com anotações de natureza múltipla e híbrida, desde a entrada de diário até reflexões mais longas sobre os temas e assuntos que alimentam os livros da Autora, sínteses ou notas de leitura, registos literários de experiências, imagens, conversas que acompanham os dias.


O olhar narcísico de Vera Mantero perturba, ao pretender «encenar» o Texto, recriando a figura da «mulher que não queria ter filhos de seu ventre» (O Livro das Comunidades, p. 11), mas com isso a fazer-se «centro de cena», impondo à Voz textual a sua própria voz — um narcisismo análogo ao que se viu na encenação recente, por André E. Teodósio, da ópera Metanoite, baseada no texto de Llansol, com libreto de João Barrento e música de João Madureira. O olhar documental de Miguel Gonçalves Mendes aproxima-se do Texto de forma mais contida, guardando uma distância que o deixa respirar no seu mistério e expressividade imensos, sem contudo se deixar enlevar pelo seu Lugar – ou seja, o que sobressai é o exercício de montagem e de manipulação de uma matéria fílmica belíssima, particularmente quando já a conhecemos do filme anterior, assinado por Mantero.
A paisagem de vento, as árvores, a folhagem, a casa, o interior da casa, os corpos em movimento, os gestos da escrita e da leitura, o corpo a correr, o corpo disperso por corpos-outros, o fogo e a água: estes são alguns dos elementos dos filmes que se associam ao Texto de Maria Gabriela Llansol como uma sua ilustração mimética. Este mimetismo do Texto é o que dá às imagens dos filmes a sua força expressiva, e nesse sentido elas são felizes, concretizam as dobras do Texto, a sua pluralidade de vozes e de corpos movendo-se e relacionando-se, sem querer saber para-onde. Alguns momentos são especialmente fortes e belos no dar-corpo de imagem visual ao Texto e à Imagem de que este é capaz: as crianças a escrever «em fúria»; a corrida no bosque; os corpos pendurados na árvore; a mão-que-escreve; o fogo sobre as águas correndo…
2.